Guerra na Ucrânia

“A constatação mais dolorosa da guerra talvez seja a deportação de crianças ucranianas”, diz Zelenska

A primeira-dama ucraniana, Olena Zelenska, recebida por Marcelo Rebelo de Sousa, no primeiro dia das Conferências do Estoril
A primeira-dama ucraniana, Olena Zelenska, recebida por Marcelo Rebelo de Sousa, no primeiro dia das Conferências do Estoril
José Fonseca Fernandes

Num discurso marcado pela crítica à inação da comunidade internacional, nas Conferências do Estoril, em Carcavelos, a primeira-dama da Ucrânia lembrou que mais de 19 mil crianças foram deportadas ilegalmente para a Rússia e que o mundo nada fez

“A constatação mais dolorosa da guerra talvez seja a deportação de crianças ucranianas”, diz Zelenska

Mara Tribuna

Jornalista

“Mais de 19 mil crianças ucranianas” foram deportadas ilegalmente para a Rússia desde fevereiro de 2022, “um ato testemunhado pelo mundo que não foi alvo de qualquer ação”, lamentou Olena Zelenska esta quinta-feira. A primeira-dama da Ucrânia esteve presente na 9.ª edição das Conferências do Estoril que decorre na faculdade Nova SBE, em Carcavelos, Lisboa.

Talvez a constatação mais dolorosa [da guerra] seja a deportação sistemática de crianças ucranianas. A proteção das nossas crianças é uma questão da maior urgência, tivemos de aprender a protegê-las de perigos que nunca tínhamos previsto”, afirmou, deixando uma mensagem para os líderes mundiais e decisores políticos: “Temos de avaliar criticamente a eficácia das organizações internacionais e as suas respostas — ou melhor, a sua inação”.

O discurso de Zelenska foi marcado pela crítica à inércia e passividade da comunidade internacional. “Nenhum crime é demasiado distante para nos preocupar a todos. Cada ato de violência representa uma ameaça à nossa humanidade comum. Se nos comprometermos a agir, podemos aproximar-nos da paz”, continuou, advertindo que “quando o agressor é tolerado, ganha tempo para propagar as suas narrativas e cometer mais atos de violência”. Por isso, “as decisões críticas têm de ser tomadas em segundos”.

A primeira-dama ucraniana apontou o dedo à comunidade internacional pela sua inação
José Fonseca Fernandes

Olena Zelenska, esposa do Presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, vincou que o tempo tem “um preço profundo — o custo da vida”. E “refletir sobre a forma de ajudar quem precisa pode levar à tragédia, se a tomada de ação for adiada”, insistiu, num painel que tinha como título “Como manter vivo o espírito de uma nação em tempo de guerra perante quase 1000 dias de conflito contínuo?”.

A guerra teve um impacto na “própria essência do tempo” e obrigou a Ucrânia a “reavaliar a importância de coisas muito simples e quotidianas que se tornaram indisponíveis”, como, por exemplo, chamar um táxi para o aeroporto, apanhar um avião e chegar a Portugal em apenas 4 horas, ilustrou. “Em contraste, um míssil russo pode atingir uma casa em apenas 30 segundos. Além disso, normalmente não são dados mais de dois minutos para estancar a hemorragia de uma pessoa ferida por um bombardeamento.”

Olena Zelenska, que discursou durante breves minutos e não permitiu entrevistas, aproveitou ainda a ocasião para agradecer a participação de Marcelo Rebelo de Sousa na primeira cimeira global da paz, e também do Presidente de Timor-Leste José Ramos-Horta, igualmente presente. A primeira-dama da Ucrânia foi recebida, à chegada, pelo Presidente português e ovacionada pelo público antes e depois da sua intervenção das Conferências do Estoril que terminam esta sexta-feira.

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