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Guerra na Ucrânia

O momento que a Ucrânia mais receia: com sucesso ou sem sucesso, contraofensiva pode levar o Ocidente a querer negociações

Volodymyr Zelensky
Volodymyr Zelensky
NurPhoto

A tão aguardada contraofensiva ordenada por Kiev tem alimentado grandes esperanças em todo o mundo, mas até membros do Governo ucraniano têm pedido cautela. Gerir as expectativas pode ser uma prova de vida para a Ucrânia. Fontes ouvidas pelo Expresso garantem que, mesmo no caso de a campanha militar ser bem-sucedida - e como se pode medir tal coisa? -, os EUA e a NATO pretenderão levar Kiev para a mesa das negociações. Este pode ser o momento que os ucranianos temiam

Vítimas do próprio sucesso, os ucranianos encontram-se agora numa situação difícil. Ao longo de 15 meses, as tropas de Kiev superaram as suas limitações no campo de batalha, e, quando se preparam para a grande contraofensiva, as expectativas não poderiam ser mais elevadas. “Os líderes da Ucrânia, compreensivelmente, estão preocupados com essas expectativas, especialmente considerando que a próxima contraofensiva será muito mais difícil do que os contra-ataques bem-sucedidos do outono passado”, admite ao Expresso Kelly Grieco, investigadora do Reimagining US Grand Strategy Program do think tank Stimson Center. Isto porque, em setembro, quando as forças ucranianas lançaram contraofensivas em Kharkiv e Kherson, “os militares russos estavam no seu pior momento”. O que mudou então? De acordo com a analista e especialista em Defesa, os russos continuam em fraca situação, mas consolidaram as suas posições defensivas. “Será muito mais difícil para os ucranianos libertar grandes áreas de território dos defensores russos entrincheirados.”

Nos últimos dias, o ministro da Defesa da Ucrânia avisou: “Há expectativas demasiado elevadas em todo o mundo em relação à nossa campanha de contraofensiva.” Uma forma de dizer que quem espera que algo grandioso aconteça pode ter uma desilusão. Os documentos que tinham sido dados a conhecer após uma fuga de informação do Pentágono já expunham que os EUA receavam que os resultados da campanha ofensiva ucraniana ficassem aquém do esperado, apesar do investimento dos parceiros ocidentais, que aceleraram o fornecimento de material militar. Libertar todo o território é possível mas improvável, já que, quanto mais território os ucranianos libertam, menor é a a quantidade de território que os russos precisam de defender. As defesas russas vão, por isso, ficando cada vez mais densas e será cada vez mais difícil para os ucranianos superá-las.

Além da inferioridade da Ucrânia nos céus, há uma realidade incontornável no teatro de guerra. Operações de contraofensiva exigem, geralmente, uma vantagem esmagadora no terreno, acreditam os analistas. Como evidenciou Carl von Clausewitz, existe uma assinalável assimetria entre a defesa e o ataque numa guerra, sendo a defesa a posição de maior força. Há, por isso, uma velha regra prática no planeamento militar, lembra Kelly Grieco. “Para um atacante romper uma linha defensiva, precisa de uma vantagem local de pelo menos três para um em poder de combate.” Esta regra (de proporção de forças, de 3:1) atesta as vantagens da defesa sobre o ataque na guerra moderna, já que “o que defende pode preparar a sua posição e direcionar o poder de fogo contra um atacante ao ar livre e em movimento enquanto permanece relativamente seguro e com cobertura”. Apesar da proporção de três para um continuar a ser uma referência útil para os estrategas de guerra, a analista reconhece que, no campo de batalha, nada pode ser reduzido a uma equação matemárica. Estratégia, logística, treino das tropas, motivação e qualidade do armamento também influem nos resultados.

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