Guerra na Ucrânia

Rússia condena jornalista a seis anos de prisão por desinformação contra exército russo

Rússia condena jornalista a seis anos de prisão por desinformação contra exército russo
SOTA

É a mais recente condenação ao abrigo do Artigo 207.3 do Código Penal russo, acrescentado em março de 2022 para criminalizar a cobertura independente da invasão da Ucrânia

A jornalista russa Maria Ponomarenko foi condenada a seis anos de prisão por “distribuir informações falsas sobre o exército russo”. Foi igualmente proibida de trabalhar como jornalista durante cinco anos.

De acordo com o serviço da BBC em russo, em causa está uma publicação feita no canal “No Censorship” ("Sem Censura") na rede social Telegram. Nesta, a jornalista falava nas mortes de civis refugiados no Teatro de Mariupol, bombardeado pelas forças russas a 16 de março de 2022.

Maria Ponomarenko foi inicialmente detida em abril do ano passado, sendo enviada para um centro de detenção em São Petersburgo. Em novembro foi colocada em prisão domiciliária na casa do ex-marido, que ao contrário da jornalista apoia a invasão da Ucrânia.

No mês passado voltou a ser detida, depois de sair de casa para contactar a polícia após se envolver em agressões físicas com o ex-companheiro. Desde então ficou presa num centro de detenção pré-julgamento, cujas condições a sua equipa legal de defesa comparou a tortura.

Os advogados alertaram também que a jornalista tem sofrido problemas de saúde mental. De acordo com a Novaya Gazeta, durante a primeira detenção em São Petersburgo, a jornalista terá cortado os pulsos. A RusNews, órgão de comunicação social para o qual trabalhava, disse que Maria Ponomarenko sofre de claustrofobia e transtorno de personalidade histriónica (um transtorno que a Sociedade Americana de Psiquiatria carateriza como um “padrão de emoção excessiva e busca de atenção”).

Esta quarta-feira, Maria Ponomarenko foi condenada por um tribunal em Barnaul. Nas declarações finais afirmou: “se eu tivesse cometido um crime real, seria possível pedir clemência, mas, novamente, devido às minhas qualidades morais e éticas, não o faria”. "Tenho o direito de dizer a palavra "guerra" porque estou a ser julgada pelas leis da censura militar", cita o SOTA (um dos últimos órgãos de comunicação social independentes a operar na Rússia).

Moscovo tem negado repetidamente a autoria do ataque ao Teatro de Mariupol, no qual as autoridades ucranianas estimam que morreram pelo menos 300 pessoas. Já uma investigação da Associated Press conclui que morreram provavelmente 600 pessoas. As vítimas são sobretudo crianças, mulheres e idosos, que estavam entre os mais de mil civis que se refugiaram no teatro devido aos ataques russos.

Tanto as investigações da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa como da Amnistia Internacional concluíram que as alegações russas de que o teatro teria sido destruído por uma unidade ucraniana não têm fundamento.

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