Os líderes do Senado, a câmara alta do Congresso dos Estados Unidos, admitiram esta quarta-feira que não vão aprovar um novo pacote de apoio militar à Ucrânia até ao final do ano. “Os negociadores ainda estão a trabalhar em algumas questões e esperamos que os seus esforços permitam ao Senado agir rapidamente (…) no início de 2024”, afirmaram numa declaração conjunta o democrata Chuck Schumer e o republicano Mitch McConnell.
A Casa Branca já tinha alertado, na segunda-feira, que os EUA têm fundos para apenas mais um pacote de ajuda à Ucrânia este ano, enquanto o Congresso continua a bloquear um novo apoio militar a Kiev. “Só nos resta um envelope de ajuda” antes que os fundos se esgotem, sublinhou o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional norte-americano. John Kirby não especificou o montante deste novo pacote que é esperado ainda durante o mês de dezembro.
Já o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, afirmou hoje que Washington tem um plano “claro” para que a Ucrânia possa financiar-se no futuro e deixar de depender da ajuda militar e económica dos Estados Unidos, apesar de não especificar qual. “Mas primeiro temos que ajudá-los por um tempo. Para que o inverno passe. Para que a primavera e o verão passem”, destacou Blinken em conferência de imprensa.
Desde o início da guerra, a 24 de fevereiro de 2022, o Congresso norte-americano comprometeu-se com mais de 110 mil milhões de dólares (100 mil milhões de euros) mas os congressistas republicanos estão a bloquear um importante pacote de ajuda, exigindo grandes mudanças na política de migração dos EUA, incluindo medidas mais rígidas na fronteira com o México.
Outra das notícias que marcou o 665.º dia de guerra foi a nova acusação feita pela Human Rights Watch (HRW): a organização não-governamental avançou que a Rússia continua a recrutar, à força, residentes nas zonas que ocupou na Ucrânia para combaterem no Exército russo. “As autoridades russas obrigam homens nos territórios ocupados da Ucrânia, de forma aberta e ilegal, a lutar contra o seu próprio país”, disse Hugh Williamson, diretor para a Europa e Ásia da ONG de direitos humanos.
Williamson adiantou que os ocupantes russos também pressionam “os civis detidos” nas zonas ocupadas para se juntarem às suas fileiras, refere um comunicado da HRW, que qualifica as duas práticas de “crime de guerra”. A organização disse ter entrevistado por telefone três homens que se encontram em prisão preventiva na região de Donetsk, no leste do país, controlada pelos separatistas russófonos e com a presença de forças militares russas.
“Os três disseram que estão detidos desde antes da invasão russa em larga escala de fevereiro de 2022, e que oficiais das forças militares da designada República Popular de Donetsk tentaram pressioná-los através de intimidações, ameaças e propaganda”, lê-se no comunicado. O advogado dos três detidos afirma conhecer “pelo menos 11 casos similares”, acrescenta a Human Rights Watch.
Mais notícias que marcaram o dia
⇒ O Kremlin garante que os contactos com a Ucrânia são neste momento irrelevantes, acrescentando que Kiev abandonou as negociações de paz em 2022, pouco depois do início da agressão russa, por “insistência do Reino Unido”. “Dissemos repetidamente que não há base ou fundamento para essas negociações, que não há pré-requisitos para as conversações e que, por insistência do Reino Unido, a Ucrânia deixou a mesa", disse o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov.
⇒ Vladimir Putin pediu uma resposta severa para os serviços secretos estrangeiros, que procuram desestabilizar a Rússia para ajudar a Ucrânia. “O regime de Kiev, com o apoio direto de serviços especiais estrangeiros, seguiu o caminho dos métodos terroristas, praticamente do terrorismo de Estado. É preciso pôr um fim de maneira dura às tentativas dos serviços especiais estrangeiros de desestabilizar a situação política e social na Rússia”, sublinhou num discurso por ocasião do Dia dos Agentes de Segurança Pública.
⇒ A responsável do Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários na Ucrânia disse estar “horrorizada” com “ataques indiscriminados” da Rússia a instalações de organizações de auxílio à população e outras infraestruturas civis em Kherson. “Estou horrorizada com a notícia de que outra onda de ataques indiscriminados por parte da Federação Russa danificou hoje instalações e abastecimentos essenciais de pelo menos três organizações humanitárias”, escreveu Denise Brown.
⇒ O Tribunal Geral da União Europeia confirmou as sanções impostas ao empresário russo Roman Abramovich, que tem também nacionalidade portuguesa, no âmbito de medidas restritivas adotadas contra a Rússia pela guerra na Ucrânia. O tribunal considerou que Abramovich não conseguiu provar qualquer ilegalidade na inclusão do seu nome nas listas de sanções.
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