Líder do Hezbollah diz que morte de civis é “linha vermelha” e que Israel “pagará com sangue” cada mulher e criança mortos
Hassan Nasrallah, secretário-geral do movimento xiita libanês Hezbollah
Marwan Naamani / Getty Images
Hassan Nasrallah acusou Israel, esta sexta-feira, de matar civis “de forma deliberada” no sul do Líbano. Num discurso de homenagem a três figuras do Hezbollah “martirizadas” por agentes “sionistas”, o chefe do grupo xiita libanês defendeu que a posição dos Estados Unidos relativamente à guerra na Faixa de Gaza é “a maior hipocrisia que o mundo hoje testemunha”
O Hezbollah assinalou, esta sexta-feira, o aniversário do “martírio” de três altos responsáveis, todos assassinados por Israel. A ocasião foi aproveitada pelo líder do grupo radical islâmico, Hassan Nasrallah, para recordar que o “inimigo sionista” continua a ser um alvo.
“O nosso objetivo é impor ao inimigo as maiores perdas materiais e humanas possíveis, obrigando-o a admitir a derrota e a retirar-se”, disse o secretário-geral da organização xiita libanesa, num discurso transmitido pela televisão do grupo, Al-Manar. A sua intervenção coincidiu com uma escalada na fronteira entre Israel e o Líbano, que viveu o seu dia mais sangrento na quarta-feira, com onze civis mortos, incluindo cinco crianças, provocados por bombardeamentos israelitas.
Mortes civis são “linha vermelha”
Nasrallah defendeu que Telavive poderia ter evitado matar civis, qualificou o massacre como ato “deliberado” e fez um aviso: “Não toleramos absolutamente nenhum dano aos civis e é imperativo que o inimigo perceba que ultrapassou a linha vermelha a este respeito”, disse. “Quando se trata de vítimas civis, esta questão é particularmente sensível e está presente desde o início da resistência.”
“O inimigo pagará com sangue” por cada mulher e criança morta nas hostilidades ao longo da fronteira, promete Nasrallah.“A resistência libanesa possui mísseis poderosos e precisos que permitem um alcance desde Kiryat Shmona [no norte de Israel] até Eilat”, na costa israelita do Mar Vermelho, no sul.
Desde o início da guerra entre Israel e o Hamas, na Faixa de Gaza, que dura há mais de quatro meses, a fronteira israelo-libanea tem sido uma frente paralela, com vítimas ocasionais dos dois lados. No dia seguinte à chacina, o Hezbollah disparou dezenas de foguetes contra Kiryat Shmona, no que considerou ser “uma resposta preliminar”.
Hipocrisia americana
O secretário-geral do Hezbollah não isentou de responsabilidades os Estados Unidos, o grande aliado de Israel, no banho de sangue que se vive em Gaza. “A Administração americana é responsável por cada gota de sangue derramada na região”, disse. “Os fundos, armas, mísseis e projéteis de artilharia israelitas vêm atualmente de Washington. Se os Estados Unidos interromperem a ponte aérea para Israel, a agressão contra Gaza cessará.”
“A maior hipocrisia que o mundo hoje testemunha é a posição da Administração americana sobre os acontecimentos em Gaza.”
Nasrallah defendeu que perante os “esquemas americanos e sionistas” na região, só restam duas opções: “a resistência ou a rendição”. E fez a sua escolha: “Em memória dos nossos líderes martirizados, reafirmamos a eficácia da resistência popular como uma opção viável.”
Quem são os três mártires?
Os “mártires” homenageados por Nasrallah, nesta intervenção, foram todos mortos por Israel, na mesma semana, em anos diferentes. O clérigo xiita Ragheb Harb, um dos fundadores do Hezbollah, foi assassinado por libaneses colaboradores de Israel, a 16 de fevereiro de 1984.
O antigo secretário-geral do Hezbollah Abbas al-Mousawi foi morto, com a mulher e um filho, num ataque aéreo israelita contra a escolta em que seguia, a caminho de uma cerimónia de aniversário da morte de Ragheb Harb, a 16 de fevereiro de 1992. E o comandante militar Imad Moghniyeh foi abatido a 12 de fevereiro de 2008, após um ataque com um carro armadilhado atribuído aos serviços secretos israelitas (Mossad).
Todas estas mortes justificam o propósito maior de Nasrallah no combate a que se propõe. “Hoje, em Gaza, na Cisjordânia, no sul do Líbano, no Iémen, na Síria, no Irão e em toda a região, nunca devemos perder de vista a verdade sobre os custos da resistência e os custos da rendição”, concluiu. “O custo da rendição é elevado, perigoso, excessivamente alto e extremamente importante. A rendição no Líbano implicaria o domínio político e económico israelita sobre a nossa nação.”