Guerra na Ucrânia

“Geração Putin”: por causa da guerra, “oportunidades estão a desaparecer” para os jovens russos

“Geração Putin”: por causa da guerra, “oportunidades estão a desaparecer” para os jovens russos
Mikhail Svetlov/Getty Images

O impacto da invasão da Ucrânia é sentido no dia a dia por todos os russos, mas os mais jovens vivem pela primeira vez alterações no país que conheceram sempre com o mesmo Presidente. Dificuldades académicas e de oportunidades profissionais geram preocupação

Desde o início da invasão da Ucrânia, a 24 de fevereiro, têm-se multiplicado as consequências no quotidiano dos russos: empresas multinacionais abandonaram o país e as sanções internacionais afetaram a economia. A previsão de abril do Banco Mundial aponta para uma contração de 11,2% da economia russa em 2022. Quanto ao impacto nos mais jovens, é algo difícil de medir, mas têm sido várias as alterações nas vidas daquela que é conhecida como a “Geração Putin”.

A geração que cresceu sob a presidência de Putin, que começou em 2012, tem agora entre 17 e 25 anos de idade e vive num país em mudança – ir ao McDonald’s, ver os mais recentes filmes de Hollywood ou usar redes sociais como o Instagram são exemplos de situações que já não fazem parte do quotidiano.

No entanto, as diferenças não se sentem só ao nível das atividades de lazer, mas também nas dificuldades nos percursos académico e profissional dos mais novos, como explicaram alguns especialistas à publicação Insider.

“Muitas empresas multinacionais tinham prometido boas e estáveis carreiras, onde é possível avançar com base nos méritos, numa espécie de modelo capitalista ocidental tradicional”, aponta Andrew Lohsen, membro do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS).

“Essas oportunidades estão a desaparecer à medida que estas empresas deixam a Rússia e que algumas das indústrias que prometeram salários elevados estão a começar a ser prejudicadas por sanções”, acrescenta. Os sectores do petróleo, gás e tecnologias de informação são algumas das áreas em que as multinacionais estão a sair em massa, limitando as oportunidades profissionais.

Impacto no sistema educativo

A preocupação passa também pelo futuro do sistema académico, nomeadamente devido à saída da Rússia do Processo de Bolonha. “O que isso significa é que os russos que estão a pensar obter um curso superior na Europa – especialmente um diploma profissional ou de doutoramento – terão muito mais dificuldade em tentar entrar nas universidades europeias”, explica Lohsen. Regressando ao padrão soviético, será muito difícil para uma universidade europeia verificar as credenciais académicas.

Há também questões ao nível da liberdade de pensamento e debate. “O que estamos a ver é a politização do sistema educativo e isso vai de cima para baixo. Há uma verdadeira viragem brusca na educação russa no sentido de abraçar a narrativa estatal e excluir qualquer tipo de dúvida ou alternativas e punir aqueles que saem da linha”, acrescenta o especialista.

Apesar dos receios e de um possível descontentamento, nomeadamente dos jovens, é improvável que surja agitação política devido ao contexto de propaganda, com meios de comunicação social amplamente controlados pelo Estado ou ligados ao Kremlin e com o próprio Estado, os militares e a igreja no centro da sociedade russa, indica Lohsen.

“Uma revolução é mais provável numa democracia do que numa autocracia – porque numa democracia pode simplesmente haver uma eleição”, refere Hassan Malik, analista especialista em história financeira, que acrescenta que a situação económica era pior no período da União Soviética e nada mudou.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: scbaptista@impresa.pt

Comentários
Já é Subscritor?
Comprou o Expresso?Insira o código presente na Revista E para se juntar ao debate