Avdiivka é uma cidade plana na continuação dum vale, à exceção dum ponto, o terrikon AKKHZ, ao lado da zona industrial do norte da cidade, onde fica a fábrica de coque. As tropas do Kremlin controlam o terrikon desde o início de novembro, após mais de uma semana em que os ucranianos tentaram a todo o custo mantê-lo, soçobrando perante uma ofensiva que não olha a perdas humanas e materiais e tinha ali um objetivo estratégico.
O terrikon é um ponto elevado, com 30-50 metros de altura, criado pelo lixo industrial e terra da extração mineira, determinante na paisagem do Donbas. Este ponto de vantagem permite o controlo da única estrada de acesso à cidade e artéria logística da ajuda humanitária, da qual depende a cidade-fantasma onde ainda permanecem cerca de mil habitantes. Vivem todos em caves, alguns há anos, como o Expresso pôde testemunhar em Avdiivka numa reportagem de quatro dias no final de março.
O que está a aguentar a cidade, a norte, é o controlo ucraniano do túnel de acesso que liga a zona industrial às imediações do terrikon, criando um impasse para veículos, que o gelo à superfície veio acentuar nos últimos dias. A lama tornou-se ringue de patinagem e há vários despistes. Os veículos de rodas não se movem, e os tanques de parte a parte estão escondidos na zona industrial ou na floresta a norte. São Leopard 1 e 2 e Bergers, veículos de recuperação de tanques no apoio. Ucranianos abaixo do solo no túnel e russos no terrikon em vigilância são boa metáfora do impasse da guerra, na maior metáfora de todo o Donbas – um terrikon numa zona industrial.
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