Isabel II

Entre os escândalos e a filantropia: um perfil de Carlos III, que chega ao trono britânico após a mais longa espera

Isabel II e o príncipe Carlos, em 1972
Isabel II e o príncipe Carlos, em 1972
Reg Lancaster

O príncipe Carlos é o herdeiro que mais esperou pelo trono em toda a história britânica: estava nessa situação desde os três anos de idade, quando a mãe se tornou rainha, em 1952. Após a morte de Isabel II, sucede-lhe automaticamente, enquanto monarca do Reino Unido e de 14 países da Commonwealth. Mas, com 73 anos, já muitas foram as controvérsias e as histórias que pontuaram o seu percurso. Este é o perfil de um rei

Com a morte de Isabel II, o príncipe Carlos, primeiro na linha de sucessão, torna-se rei, após a mais longa espera na história da monarquia britânica. De acordo com o jornal “The Guardian”, Carlos, de 73 anos, nunca quis pensar no trono, porque isso significaria a morte da sua mãe. Desde 1952, quando tinha três anos, teve a vida definida pelo papel de herdeiro - agora, tornar-se-á monarca do Reino Unido e de 14 dos 56 países da Commonwealth, que incluem o Canadá e a Austrália.

Que esperar do seu reinado? Carlos seguirá os discretos mas firmes passos da mãe ou será publicamente mais convicto quanto às causas que apoia? Que rei será aquele que chega ao trono na idade em que muitos monarcas se retiram? Como vai resolver a tensão entre uma monarquia tradicional e a vontade de a modernizar, numa sociedade em rápida mudança?

Carlos Philip Arthur George, príncipe de Gales e conde de Chester, duque da Cornualha, duque de Rothesay, conde de Carrick e Barão Renfrew, Senhor das Ilhas, e Príncipe e Grande Administrador da Escócia, nasceu a 14 de novembro de 1948, no Palácio de Buckingham, em Londres, filho mais velho da rainha Isabel II e do príncipe Filipe, duque de Edimburgo.

Toda a sua vida foi marcada pelo escrutínio público. Ao contrário dos antecessores, cuja educação ficou a cargo de tutores privados, o pequeno herdeiro ingressou no Trinity College, em Cambridge, em 1967, onde estudou estudou Arqueologia, Antropologia e História. Seguiu-se um período na Universidade de Gales, onde aprendeu galês para se preparar para a investidura como príncipe de Gales, a 1 de julho de 1969, no Castelo de Caernarvon. Chegou a frequentar o Royal Air Force College, onde aprimorou as suas qualidades de aviador, e o Royal Naval College, em Dartmouth. Em 1971, embarcou numa viagem de serviço com a Marinha Real britânica.

O casamento com Diana Spencer

Apesar da diferença de idades e de terem interesses divergentes - fatores apontados pela imprensa britânica naquela época -, Carlos e Lady Diana Spencer, que se tinham conhecido nos anos 70, ficaram noivos em fevereiro de 1981. O público apreciou a escolha da noiva: antiga educadora de infância, tímida mas acessível. Os dois casaram-se a 29 de julho de 1981, numa cerimónia faustosa que foi transmitida para todo o mundo e vista por milhões de pessoas.

Carlos e Diana tiveram dois filhos: o mais velho, o príncipe William Arthur Philip Louis, nasceu a 21 de junho de 1982, e o segundo, o príncipe Henry “Harry” Carlos Albert David, nasceu a 15 de setembro de 1984. Mas o casamento tornou-se tenso ao longo dos anos, com o casal a debater.se com as responsabilidades reais, conflitos pessoais, pressões dos média e infidelidades.

Carlos terá reatado o relacionamento com a ex-namorada Camilla Parker Bowles enquanto ainda era casado com Diana. O casal separou-se oficialmente em 1992, um dos acontecimentos que levaram Isabel II a dizer: “1992 não é um ano para o qual possa olhar com especial prazer. Nas palavras de um dos meus correspondentes mais queridos, acabou por ser um ‘annus horribilis’”.

Diana, princesa de Gales, morreu num acidente de carro, em Paris, em agosto de 1997, cerca de um ano após o divórcio. Carlos viajou, então, com as irmãs para França, para acompanhar o corpo de volta a Inglaterra. Durante o cortejo fúnebre, o príncipe caminhou com os filhos – William, então com 15 anos, e Harry, com 12 – e o irmão de Diana, o conde Spencer.

AFP

Uma história em muitos capítulos: Camilla Parker Bowles

Depois de anos a manter o relacionamento em segredo, o príncipe Carlos casou-se com Camilla Parker Bowles a 9 de abril de 2005. Camilla tornou-se duquesa da Cornualha, passando a acompanhar frequentemente o marido em muitas visitas oficiais. Em sinal de respeito por Diana, não usou o título de princesa de Gales, a que tem direito.

Além dos seus deveres reais, Carlos tornou-se filantropo. Além do Princes Trust [instituição solidária fundada em 1976 por Carlos, para ajudar jovens em situações vulneráveis], dedicou-se a apoiar uma grande variedade de organizações de solidariedade, nas áreas da educação artística, negócios sustentáveis, oferta de emprego a cidadãos mais velhos e, sobretudo, de cariz ambiental.

Em 2007, Carlos lançou o Princes Rainforest Project, uma iniciativa à escala mundial que recolhe apoios de empresas e figuras públicas para reduzir a desflorestação tropical e, assim, ajudar a estancar as alterações climáticas. Piscando o olho à causa da diversidade religiosa e à natureza multicultural de um novo Reino Unido, Carlos prometeu uma coroação multirreligiosa se ou quando assumisse o trono.

Além do trabalho filantrópico, o príncipe Carlos também já publicou vários livros, incluindo a história infantil de 1980 “The Old Man of Lochnagar” [“O Velho de Lochnagar”], “Harmony: A New Way of Looking at Our World” [“Harmonia: uma nova forma de olhar o mundo”], de 2010, e “The Princes Speech: On the Future of the Food” [“O discurso do príncipe: sobre o futuro da comida”], de 2012.

Paradise Papers

Em novembro de 2017, 13,4 milhões de arquivos eletrónicos conhecidos como Paradise Papers revelavam que Carlos estava entre as muitas figuras mundiais que possuíam investimentos offshore - neste caso, nas Bermudas. Os relatórios tornados públicos indicavam que, em 2007, o príncipe tinha feito campanhas para alterar as políticas ambientais à escala global, permitindo a troca de créditos de carbono de florestas húmidas e sem revelar que beneficiava financeiramente com essas ações. Carlos recusou as acusações, dizendo não ter tido um envolvimento direto na criação da conta offshore. O porta-voz do príncipe acrescentou que Carlos paga voluntariamente os impostos que são devidos.

Em abril de 2018, a rainha Isabel II determinou que o príncipe Carlos lhe sucedesse como líder da Commonwealth. “É meu desejo sincero que a Commonwealth continue a oferecer estabilidade e continuidade às gerações futuras e decida que um dia o príncipe de Gales continue o importante trabalho iniciado pelo meu pai em 1949”, disse então. Agora, imediatamente após a morte da rainha, Carlos assume a designação real de Carlos III. Na imprensa britânica, a pergunta repete-se: com que linhas se coserá este reinado?

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