Guerra na Ucrânia

NATO quer discutir com Trump laços entre Rússia e Coreia do Norte, Zelensky confirma baixas de norte-coreanos em Kursk: 988.º dia de guerra

Presidente ucraniano em conferência de imprensa após cimeira da Comunidade Política Europeia
Presidente ucraniano em conferência de imprensa após cimeira da Comunidade Política Europeia
NurPhoto

Mark Rutte diz que, com os militares norte-coreanos na Rússia, é visível que “a Coreia do Norte, o Irão, a China e, claro, a Rússia estão a colaborar e a trabalhar em conjunto contra a Ucrânia”. União Europeia, Estados Unidos e Coreia do Sul garantem “resposta coordenada” à presença norte-coreana, enquanto o Presidente ucraniano afirma que estes militares já sofreram as primeiras baixas em combate. Eis o resumo do que se passou nesta quinta-feira

O secretário-geral da NATO anunciou querer discutir com o Presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, o reforço de laços da Rússia com a Coreia do Norte, o Irão e a China contra a Ucrânia. “Estou ansioso por me sentar com o Presidente Trump e ver como vamos fazer para enfrentar conjuntamente esta ameaça”, disse Mark Rutte à chegada à cimeira da Comunidade Política Europeia, que reúne cerca de 40 líderes em Budapeste. “Agora que os [militares] norte-coreanos estão destacados na Rússia, vemos que cada vez mais a Coreia do Norte, o Irão, a China e, claro, a Rússia estão a colaborar e a trabalhar em conjunto contra a Ucrânia”, acrescentou.

A diplomacia dos Estados Unidos, da União Europeia (UE), da Coreia do Sul e da Austrália advertiram para uma “perigosa expansão do conflito” caso tropas norte-coreanas apoiem a Rússia na Ucrânia, garantindo ainda uma “resposta coordenada”. O envio de tropas da Coreia do Norte para a Rússia e a potencial utilização no campo de batalha contra a Ucrânia merece “graves preocupações” por parte dos ministros dos Negócios Estrangeiros da Austrália, Canadá, França, Alemanha, Itália, Japão, Coreia do Sul, Nova Zelândia, Reino Unido, Estados Unidos e do chefe da diplomacia da UE.

No mesmo sentido, França anunciou que convocou o delegado-geral da Coreia do Norte para protestar contra o apoio norte-coreano à Rússia. “Seguindo o exemplo de outros países europeus, a França convocou o delegado-geral da Coreia do Norte a 28 de outubro, a quem deixámos bem claro que esse apoio não ficaria sem resposta”, declarou o porta-voz Christophe Lemoine, sem especificar que resposta poderia ser dada.

O Presidente da Coreia do Sul, Yoon Suk-Yeol, disse que o país não exclui a possibilidade de entregar armas diretamente à Ucrânia, num eventual ajustamento da política de Seul neste domínio. A decisão foi anunciada na sequência de informações que dão conta do possível envolvimento de soldados da Coreia do Norte na guerra. “Dependendo do nível de envolvimento norte-coreano, ajustaremos gradualmente a nossa estratégia de apoio em várias fases. Isto significa que não estamos a excluir a possibilidade de fornecer armas”, declarou o chefe de Estado.

O Presidente da Ucrânia afirmou que as tropas norte-coreanas que combatem ao lado da Rússia contra as forças ucranianas na região fronteiriça russa de Kursk já sofreram as primeiras baixas em combate. “Sim, já houve perdas. É um facto”, disse Volodymyr Zelensky em Budapeste.

Outras notícias do dia:

⇒ O chefe do Conselho de Segurança russo, Sergei Shoigu, defendeu que o Ocidente deve promover negociações para evitar a “destruição do povo ucraniano”. “Agora que a situação não é favorável ao regime de Kiev, o Ocidente tem uma escolha: continuar o financiamento [à Ucrânia] e a destruição do povo ucraniano ou admitir as realidades existentes e começar a negociar”, disse Shoigu, numa reunião de oficiais de segurança dos países vizinhos da Rússia.

⇒ Pouco depois das declarações de Shoigu, o Presidente ucraniano avisou que qualquer cedência do país ao líder russo, Vladimir Putin, será inaceitável. Num discurso perante líderes europeus reunidos em Budapeste, Zelensky sustentou que fazer “concessões a Putin” será “inaceitável para a Ucrânia e inaceitável para toda a Europa”. O líder ucraniano apelou para que os Estados Unidos e a Europa sejam fortes e valorizem as suas relações, ainda que a eleição de Trump lance incerteza sobre os laços de Washington com os aliados e o apoio à Ucrânia.

⇒ Ataques russos que atingiram edifícios residenciais e um hospital em Zaporíjia, no sul da Ucrânia, causaram quatro mortos e 18 feridos, anunciou o governador regional, Ivan Fedorov. “As equipas de salvamento retiraram dos escombros duas crianças e uma mulher feridas”, acrescentaram os serviços de emergência ucranianos.

⇒ As forças russas lançaram um ataque massivo com drones kamikaze Shahed e outros modelos que tinham as cidades de Kiev e Odessa entre os principais objetivos, segundo as autoridades locais. Na capital e arredores, o exército ucraniano abateu mais de 30 drones. Fragmentos de alguns desses drones caíram em áreas residenciais e causaram danos em casas e infraestruturas comerciais. Em Odessa, um edifício de vários andares e um número desconhecido de carros foram atingidos durante o ataque, no qual um homem de 30 anos ficou ferido.

⇒ O primeiro-ministro húngaro defendeu um cessar-fogo na Ucrânia, apontando que a paz “é o segundo passo”, no qual se decidirá depois o que é “aceitável e durável”. “Estou a falar, antes de mais, não da paz, a paz é o segundo passo, [mas] o primeiro passo é o cessar-fogo e a minha preocupação é que, se pensarmos e falarmos demasiado sobre a solução de paz a longo prazo, podemos reduzir as hipóteses de haver um cessar-fogo” agora, afirmou Viktor Orbán.

⇒ A advogada britânica especialista em direitos humanos Helena Kennedy sugeriu o envolvimento de países africanos na pressão sobre Moscovo para libertar dezenas de milhares de crianças ucranianas que foram transferidas para território russo desde o início da invasão. Num evento em Londres sobre “o recurso da Rússia à deslocação forçada na Ucrânia”, organizado pelo centro de estudos Chatham House, a advogada defendeu a formação de uma “coligação de nações” que apoie uma campanha sobre este tema.

⇒ O navio de carga norte-americano Endurance atracou no porto de Setúbal para descarregar material militar, com destino à Ucrânia, que será transportado por via terrestre para uma base militar na Polónia. Fonte portuária indicou sob anonimato à Lusa que elementos envolvidos na operação de transporte terrestre dizem tratar-se de “equipamento militar diverso, proveniente dos Estados Unidos, que tem como destino final a Ucrânia”, no âmbito da ajuda militar do Ocidente ao país invadido.

Pode recordar aqui o essencial do dia anterior.

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