A chantagem da União Europeia para desbloquear o veto húngaro ao apoio à Ucrânia: as notícias que marcaram o 705.º dia de guerra
Presidente da Hungria, Viktor Orbán, durante a cimeira da UE, em Bruxelas
YVES HERMAN/REUTERS
União Europeia quer alcançar um “compromisso aceitável” com a Hungria para o país levantar o veto ao pacote de ajuda financeira à Ucrânia, no valor de 50 mil milhões de euros. Caso o bloqueio húngaro se mantenha, a UE pondera sabotar a economia húngara, colocando os mercados e até a moeda em risco
Os 27 Estados-membros da União Europeia (UE) continuam em negociações com a Hungria para alcançar um “compromisso aceitável” que desbloqueie o apoio financeiro à Ucrânia, no valor de 50 mil milhões de euros. Budapeste está “aberto” a aplicar parte do orçamento do Quadro Financeiro Plurianual para financiar este pacote de ajuda, mas “com ressalvas”, segundo o diretor político do primeiro-ministro Viktor Orbán avançou à Reuters.
A pressão sobre Orbán tem aumentado. O primeiro-ministro húngaro recusou, até agora, a utilização de uma parte do orçamento comunitário europeu para ajudar o esforço de guerra ucraniano. Como forma de retaliação, a UE pondera sabotar a economia húngara, caso o primeiro-ministro não levante o veto até à cimeira europeia que se realiza em fevereiro, segundo um documento de trabalho do Secretariado do Conselho da UE, a que o Financial Times (FT) teve acesso.
"Bruxelas está a usar a chantagem contra a Hungria como se não houvesse amanhã, apesar de termos proposto um compromisso", afirmou o principal assessor político de Orbán, Balázs Orbán, através da rede social X (antigo Twitter). Explicou ainda que Budapeste tinha enviado uma proposta a Bruxelas, “especificando que estava agora aberto a utilizar o orçamento da UE para o pacote da Ucrânia e até mesmo a emitir dívida comum para o financiar, se fossem acrescentadas outras condições que dessem a Budapeste a oportunidade de mudar de ideias numa data posterior”.
Um alto funcionário europeu disse que o documento em questão era “uma nota de contexto redigida pelo Secretariado do Conselho, sob a sua própria responsabilidade, que descreve a situação atual da economia húngara” e que “não reflete a situação das negociações em curso”.
Até agora, nenhuma das propostas apresentadas por Orbán têm sido bem recebidas em Bruxelas, noticia o jornal ‘The Guardian’. "É muito improvável que a Hungria tenha outra opção para vetar o dinheiro, quer seja quatro vezes ou uma", disse um diplomata ao jornal, reforçando a esperança de que seja alcançado um consenso. A publicação do documento através do FT, para estes diplomatas, serve para demonstrar “quão elevados são os riscos” para a Hungria. O país assume a presidência rotativa da UE em julho, por isso, de acordo com outro diplomata, “Orbán está a fazer a Europa parecer fraca”, o que “não pode continuar”.
Anteriormente, o primeiro-ministro húngaro tinha bloqueado uma revisão do orçamento da UE que incluía a ajuda à Ucrânia, o que conduziu os Estados-membros a convocar uma cimeira de emergência.