Um tribunal iraniano condenou um jovem par a mais de dez anos de prisão por dançar junto a um dos principais monumentos de Teerão, num vídeo considerado um símbolo de desafio ao regime, indicaram esta terça-feira ativistas dos direitos humanos.
Astiyazh Haghighi e o namorado, Amir Mohammad Ahmadi, ambos de 20 anos, foram detidos em novembro, depois de um vídeo seu a dançar romanticamente em frente à torre Azadi, na capital iraniana, se ter tornado viral nas redes sociais.
A rapariga não envergava o véu islâmico, desafiando as rígidas normas de vestuário impostas pela República Islâmica às mulheres, que também não são autorizadas a dançar em público no Irão, muito menos com um homem.
Um tribunal revolucionário de Teerão condenou-os a dez anos e meio de prisão, bem como à proibição de utilizar a Internet e de sair do Irão, indicou a organização não-governamental (ONG) Human Rights Activists News Agency (HRANA), com sede nos Estados Unidos.
Popular na rede social Instagram, o par foi considerado culpado de "incentivar à corrupção e à prostituição pública" e também de "reunião com intenção de perturbar a segurança nacional", acrescentou a ONG.
Citando fontes próximas das respetivas famílias, a HRANA indicou que eles foram privados de advogados durante o processo judicial e que as tentativas de obter a sua libertação sob fiança foram rejeitadas.
A ONG referiu, ainda, que Astiyazh Haghighi se encontra na célebre prisão feminina de Qarchak, cujas condições de encarceramento são regularmente condenadas pelos ativistas de direitos humanos.
As autoridades iranianas têm reprimido severamente qualquer forma de dissidência desde a morte da jovem curda iraniana de 22 anos Mahsa Amini, a 16 de setembro do ano passado, às mãos da chamada polícia da moralidade.
Embora usasse o 'hijab' (véu islâmico), este deixava entrever parte do seu cabelo, o que lhe valeu ser fortemente agredida na rua em Teerão e detida a 13 de setembro, sendo no mesmo dia transportada em coma para um hospital onde morreria três dias depois, desencadeando uma onda de protestos contra o regime.
Pelo menos 14.000 pessoas foram detidas desde então, segundo as Nações Unidas, incluindo celebridades, jornalistas, advogados ou simples cidadãos. O vídeo do jovem par foi aclamado como um símbolo das liberdades reivindicadas pelo movimento de contestação.
Uma das principais atrações turísticas da capital iraniana, a gigantesca e futurista torre Azadi ("liberdade") é um local sensível para o poder. Foi inaugurada durante o reinado do último xá do Irão, Mohammed Reza Pahlavi (1941-1979), no início dos anos 1970, e era então conhecida como torre Shayad ("em memória do xá"). Foi rebatizada em 1979, quando foi fundada a República Islâmica no país.
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