Os congressistas norte-americanos que mais se opõem à continuação do apoio militar à Ucrânia costumam argumentar que deveria ser a Europa, e não os EUA, a arcar com as despesas das suas questões de segurança. Por outro lado, a China é encarada como uma ameaça crescente e muito mais significativa para os norte-americanos. Já depois de a guerra na Europa ter começado, em maio de 2022, Antony Blinken, secretário de Estado norte-americano, afirmou, no seu discurso sobre a Estratégia dos EUA para Pequim: "A China é o único país com poder diplomático, económico e militar para desafiar seriamente o sistema internacional estável e aberto." A viragem para o Pacífico coloca em risco o apoio à Ucrânia e deixa a Europa nervosa.
Em declarações ao Expresso, Kelly Grieco, investigadora da área de Defesa do Reimagining US Grand Strategy Program, do 'think tank' Stimson Center, distingue as duas ameaças percebidas: “A Rússia é vista mais como um agressor oportunista, ou aquilo a que o Pentágono chama ameaça aguda. Com os seus desafios demográficos, uma economia relativamente pequena, e agora com as suas Forças Armadas degradadas, a Rússia representa uma ameaça menor a longo prazo para a segurança nacional dos EUA do que a China.”
Sobretudo entre os republicanos, predomina a narrativa de que Taiwan – (potencial) teatro de guerra marítimo – e Kiev – terrestre – são polos distintos que disputam entre si a assistência militar dos EUA. Embora se tratem de territórios com necessidades militares diferentes, algumas intersetam-se: submarinos de ataque, munições avançadas, defesas antiaéreas e sistemas de inteligência, entre outros. Por isso, embora a Rússia represente uma ameaça “grave”, os Estados Unidos “têm” também de considerar os requisitos necessários para enfrentar o desafio a longo prazo que a China coloca. “Entre esses encargos estão a preservação dos arsenais militares, e a transferência de mais atenção e recursos da Europa para o Indo-Pacífico”, esclarece a analista Kelly Grieco.
Nos últimos meses, mesmo com a guerra a eclodir também no Médio Oriente, Joe Biden tentou transmitir, em Washington, que o único fator que limita o arsenal norte-americano fornecido é a vontade política, consciente de que a China poderá estar a observar a capacidade de resposta norte-americana para tomar decisões. Mas há sinais contraditórios: o Pentágono tem tido mais dificuldades em obter projéteis de artilharia, e os EUA e aliados têm sido obrigados a acelerar em larga escala a produção militar.
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