“De norte a sul e de leste a oeste”: como a Ucrânia, e a capital Kiev, foram esventradas por nova vaga de bombardeamentos
Segundo o exército ucraniano, a Rússia lançou 75 mísseis dos quais 41 foram intercetados. Há registos de mortos, feridos e danos em infraestruturas, sobretudo em centrais elétricas, numa vaga de ataques que está a ser lida como “retaliação” pela explosão na ponte da Crimeia
A Ucrânia voltou a amanhecer sob uma nova onda de ataques esta segunda-feira. Kiev, Lviv, Ternopol, Dnipro e Zaporíjia foram algumas das áreas afetadas, numa série de bombardeamentos que visaram sobretudo infraestruturas elétricas críticas, mas também alvos civis.
O exército ucraniano garante que destruiu 41 dos 75 mísseis lançados pela Rússia. Ainda assim, e com o inverno à porta, foram afetadas várias centrais de eletricidade e outras infraestruturas consideradas críticas por todo o país, como deu conta o primeiro-ministro ucraniano.
“Até as 11h (08h de Lisboa), 11 importantes instalações de infraestrutura em oito regiões e na cidade de Kiev foram danificadas. Agora algumas áreas estão cortadas. É necessário estar preparado para interrupções temporárias de luz, abastecimento de água e comunicação", afirma Denys Shmyhal.
Nas redes sociais, multiplicam-se as imagens dos ataques, mostrando crateras no centro da capital, em jardins, estradas e ciclovias. Um vídeo divulgado no Twitter mostra novamente a população ucraniana abrigada numa estação de metro, numa réplica das imagens que se repetiram nas primeiras semanas de guerra.
Em reação aos bombardeamentos, Volodymyr Zelensky lançou um apelo esta manhã para que a população permaneça abrigada.
“Eles estão a tentar destruir-nos, varrer-nos da face da Terra. Atacam o nosso povo que está a dormir em casa em Zaporíjia. Matam as pessoas que vão trabalhar em Dnipro e Kiev. O alarme aéreo não para em toda a Ucrânia. Há mísseis, infelizmente causando mortos e feridos. Por favor, não deixem os abrigos. Cuidem de vocês e dos vossos entes queridos. Vamos aguentar e ser fortes.”
Os serviços de informação ucraniana afirmaram que acreditam que as forças russas no terreno receberam ordens para preparar “ataques maciços de mísseis contra a infraestrutura civil” há uma semana. Entretanto, várias vozes do Governo, incluindo o primeiro-ministro e o ministro dos Negócios Estrangeiros já pediram aos aliados que enviem mais material de defesa antiaérea.
Pelo menos onze mortos no primeiro ataque a Kiev em mais de dois meses
A capital da Ucrânia voltou a ser um alvo nesta segunda-feira, com as sirenes de alerta para ataque aéreo a tocarem durante longos minutos.
Pelas 08h15 (06h15 na hora portuguesa) foram registadas três explosões e avistadas colunas de fumo negro em vários pontos da cidade. Duas horas mais tarde, o jornal “The Guardian” relatava que tinham sido ouvidos "pelo menos nove mísseis" e seis explosões em Kiev na hora e meia anterior.
Segundo Rostislav Smirnov, assessor chefe do Ministério do Interior, pelo menos oito pessoas morreram e outras 24 ficaram feridas. “Houve um incêndio em seis carros e mais outros 15 veículos ficaram danificados.” Ao início da tarde, os Serviços de Emergência ucranianos aumentaram o balanço do número de vítimas para 11 mortos e 64 feridos.
A RIA Novosti afirma que um dos mísseis caiu perto do gabinete de Zelensky e dos serviços de informação ucranianos. Alguns dos mísseis terão também atingido as imediações de missões diplomáticas, nomeadamente junto da Embaixada Portuguesa e do Consulado Alemão.
O autarca de Kiev, Vitali Klitschko, também confirmou no Telegram que houve “vários mísseis disparados contra a infraestrutura crítica da cidade.
Kiev não era visada diretamente por ataques russos há mais de dois meses: o último bombardeamento ocorreu em 26 de junho.
Ataques “de norte a sul e de leste a oeste”
A capital não foi, contudo, a única zona bombardeada. Os ataques atingiram também as regiões de Khmelnytskiy, Lviv, Dnipro (incluindo novamente a cidade natal de Zelensky, Kryvyi Rih), Vinnitsia, Zaporíjia, Sumi, Kharkiv e Jytomyr, “de norte a sul e de leste a oeste” do país, segundo Zelensky.
Em Lviv, o chefe da administração militar regional afirmou no Telegram que foram registados "ataques" contra infraestruturas e apelou aos residentes para permanecerem em abrigos. Maksym Kozytskyi alertou que a cidade está sob a ameaça de "novos ataques com mísseis".
Já o autarca local recorreu à mesma rede social para relatar que várias partes da cidade ficaram sem eletricidade ou água quente: “Os geradores de energia de reserva em várias estações de bombeamento foram iniciados para restabelecer o abastecimento de água. Um terço dos semáforos não funciona”, esclareceu Andriy Sadovyi.
Em Kharkiv, o governador regional afirmou que “o inimigo está a lançar ataques com mísseis sobre infraestruturas essenciais localizadas na região”. Oleh Synyehubov acrescenta que “pode haver falhas no fornecimento de água e eletricidade” e que “todos os serviços de emergência estão a trabalhar para reparar o mais rápido possível as infraestruturas que foram atingidas”.
Também Zaporíjia voltou a ser fortemente atacada, registando-se pelo menos um morto. O ataque aconteceu apenas um dia após o bombardeamento durante a madrugada deste domingo que provocou pelo menos 13 mortos e 87 feridos.
Vaga de ataques é “retaliação” por ataque a ponte na Crimeia
Os bombardeamentos desta segunda-feira acontecem dois dias após bombardeamento da ponte de Kerch, na Crimeia, que o Kremlin considerou um “ato terrorista” cometido pelos serviços secretos ucranianos.
Os analistas consideram que o ataque foi uma forma de “retaliação” pela explosão na ponte da Crimeia. Isto quando o Presidente russo garantiu que haverá uma “resposta ainda mais agressiva” caso se registem mais ataques ucranianos. Vladimir Putin reúne-se, entretanto, esta segunda-feira com o Conselho de Segurança russo.
Para já, os bombardeamentos originaram uma série de reações internacionais, tendo sido amplamente condenados no Ocidente - incluindo pela NATO, que na pessoa de Jens Stoltenberg lamentou os “ataques horríveis e indiscriminados à infraestrutura civil”. O G7 anunciou que vai reunir-se de urgência, com a participação de Zelensky por videochamada.
Durante a manhã, o primeiro-ministro da Moldávia denunciou que a Rússia tinha violado o espaço aéreo do seu país para realizar estes ataques.
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