Sozinho, encostado à parede do corredor vazio do hospital de Chernihiv, ali estava Denys.
Dezanove anos, corpo franzino. Tinha o rosto pesado mas não pela idade.
Passava os dias entre aquelas duas portas, a da enfermaria feminina, onde estava a mãe, e a masculina, onde estava o pai.
Entro no quarto e recuo ligeiramente.
Tantas corpos já tínhamos visto, tantas valas comuns, tanto dor e angústia mas, aquela, era a primeira imagem de uma dor em carne viva. Uma perna cravejada, dilacerada. As enfermeiras trabalhavam com quase nada.
Faltavam analgésicos, antibióticos, anti-inflatórios, faltava quase tudo num hospital várias vezes bombardeado. Quase tudo, à excepção de uma coragem de dentes cerrados. Naquele quarto cheio de feridos de guerra não se ouvia nem “ai nem ui”.
O pai e a mãe de Denys deitaram-se sobre o corpo do filho perante um ataque de mísseis russos. Salvaram-lhe a vida e ele salvou a vida ao pai ao atar-lhe um garrote à perna.
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