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Um ano de guerra na Ucrânia

Kiev: os corajosos ficam, os corajosos fogem. Cobarde, só a guerra

Kiev: os corajosos ficam, os corajosos fogem. Cobarde, só a guerra
Ana Peneda Moreira
Na perna do filho de 20 anos, já cadáver, a mãe escreveu-lhe o nome e um número de telefone: “Enterrem o meu filho e digam-me onde”. A família, que tinha fugido em 2014 da guerra no Donbas, foi apanhada pela guerra nos arredores de Kiev. “Fugir ou ficar? Como seria se fosse comigo, com os meus?”. Esta é uma das crónicas de enviados da SIC à Ucrânia que publicamos ao longo desta semana, em que se cumpre um ano de guerra: Ana Peneda Moreira estava em Kiev quando a guerra começou

Ana Peneda Moreira, jornalista da SIC

Sozinho, encostado à parede do corredor vazio do hospital de Chernihiv, ali estava Denys.

Dezanove anos, corpo franzino. Tinha o rosto pesado mas não pela idade.

Passava os dias entre aquelas duas portas, a da enfermaria feminina, onde estava a mãe, e a masculina, onde estava o pai.

Entro no quarto e recuo ligeiramente.

Tantas corpos já tínhamos visto, tantas valas comuns, tanto dor e angústia mas, aquela, era a primeira imagem de uma dor em carne viva. Uma perna cravejada, dilacerada. As enfermeiras trabalhavam com quase nada.

Faltavam analgésicos, antibióticos, anti-inflatórios, faltava quase tudo num hospital várias vezes bombardeado. Quase tudo, à excepção de uma coragem de dentes cerrados. Naquele quarto cheio de feridos de guerra não se ouvia nem “ai nem ui”.

O pai e a mãe de Denys deitaram-se sobre o corpo do filho perante um ataque de mísseis russos. Salvaram-lhe a vida e ele salvou a vida ao pai ao atar-lhe um garrote à perna.

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