

Horas antes de abrirem as urnas para as eleições para o Congresso dos Estados Unidos, a 8 de novembro de 2022, Yevgeny Prigozhin emitiu um comunicado através dos serviços de imprensa de uma das suas empresas, a Concord Managment and Consulting. “Sim, interferimos, estamos a interferir e continuaremos a interferir. Cuidadosamente, cirurgicamente, à nossa maneira. Vamos retirar os dois rins e o fígado de uma vez”, lia-se nessa bizarra nota. Mais estranha ainda soava se considerarmos que, até setembro desse mesmo ano, Yevgeny Prigozhin, o chefe dos mercenários do Grupo Wagner, obreiros do trabalho sujo do Kremlin onde quer que Vladimir Putin veja uma fonte de ouro para si e para os seus correligionários, negava ser mais do que um simples empresário do ramo da restauração.
Em menos de três meses, Prigozhin havia passado de abrir processos em tribunal contra qualquer publicação ou jornalista que mencionasse a mais ténue suspeita de ligação entre ele e os Wagners, para admitir não só ter fundado este exército privado como ter interferido nas eleições do país mais poderoso do mundo. Quando questionado sobre por que razão, assim sendo, processou dezenas de jornalistas durante tantos anos, a resposta, ao “The Guardian”, foi a seguinte: “Em todos os ramos de atividade é preciso um pouco de brincadeira.”
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