Pedro Sánchez não se demite: “depois de refletir, decidi continuar com mais força”
Pedro Sánchez
THOMAS COEX/AFP/Getty Images
A decisão foi revelada após cinco dias em suspenso na sequência do anúncio de que iria parar para refletir se devia continuar em funções. O primeiro-ministro mostrou-se consciente de que a “campanha de assédio e difamação” contra a sua mulher “não vai parar”, mas assegurou que conseguem “enfrentar” essa campanha
O primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, anunciou esta segunda-feira que continuará em funções. “Depois de refletir, decidi continuar. Vou continuar com mais força”, garantiu, agradecendo a “solidariedade e empatia” que recebeu nos últimos dias.
Após um período de cinco dias de reflexão sobre a sua continuidade no cargo, na sequência do que descreveu como uma “campanha de assédio” contra a sua mulher, Begoña Gómez, o chefe do Governo mostrou-se consciente de que “esta campanha de difamação não vai parar”, mas assegurou que conseguem “enfrentá-la”.
“Graças à mobilização” dos últimos dias para que continuasse em funções, Sánchez afirmou: “Assumo a decisão de continuar, se possível com mais força ainda. O que está em causa não é o destino de um determinado líder. Trata-se de decidir que tipo de sociedade queremos ser. O nosso país precisa desta reflexão. Durante demasiado tempo deixámos que a lama contaminasse a nossa vida pública”.
“Apelo à sociedade espanhola para que, mais uma vez, dê o exemplo. Os males que nos afetam fazem parte de um movimento global. Mostremos ao mundo como se defende a democracia”, exortou.
No início da comunicação ao país, Sánchez ainda alimentou o suspense. “Na quarta-feira passada, escrevi uma carta aos cidadãos, perguntando-me se valia a pena. Tenho uma resposta clara. Se permitirmos ataques a pessoas inocentes, então não vale a pena. Se permitirmos que as mentiras substituam o debate, então não vale a pena. Precisava de parar e refletir. A carta pode ser desconcertante porque não é politicamente calculada. Reconheci perante aqueles que procuram quebrar-me que me custa viver estas situações. Agi com uma convicção clara. Não se trata de uma questão ideológica”, garantiu.
O primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, e a sua mulher, Begoña Gómez, numa festa no palácio de Alhambra, em Granada
A política espanhola ficou em suspenso na quarta-feira da semana passada, depois de Sánchez anunciar que ponderava demitir-se e que ia parar para refletir durante cinco dias, cancelando a sua agenda pública.
O anúncio foi feito no dia em que um tribunal de Madrid confirmou a abertura de um “inquérito preliminar” por alegado tráfico de influências e corrupção da mulher do socialista, na sequência de uma queixa de uma organização conotada com a extrema-direita baseada em alegações e artigos publicados na Internet.
O Ministério Público pediu logo no dia seguinte, quinta-feira, o arquivamento da queixa, por considerar não haver indícios de delito que justifiquem a abertura de um procedimento penal.
Segundo o também secretário-geral do Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE, de centro-esquerda), ele próprio e a mulher estão há meses a ser vítimas da “máquina de lodo” da direita (Partido Popular, PP) e da extrema-direita (Vox).
Na carta que tornou pública na quarta-feira, Sánchez escreveu que não sabia se valia a pena continuar à frente dos cargos perante um “ataque sem precedentes, tão grave e tão grosseiro”. “Muitas vezes esquecemo-nos de que por trás dos políticos há pessoas”, afirmou, num texto publicado na rede social X.