A possibilidade de um regresso de Donald Trump à Casa Branca poderá estar na origem do prolongamento das guerras de Netanyahu, em Gaza, e de Putin, na Ucrânia. É nisso que acreditam vários analistas internacionais, que têm vindo a fazer alertas acerca de uma reaproximação - pelo menos - de Donald Trump ao Presidente russo. “Ele lê o conflito como muitos dos seus apoiantes, como, aliás, Steve Bannon: um confronto entre o globalismo ocidental e outras forças mais isoladas no mundo”, alerta Benjamin Teitelbaum, etnógrafo, analista político norte-americano e autor de “Guerra Pela Eternidade: o Retorno do Tradicionalismo e a Ascensão da Direita Populista”. Na opinião de Donald Trump, "a Rússia não atua como uma força imperialista, mas como um país que opera apenas na sua esfera de influência, logo apenas um Ocidente globalizador integraria a Ucrânia na sua causa europeia".
A tradição de tratar a Europa como família foi enterrada por Trump no seu mandato presidencial norte-americano (iniciado em 2016), e foi substituída por uma espécie de culto do líder, que favorece os mais autoritários entre os representantes mundiais. “A admiração diz respeito a uma estética pessoal; é bastante óbvio que Trump gosta de homens fortes e celebra líderes fortes”, admite Benjamin Teitelbaum, em declarações ao Expresso. “Parece-me óbvio que, para ele, essa é a medida de um bom presidente. Um bom líder nacional tem de centralizar o poder e demonstrar o seu autoritarismo.” Esse encantamento por autocratas voltou a ser evidenciado este mês, quando Trump recebeu, em Mar-a-Lago, o primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, que é também um dos líderes europeus mais apontados como “pró-Kremlin”. Para Orbán, as palavras foram também de uma reverência superlativa. “Não há ninguém melhor, mais inteligente ou melhor líder do que Viktor Orbán”, disse Donald Trump, naquela circunstância.
“Trump gosta de se associar a líderes fortes, como Putin, Kim, Erdogan e Xi”, salienta Jim Townsend, antigo secretário-adjunto da defesa norte-americana, perito em política europeia e NATO. “Ele admira a forma como governam, tem inveja do seu poder e gosta que o governo, incluindo os militares, faça o que eles dizem. Não há Congresso ou juízes que se interponham no seu caminho, ao contrário do que acontece nos EUA.” À força, Alexander Motyl, analista político para questões norte-americanas, da Rússia e da Ucrânia, acrescenta outras características à lista das prediletas de Donald Trump: “Têm de ser homens duros, brutais e vulgares e que não medem as palavras. Putin encaixa-se no perfil.”
Os contínuos elogios e o apoio de Donald Trump a Vladimir Putin estão também a colocar em alerta os analistas políticos, que acreditam que a reeleição do antigo líder norte-americano poderia beneficiar Moscovo, prejudicando, em contraste, a ação democrática dos Estados Unidos.
Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt