Exclusivo

Guerra na Ucrânia

Avdiivka não é Bakhmut: a cidade-fantasma da Ucrânia onde os habitantes vivem em caves é mais importante e vulnerável

Monumento soviético ao soldado caído na guerra, Novoselivka Persha, Avdiivka
Monumento soviético ao soldado caído na guerra, Novoselivka Persha, Avdiivka
André Luís Alves

A cidade bastião da resistência ucraniana pode cair em mãos russas este inverno. Moscovo lançou, em outubro, ataques que se projetaram em três ondas sucessivas de assalto, forçando inúmeras brigadas do sul a vir defender Avdiivka. As posições ucranianas começaram a perder terreno; o combate urbano já foi o seu ponto fraco em Bakhmut

Avdiivka é uma cidade plana na continuação dum vale, à exceção dum ponto, o terrikon AKKHZ, ao lado da zona industrial do norte da cidade, onde fica a fábrica de coque. As tropas do Kremlin controlam o terrikon desde o início de novembro, após mais de uma semana em que os ucranianos tentaram a todo o custo mantê-lo, soçobrando perante uma ofensiva que não olha a perdas humanas e materiais e tinha ali um objetivo estratégico.

O terrikon é um ponto elevado, com 30-50 metros de altura, criado pelo lixo industrial e terra da extração mineira, determinante na paisagem do Donbas. Este ponto de vantagem permite o controlo da única estrada de acesso à cidade e artéria logística da ajuda humanitária, da qual depende a cidade-fantasma onde ainda permanecem cerca de mil habitantes. Vivem todos em caves, alguns há anos, como o Expresso pôde testemunhar em Avdiivka numa reportagem de quatro dias no final de março.

O que está a aguentar a cidade, a norte, é o controlo ucraniano do túnel de acesso que liga a zona industrial às imediações do terrikon, criando um impasse para veículos, que o gelo à superfície veio acentuar nos últimos dias. A lama tornou-se ringue de patinagem e há vários despistes. Os veículos de rodas não se movem, e os tanques de parte a parte estão escondidos na zona industrial ou na floresta a norte. São Leopard 1 e 2 e Bergers, veículos de recuperação de tanques no apoio. Ucranianos abaixo do solo no túnel e russos no terrikon em vigilância são boa metáfora do impasse da guerra, na maior metáfora de todo o Donbas – um terrikon numa zona industrial.

Já é Subscritor?
Comprou o Expresso?Insira o código presente na Revista E para continuar a ler

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt

Comentários
Já é Subscritor?
Comprou o Expresso?Insira o código presente na Revista E para se juntar ao debate