Após ter instalado o caos político-militar na Rússia, Yevgeny Prigozhin estará em parte incerta. O gabinete de imprensa de Aleksandr Lukashenko admitiu desconhecer se o líder do Grupo Wagner chegou à Bielorrússia, para onde os cidadãos russos podem viajar sem passaporte. Prigozhin foi visto quando se afastou do quartel-general do Exército em Rostov-on-Don, que a sua milícia capturou no sábado, e voltou a emitir declarações públicas nas últimas horas. O site noticioso russo RTVI já avançara que Prigozhin já teria seguido para a Bielorrússia, apesar deste não o ter ainda confirmado. A especulação continua a intensificar-se, dois dias depois de a hipótese de uma revolta militar na Rússia ter sido descartada (ou, pelo menos, adiada). Os analistas internacionais reconhecem que o ambiente especulativo em torno de Moscovo e Minsk inspira cautela.
“Só sabemos duas coisas, ou, pelo menos, pensamos que as sabemos”, observa Harry Halem, investigador principal do Instituto Yorktown, organização norte-americana dedicada à Defesa. “A primeira é que Prigozhin não queria destruir totalmente o regime de Putin, e a segunda é que Putin não queria matar Prigozhin, ou então foi convencido a não fazê-lo.” Depois de o líder dos mercenários ter abortado a missão de marchar até Moscovo, parece evidente aos olhos dos analistas - e, ainda assim, sem avaliações conclusivas - que nem Vladimir Putin nem o próprio Prigozhin saíram beneficiados.
Se alguém colheu dividendos da solução encontrada, foi mesmo o Presidente bielorrusso, embora alguns peritos acreditem que Lukashenko nem sequer fez parte das negociações. “Não consigo acreditar em nenhum papel real de Lukashenko”, aponta Sergej Sumlenny, especialista em questões da Europa de Leste e antigo diretor da organização política Heinrich-Böll-Stiftung, em Berlim. “Ele não tem influência sobre Prigozhin e é ignorado na Rússia. Trata-se de uma camuflagem clara para um acordo - se é que algum acordo foi assinado -, e foi escolhido para esconder os verdadeiros negociadores.” Maximiliam Hess, analista de geopolítica do 'think tank' norte-americano Foreign Policy Research Institute, também estranha a versão veiculada pelo Kremlin. “Tenho fortes dúvidas sobre a veracidade das alegações de que Lukashenko mediou este acordo. Historicamente ele tem más relações com Prigozhin e é subserviente a Moscovo em quase todos os aspetos, por isso faz pouco sentido ele colocar-se nesta posição, especialmente porque faz Putin parecer fraco.”
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