“Eles estão a preparar-se para invadir a Bielorrússia”: Lukashenko tenta justificar envio de armas nucleares russas para o país
Vladimir Putin e Alexander Lukashenko
Anadolu Agency / Getty Images
O Presidente da Bielorrússia pede tréguas na guerra da Ucrânia, mas avisa que qualquer incursão em território russo pode justificar a utilização de todo o tipo de armas, incluindo as de “urânio enriquecido”. Putin vai enviar armas nucleares táticas para a Bielorrússia em breve
Esta foi a frase que Alexander Lukashenko, Presidente da Bielorrússia, disse no seu discurso anual aos deputados e funcionários do Governo, para justificar o facto de ter deixado a Rússia armazenar no país armas nucleares táticas. “Acreditem na minha palavra, eu nunca vos enganei. Eles estão a preparar-se para invadir a Bielorrússia, para destruir o nosso país”, afirmou, citado pela CNN e por outros meios de comunicação internacionais.
Guarda fronteiriço bielorrusso na fronteira entre a Ucrânia e a Bielorrússia
E por isso as armas são o escudo, a proteção, a garantia contra o iminente ataque ocidental que Lukashenko diz temer. Não há qualquer plano para invadir a Bielorrússia, mas é uma narrativa que dá frutos internos, e que já floresceu com sucesso no vizinho do lado, Lukashenko só teve de a importar. O ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Sergey Lavrov, e o próprio Presidente, Vladimir Putin, dizem com frequência que a guerra na Ucrânia é uma guerra de defesa contra os ataques ocidentais, ou ucranianos. "Como resultado dos esforços dos Estados Unidos e dos seus satélites, foi desencadeada uma guerra em larga escala na Ucrânia”, algo que, no entender de Lukashenko, significa que uma "terceira guerra mundial, com a possibilidade de explosões nucleares, está a desenhar-se no horizonte", afirmou.
Putin disse no sábado passado que Moscovo vai colocar armas nucleares táticas dentro do território bielorrusso, a primeira implantação de armamento nuclear fora das fronteiras russas desde o colapso da União Soviética. A Ucrânia já teve também armas nucleares, tinha aliás o maior arsenal de todas as ex-repúblicas soviéticas, mas abdicou delas, em 1994, sob promessa dos Estados Unidos e do Reino Unido (com a concordância da Rússia) de que seria protegida caso a Rússia tentasse atacar o país.
No discurso de sexta-feira, Lukashenko também pediu um cessar-fogo imediato na Ucrânia e o início das negociações para um acordo de paz duradouro, alertando que a Rússia seria forçada a usar “a arma mais terrível” se se sentisse ameaçada.
“É necessário interromper as hostilidades e declarar uma trégua que proíba ambos os lados de mover grupos de tropas e de transferir armas, munições, equipamentos, tudo”, disse. Mas justificou, de antemão, qualquer tipo de arma que Moscovo pudesse vir a usar para se defender caso as tréguas não fossem respeitadas ou em caso incursão em território russo. “Toda a força do seu complexo militar-industrial e do exército para evitar a escalada do conflito – munições de fósforo, urânio empobrecido e urânio enriquecido – tudo deve entrar em ação se houver o menor movimento depois da fronteira da Ucrânia.” Resta saber o que é que constitui “território russo” para Lukashenko.
O Presidente bielorrusso está no poder desde 1994 e não é reconhecido como líder legítimo pela União Europeia. Os protestos após a sua eleição, em 2019, e as prisões sumárias, desaparecimentos e tortura aplicados por Lukashenko como castigo para quem se manifestou contra ela, levaram milhares de bielorrussos a fugir do país.
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