Três quartos do Parlamento regional basco nas mãos dos nacionalistas (uns moderados, outros não) após as eleições deste domingo
Imanol Pradales, do Partido Nacionalista Basco (na imagem, a votar em Portugalete, na Biscaia) é o mais provável futuro chefe do governo autonómico
H.Bilbao/Europa Press/Getty Images
O Partido Nacionalista Basco (PNV) deve continuar a governar, renovando o atual pacto com os socialistas. O Unir o País Basco (EHB), com ligações históricas à ETA, segue-o de perto
O Partido Nacionalista Basco (PNV, nacionalistas moderados de centro-direita) venceu as eleições regionais deste domingo na região homónima de Espanha, por uma margem mínima sobre o também nacionalista Unir o País Basco (Euskal Herría Bildu, EHB, esquerda independentista, sucessora do braço político da organização terrorista ETA). Com 35,18% e 32,54% dos votos, respetivamente, terão 27 deputados cada num hemiciclo de 75, e um dos dois presidirá ao governo autonómico. Na anterior legislatura, o PNV tinha 31 assentos, mais dez do que o EHB.
A decisão sobre que nacionalismo içar ao poder caberá, com alta probabilidade, ao Partido Socialista Basco (PSE, ramo regional do Partido Socialista Operário Espanhol), que, com 14,23% e 12 deputados (mais dois do que tinha), tem hipótese de formar maioria com qualquer dos anteriores. Também terão representação parlamentar o Partido Popular (PP, direita, 9,21%, sobe de seis para sete lugares), o Somar (esquerda radical, concorreu pela primeira vez e tem 3,34% e um deputado) e o Vox (extrema-direita, 2,04%, mantém um). O Podemos (esquerda radical) perde os seus seis.
Dos 1,8 milhões de bascos chamados às urnas, votaram cerca de 62%. Os resultados favorecem a reedição do pacto que viabilizou executivos PNV-PSE nas últimas duas legislaturas, sob o lehendakari (chefe do governo autonómico) Íñigo Urkullu, nacionalista. Este não se recandidatou, pelo que o nome mais provável para lhe suceder é o do seu companheiro de partido Imanol Pradales, cabeça de lista na batalha deste domingo.
“Ari, ari, ari, Imanol lehendakari!”, gritavam os apoiantes de Pradales na sede do PNV em Bilbau. Bom sintoma do quase empate, no mercado da mesma cidade onde se reúnem os adeptos do EHB, ouvia-se “Ari, ari, ari, Pello lehendakari”, em referência ao seu cabeça de lista, Pelo Otxandiano.
O hegemónico PNV
“O mapa político já mudou. A esquerda soberanista está no centro da política. Vamos no bom caminho e vamos depressa”, comentou este último. “Há duas formas de ver estes resultados: uma é a visão do partido, são os melhores resultados que obtivemos na história. Outra é a visão do povo. Não nos cansaremos de dizer que deixam um recado: temos de mudar as políticas públicas.” O EHB terá conquistado muitos votos, sobretudo de jovens que não conheceram os anos de chumbo da ETA, apostando em políticas sociais, mais do que na questão nacional que domina a política basca. Ainda assim, Otxandiano promete “um salto de soberania”.
Conservador, com boas relações com o empresariado e a igreja católica, o pragmático PNV é a força hegemónica no País Basco. Governou a região durante todo o período democrático, exceto no intervalo 2009-12, em que um pacto PSE-PP elevou a lehendakari o socialista Patxi López. Já o EHB é herdeiro da extinta Batasuna, que, sob vários nomes, foi ao longo das três últimas décadas do século XX o braço político do grupo terrorista que se dissolveu em 2018.
Convocadas pela direita e extrema-direita espanholas, milhares de pessoas manifestaram-se em Pamplona contra o pacto entre os socialistas e o Bildu, partido com ligações históricas ao terrorismo da ETA
“Ganhámos as eleições. Hoje ganhou a democracia. Se algo ficou claro é que esta sociedade é plural”, frisou Pradales, do PNV, que, por coincidência, faz este domingo 49 anos. “Formarei um governo de mulheres e homens qualificados. Devemo-lo à sociedade basca, que confiou em nós. Com humildade, com trabalho, darei tudo pelo País Basco”.
“Este apoio lança uma mensagem clara para avançar rumo ao futuro da sociedade basca. Sabemos interpretar a mensagem que nos fizeram chegar”, afirmou o presidente do Comité Executivo Nacional do PNV, Andoni Ortuzar, em reação aos resultados. “Não vamos falhar à confiança depositada em nós. Vamos dar tudo para fortalecer a convivência e governar para toda a gente.”
Sem adiantar já que vai pactuar com o PNV, o candidato socialista, Eneko Andueza, referiu um “extraordinário resultado” e prometeu que este “vai servir para melhorar a vida dos bascos e das bascas, para proteger os nossos serviços públicos, para garantir a pluralidade, para fazer a política que querem”. Remete uma decisão sobre acordos de governo para segunda-feira.
Pello Otxandiano, do EHB, celebrou o bom resultado da esquerda independentista outrora ligada ao terrorismo etarra
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Quer o PNV quer o EHB fazem parte da base de apoio ao Governo espanhol, chefiado por Pedro Sánchez (PSOE) e de coligação com o Somar. Também apoiam o socialista forças catalãs, galegas e canárias. Pode-se dizer que os partidos do Executivo central e seus parceiros parlamentares se saíram bem, tal como o PP. O grande derrotado é o Podemos, tornado irrelevante face à ascensão do Somar.
Novo governo toma posse em junho
O novo executivo basco deve tomar posse até ao final de junho. O Parlamento regional deve constituir-se dentro de uma semana, para a XIII legislatura, prevendo o diário “El Correo” que a primeira sessão plenária aconteça a 20 de maio, elegendo a mesa.
Para meio de junho ficaria a investidura do lehendakari. Todos os partidos com assentos parlamentares podem propor candidatos. É eleito numa primeira volta quem obtiver maioria absoluta (38 votos); caso falhe, na segunda volta exige-se apenas maioria simples. Dois dias depois de eleito, o chefe do governo jura o cargo em Guernica e anuncia a sua equipa.