Ao 768.º dia de guerra na Ucrânia, uma tragédia na Rússia: pelo menos 60 pessoas morreram após ataque terrorista em Moscovo
STRINGER
Ataque foi reivindicado por uma célula do Daesh, que se congratulou pela “grande destruição causada”. Ucrânia nega qualquer envolvimento, ao mesmo tempo que as suas infraestruturas críticas continuam a ser bombardeadas pelo Kremlin
Este é o 768.º dia da guerra da Rússia contra a Ucrânia, mas hoje a tragédia maior aconteceu no lado do agressor: vários homens armados entraram numa sala de espetáculos na capital russa e dispararam contra centenas de pessoas, das cerca de 6200 que se preparavam para assistir a um concerto.
Pelo menos 60 pessoas já foram dadas como mortas, mas o número pode subir nas próximas horas à medida que as autoridades russas continuam as operações de resgate junto ao Crocus City Hall, no extremo ocidental de Moscovo. Outras 145 pessoas ficaram feridas, incluindo seis crianças.
Os homens foram mais tarde identificados como membros do ISIS-K, uma célula terrorista que nasceu no Afeganistão a partir do auto-denominado Estado Islâmico (Daesh) – que ainda controla parte do território do Iraque e da Síria.
O Daesh reclamou a autoria do ataque poucas depois. “Combatentes do Estado Islâmico atacaram uma grande concentração de cristãos na cidade de Krasnogorsk, nos arredores de Moscovo, matando e ferindo centenas e causando grande destruição, antes de abandonar o local em segurança”, afirmou o grupo extremista num comunicado.
Os atacantes, em número até agora indeterminado, terão fugido do local e continuam a ser procurados pela Guarda Nacional Russa.
Vladimir Putin ainda não se pronunciou publicamente sobre a tragédia. Por outro lado, a Presidência da Ucrânia garantiu que o país não esteve envolvido no ataque: "Sejamos claros, a Ucrânia não tem absolutamente nada que ver com esses acontecimentos", garantiu Mikhailo Podoliak, um dos assessores de Zelensky, acrescentando que a Ucrânia “nunca utilizou métodos de guerra terroristas.”
A Legião Liberdade da Rússia, um grupo de combatentes russos que apoia a Ucrânia e é crítico do Kremlin, sublinhou que “não combate os civis russos" – e responsabilizou Putin pelos acontecimentos.
“A UE está chocada e consternada com as notícias de um ataque terrorista no Crocus City Hall, em Moscovo", afirmou o porta-voz do Serviço Europeu para a Ação Externa (SEAE) de Bruxelas, Peter Stano, lembrando que o bloco europeu "condena qualquer ataque contra civis". Os governos de França, Espanha, Itália e Brasil também já condenaram o ataque.
Todos os eventos públicos marcados para este fim-de-semana em Moscovo foram cancelados, e os cidadãos foram incentivados pelas autoridades a doar sangue.
Infraestruturas críticas da Ucrânia continuam sob ataque
Na última madrugada, a Rússia reivindicou vários ataques a infraestruturas energéticas ucranianas que provocaram pelo menos seis mortos e vários feridos. Várias cidades na Ucrânia, incluindo Kharkiv, a segunda maior do país, ficaram sem eletricidade, água e sistemas de aquecimento. Cerca de 90 mísseis e 60 drones foram utilizados pelas forças russas durante a operação.
O Presidente da Ucrânia afirmou que os ataques tiveram como alvo principal centrais elétricas, linhas de transmissão de energia e a maior central hidroelétrica da Ucrânia. “Isto é terror, sem quaisquer disfarces”, afirmou Volodymyr Zelensky.
Para o ministro ucraniano da Energia, German Galuschenko, os ataques russos são uma tentativa de fazer “colapsar” o sistema energético da Ucrânia.
Também o chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, reagiu às atrocidades cometidas pelas forças russas. Caracterizou os ataques como “brutais” e acusou a Rússia de colocar em risco a segurança da central nuclear de Zaporijia.
Por outro lado, a coordenadora humanitária da ONU para a Ucrânia sublinhou o impacto dos ataques nas populações. A violência só vai agravar a “terrível situação humanitária de milhões de pessoas na Ucrânia”, disse Denise Brown.
Denise Brown, responsável pelo Gabinete de Coordenação de Assuntos Humanitários das Nações Unidas
> A Rússia incluiu o "movimento internacional LGBT" na lista de pessoas e associações declaradas “terroristas e extremistas”. A medida é tomada numa altura em que as autoridades intensificam a repressão das minorias sexuais, às vezes com pesadas penas de prisão.
> O comandante das forças terrestres da Ucrânia admitiu que é possível que a Rússia lance uma ofensiva de verão com 100 mil homens. Esta é a "previsão mais sombria", disse o General Oleksandre Pavliouk. Apesar de pequenas conquistas, a frente de batalha está praticamente parada há mais de um ano, sem avanços signficativos de ambos os lados.
> Dado o impacto da guerra na Ucrânia, "os europeus devem ser capazes de correr riscos para garantir a segurança da Europa na próxima década", afirmou hoje o chefe do Estado-Maior das Forças Armadas da França, general Thierry Burkhard. A hipótese de tropas ocidentais entrarem em território ucraniano tem ganho força nas últimas semanas.