Marcelo Rebelo de Sousa desvalorizou esta segunda-feira a polémica em torno da posição brasileira sobre a Ucrânia expressada a dias da visita oficial de Lula da Silva a Portugal.
Questionado sobre se era possível uma demarcação formal da posição brasileira sobre a Ucrânia e se se arrependia do convite feito ao Presidente do Brasil para uma visita oficial, Marcelo foi claro. "Não, não me arrependi de coisa nenhuma. São coisas completamente diferentes", garantiu.
E explicitou. "A primeira questão é a posição portuguesa. Foi a Rússia que invadiu a Ucrânia, não foi a Ucrânia que invadiu a Rússia. A Ucrânia está a defender-se e está a defender princípios de direito internacional e a Carta das Nações Unidas. E a NATO e a União Europeia estão a apoiar a Ucrânia. Portugal está a apoiar a Ucrânia, não só em termos humanitários, políticos e diplomáticos como financeiros. E vamos continuar, disso não temos dúvidas nenhumas.”
O chefe de Estado acrescentou que já transmitiu esta posição ao Presidente da Letónia, que esteve recentemente em visita oficial a Portugal. E garantiu que irá continuar a transmitir também a outros Presidentes com quem contacte, inclusivamente ao Presidente do Brasil, quando da sua visita oficial a Lisboa prevista para 22 e 25 de abril.
"A posição portuguesa é o que é, não muda", enfatizou. E acrescenta que a visita do Presidente brasileiro nada tem que ver com a posição do Brasil sobre a Ucrânia nem com “polémicas internas”. “Cada partido tem o direito de estar a favor e contra”. Mais: Marcelo desvaloriza manifestações marcadas a propósito desta visita como parte do funcionamento da democracia.
Marcelo Rebelo de Sousa sublinhou ainda que "a posição brasileira até agora tem sido muito consistente". E, recorrendo a uma cábula que trazia consigo, detalhou os votos do Brasil, que têm sido sempre contra a invasão - tanto durante a presidência de Jair Bolsonaro, como desde que Lula da Silva tomou posse.
"A posição brasileira nas Nações Unidas tem sido sempre a mesma, ao lado de Portugal, da União Europeia, dos Estados Unidos da América, da NATO, contra a Federação Russa. O que não tem acontecido com outros países de língua oficial portuguesa, que se têm abstido consistentemente ou se abstiveram várias vezes", contrapôs.
"Dito isto, é muito simples: se o Brasil mudar de posição, e mudar de posição em relação ao que foi a orientação Bolsonaro e Lula, é uma escolha dele e Portugal não tem nada a ver com isso. Mantém a sua posição e não estamos de acordo", disse.
E relativiza: “nós não estivemos de acordo com os países de língua oficial portuguesa a seguir à independência durante décadas, mantivemos relações. Se nós só tivéssemos relações diplomáticas com os países que concordam com a nossa política interna e externa, não tínhamos [relações] com três quartos do mundo. Xi Jinping não teria vindo a Portugal. Um ou outro dos países que vieram [não teriam vindo].”
Marcelo Rebelo de Sousa falou aos jornalistas à entrada para a entrega do Prémio Pessoa 2022 na Culturgest, em Lisboa.
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