“Teremos de tomar uma decisão por unanimidade. É assim que funciona". Charles Michel, presidente do Conselho Europeu, não podia ser mais claro sobre um dos elementos-chave (e nem sempre fácil) para que o processo adesão da Ucrânia à União Europeia avance. Os 27 líderes terão de estar de acordo para fazer a vontade a Volodymir Zelensky, que esta sexta-feira pediu a abertura das negociações de adesão ainda em 2023.
O objetivo é ambicioso, tendo em conta que muitos países - alguns deles ainda na fila para entrar - esperaram anos para conseguir dar esse passo. A Comissão apresenta o habitual relatório sobre o processo de alargamento da UE no outono, e deverá avaliar se as reformas feitas por Kiev são suficientes para seguir em frente. Depois cabe aos líderes discutir e decidir.
Michel mostra-se otimista quanto a um debate sobre os próximos passos, mas não se compromete nem com decisões, nem com datas. Esse poder está nas mãos dos chefes de Estado e de Governo.
Os dois líderes das instituições europeias foram a Kiev – para Von der Leyen é já a quarta vez desde o início da guerra – alimentar a esperança ucraniana de entrar na UE, reiterando, por escrito, na declaração final da Cimeira, que “o futuro da Ucrânia e dos seus cidadãos é na União Europeia”. No entanto, evitaram qualquer compromisso com datas. O governo ucraniano já falou em 2024 e 2026, mas o silêncio de Von der Leyen e Michel sobre essa expectativa é um choque de realidade num processo que pode levar uma década, ou mais.
Ao mesmo tempo que se mostra "profundamente impressionada” com as reformas feitas por Kiev nos últimos meses, a presidente da Comissão avisa que muito está por fazer. A adesão depende do mérito dos critérios cumpridos e não há qualquer calendário predefinido.
“Não há prazos rígidos, mas há objectivos a atingir, reformas, por exemplo, para melhorar uma situação no país candidato para depois alcançar as negociações de adesão e a própria adesão”, afirmou.
Desta vez, Zelensky não insistiu numa data para entrar no clube europeu, mas deixou claro que vai continuar a pressionar para fazer avançar o processo. “Não vamos desperdiçar um único dia de trabalho para aproximar a Ucrânia e a UE”, afirmou na sua intervenção. Para já horizonte temporal em cima da mesa é final de 2023, mas apenas para voltar a avaliar o andamento do processo e que fazer a seguir.
Foi a primeira vez que uma cimeira da UE decorreu em cenário de guerra, num claro sinal de apoio político, militar e financeiro a Kiev. Horas antes, pela manhã - e antes da cimeira - ainda houve tempo para política de charme. A presidente da Comissão Europeia foi a uma estação de correios de Kiev assistir à entrega de lâmpadas LED. No total, a UE vai enviar 35 milhões de lâmpadas com uma elevada eficiência energética, numa altura em que o país vê as infraestruturas elétricas sistematicamente atingidas pelos bombardeamentos russos.
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