Putin volta a justificar guerra na Ucrânia no Dia da Vitória: “Era a única solução. Foi uma decisão tomada por um país soberano e forte"
MAXIM SHEMETOV
No discurso no Dia da Vitória, a guerra na Ucrânia foi apresentada pelo Presidente da Rússia como uma continuidade do combate ao nazismo e uma necessidade face à “ameaça direta à nossa fronteira”. Putin alega que não quer que haja uma nova guerra mundial. Na sua perspetiva, as forças russas estão a lutar para que a memória da Segunda Guerra Mundial “nunca seja esquecida” e afirma que vão “punir os nazis”
A vista aérea da manhã desta segunda-feira sobre a Praça Vermelha, em Moscovo, revelava o exército russo alinhado em quadrados com limites perfeitamente desenhados, preparado para a cerimónia do Dia da Vitória. As celebrações do feriado de 9 de maio, que marca a vitória da União Soviética sobre a Alemanha nazi, foram usadas como plataforma para justificar a invasão da Ucrânia.
“Tentámos encontrar soluções de compromisso e ter o interesse de todos em mente mas foi tudo em vão. Os países da NATO não nos quiseram ter em atenção, o que significa que tinham planos completamente diferentes”, discursou o Presidente da Rússia, Vladimir Putin. “Outra operação punitiva em Donbas, uma invasão das nossas terras históricas, incluindo a Crimeia, estava abertamente em andamento. Kiev declarou que poderia obter armas nucleares. O bloco da NATO fez um reforço militar ativo nos territórios adjacentes aos nossos. Por isso era uma ameaça absolutamente inaceitável que estava a ser criada nas nossas fronteiras”, acrescentou.
Note-se que a possibilidade do uso de armas nucleares na guerra tem sido uma preocupação, mas a ameaça tem partido de dirigentes russos. Em março, um porta-voz do Kremlin não descartou a possibilidade de a Rússia usar armas nucleares na Ucrânia, indicando que “se houver uma ameaça existencial" para a Rússia, "então podem ser usadas”. Em abril, o vice-presidente do Conselho de Segurança e ex-Presidente russo, Dmitri Medvedev, ameaçou o destacamento de armas nucleares no Báltico se a Suécia e a Finlândia aderissem à NATO.
E têm existido outros motivos de alerta. Em abril, o ministro dos Negócios Estrangeiros russo alertou para o “perigo real” de uma Terceira Guerra Mundial. Mas esta segunda-feira Putin disse o contrário: “Temos o dever de recordar todos os que ganharam sobre o fascismo e assegurar que o horror de uma guerra mundial não se vai repetir”.
O Presidente mantém a alegação de que a invasão da Ucrânia é uma forma de defesa da Rússia. Putin apontou o desenvolvimento da infraestrutura militar do país vizinho e o facto de ter recebido armas modernas de países da NATO para concluir que “era uma ameaça que estava a a crescer a cada dia" e sobre a qual era preciso "fazer alguma coisa”. “Era a única solução. Foi uma decisão tomada por um país soberano e forte”, disse.
E deixou uma mensagem às forças russas: “Estão a lutar pela vossa pátria, pelo futuro da vossa pátria. Estão a lutar para que a memória da Segunda Guerra Mundial nunca seja esquecida, vamos punir os nazis”.
Moscovo alega que veteranos americanos foram impedidos de ir à parada
O Presidente russo fez referência às baixas na guerra, indicando que assinou um decreto para dar apoio às famílias de quem foi morto ou ferido, nomeadamente às crianças. E durante um minuto a Praça Vermelha esteve em silêncio pelos soldados que “deram a sua vida para defender a pátria".
Segundo Putin, alguns dos presentes na parada estiveram na linha da frente do Donbas. “Lembramo-nos de como os inimigos do nosso país tentaram usar terrorismo internacional contra nós, tentaram fazer o nosso país mais fraco”, alegou o líder da Rússia, defendendo a necessidade de tornar o país seguro.
O discurso de Putin não deixou de parte críticas aos Estados Unidos, alegando que depois do colapso da União Soviética os EUA “humilharam não só o mundo inteiro mas também os Estados satélite” e que “a Rússia tem um caráter diferente”.
“Os veteranos americanos que queriam vir à parada em Moscovo não podiam vir, foram banidos de fazer isso. Mas gostávamos de dizer: estamos orgulhosos de serem nossos aliados, de terem participado na vitória. Respeitamos os americanos, franceses e britânicos que sempre fizeram parte da guerra contra o fascismo. Também estamos orgulhosos do povo chinês que fez o mesmo para vencer o fascismo”, disse.
Recorde-se que Pequim não criticou a Rússia pela invasão da Ucrânia.