Na proposta que a Comissão Europeia pôs em cima da mesa na sexta-feira passada, não estavam incluídas as peças de joalharia, à semelhança do que tinha sido o acordo das sete maiores economias do mundo (G7) em junho. No entanto, segundo João Gomes Cravinho, os 27 estão dispostos a ir mais longe. A exceção foi abordada na reunião de ministros dos Negócios Estrangeiros e não houve oposição a que as jóias com ouro russo fossem também travadas nas importações.
Porém, faltam os detalhes que deverão determinar, na prática, como será travada a entrada de ouro nas alfândegas da UE. A negociação ainda decorre e segue ao nível dos embaixadores, esperando-se uma decisão entre quarta e sexta-feira que permita fechar o "novo" conjunto de medidas.
Gomes Cravinho não tem qualquer problema em chamar-lhe de "sétimo pacote" de sanções, mas a Comissão recusa fazê-lo, preferindo falar de uma atualização ou melhoria da implementação do sexto pacote.
Semântica à parte, trata-se de um novo conjunto de sanções que não só inclui o embargo ao ouro, como deverá também passar pela inclusão de novos nomes russos na lista de sancionados. E embora o Conselho desta segunda-feira não tenha entrado nessa questão, fonte comunitária assegurou ao Expresso que o "pacote", se aprovado, deverá aumentar a lista de sancionados próximos do regime de Vladimir Putin ou envolvidos diretamente na guerra da Ucrânia..
Isto, numa altura em que alguns dos nomes já incluídos na lista de sancionados pretendem reverter as sanções em tribunal. "A União Europeia tem mecanismos próprios do Estado de Direito e, portanto, se indivíduos consideram que os seus nomes foram injustamente incluídos têm recurso possível nos tribunais", diz o ministro português, garantindo que não houve "nenhuma discussão política sobre isso" na reunião da diplomacia.
Se avançar, como se espera, o novo pacote não será tão emblemático como os anteriores, que incluíram o setor da energia. Mas, também por isso, deverá ser menos conturbado de aprovar. E apesar de não servir para aquecer casas ou alimentar automóveis, o ouro tem estado no topo das exportações russas (a seguir à energia), representando cerca 18 mil milhões de euros por ano. A outra particularidade deste pacote "6.1" é incluir mecanismos para evitar o aproveitamento das lacunas da lei.
Têm sido várias as críticas à aplicação de sanções, incluindo da parte de alguns líderes europeus - um em particular, Viktor Orbán. Na resposta, o Alto Representante para a Política Externo deixou também recados ao primeiro-ministro húngaro, reafirmando não só que "as sanções funcionam" e "estão a criar problemas económicos à Rússia", como não foi por causa do embargo ao petróleo russo que o preço do mesmo subiu.
"Isso é completamente falso", insistiu Josep Borrell, explicando que o preço começou a subir ante da guerra e que desde que foi aprovado o embargo, o preço tem até descido para níveis anteriores ao início da ofensiva russa na Ucrânia. O espanhol passou ainda uma parte significativa da conferência de imprensa a explicar esta questão com gráficos, contrariando as teses russas.
Fim do bloqueio dos cereais é "questão de vida ou morte"
Mas as expectativas para esta semana não se esgotam na aprovação de mais sanções à Rússia por causa da invasão da Ucrânia. A expectativa da diplomacia europeias está também num acordo para desbloquear os milhões de toneladas de cereais que continuam na Ucrânia.
O chefe da diplomacia europeia tem "esperança que, esta semana, seja possível chegar a um acordo para desbloquear o porto de Odessa e outros portos ucranianos". Josep Borrell avisa que milhares de vidas em vários continentes dependem desse acordo. "Não é um jogo diplomático, é uma questão de vida ou morte para muitos seres humanos. E a questão é que a Rússia tem de desbloquear e permitir que os cereais ucranianos sejam exportados".
Gomes Cravinho também se mostra otimista, mas mais cauteloso. "Acredito que ao longo dos próximos dias possamos ter boas notícias, mas até tudo estar decidido nada está decidido."
Von der Leyen no Azerbaijão por causa do gás
Voltando ao capítulo da energia, e numa altura em que paira a ameaça russa de um corte total de gás aos europeus, a presidente da Comissão Europeia foi a Bacu reforçar a cooperação entre os dois blocos, com vista à duplicação do fornecimento de gás a partir do Azerbaijão .
"Com este novo Memorando de Entendimento, inauguramos hoje um novo capítulo da cooperação energética da UE com o Azerbaijão, que é um parceiro fundamental na nossa intenção de deixarmos de utilizar os combustíveis fósseis russos", disse Ursula von der Leyen no final do encontro como o Presidente do país, Ilham Aliyev,
"Não só procuramos reforçar a parceria existente, que garante um aprovisionamento estável e fiável de gás à UE através do Corredor Meridional de Gás, mas também queremos lançar as bases de uma parceria a longo prazo no domínio da eficiência energética e das energias limpas", concluiu.
O compromisso passa por "duplicar a capacidade do Corredor Meridional de Gás, a fim de fornecer anualmente à UE, pelo menos, 20 mil milhões de metros cúbicos até 2027", pode ler-se em comunicado. O objetivo fundamental é permitir que a Europa deixe de estar dependente do gás russo. O Azerbaijão já começou a aumentar as entregas de gás natural à EU. Deverão passar de 8,1 mil milhões de metros cúbicos em 2021 para 12 mil milhões de metros cúbicos em 2022.