Catalunha vai a votos a 12 de maio, depois de chumbo do orçamento regional

Faltou um voto ao Governo do independentista Pere Aragonès para aprovar as contas. Esquerda radical não acompanhou socialistas no apoio ao executivo autonómico
Faltou um voto ao Governo do independentista Pere Aragonès para aprovar as contas. Esquerda radical não acompanhou socialistas no apoio ao executivo autonómico
Editor da Secção Internacional
Dizer que em democracia por um voto se ganha e por um voto se perde é lugar-comum, mas tem aplicação prática. Que o diga Pere Aragonès, presidente do governo regional da Catalunha, que viu o parlamento autonómico rejeitar esta quarta-feira, por 68 contra 67 votos, a sua proposta de orçamento para 2024. Em rigor, foram aprovadas quatro “emendas à totalidade”, apresentadas por forças da oposição, o que equivale a um chumbo.
Em vez de tentar nova proposta, o governante, da Esquerda Republicana da Catalunha (ERC), à frente de uma administração minoritária, prefere dar a voz ao povo. A ida às urnas será a 12 de maio. Normalmente a legislatura terminaria em fevereiro de 2025.
Aragonès contou apenas com o apoio do Partido dos Socialistas da Catalunha (PSC), ramo regional do Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE, centro-esquerda, do primeiro-ministro Sánchez), e de uma deputada independente outrora membro do Juntos pela Catalunha (JxC), partido de direita de Carles Puigdemont que rivaliza com a ERC no campo nacionalista catalão.
A ERC e o PSC têm 33 deputados cada. Precisavam de mais dois apoios, só conseguiram um. A formação Em Comum Podemos (ECP, esquerda radical), frequentemente próxima daquelas duas, recusou-se a apoiar o orçamento por se opor ao plano para construir um grande casino em Tarragona. A ERC criticou a bancada do ECP, que há dois anos aprovou a compra de terrenos para esse megaprojeto.
Ainda houve polémica quando a presidente do Parlamento catalão, Anna Erra (JxC), adiou a votação da manhã para a tarde. Ora, a diferença é que nessa altura estava ausente um deputado do Vox (extrema-direita), pelo que o orçamento teria passado. Assim, votaram contra JxC, Vox, ECP, Candidatura de Unidade Popular (extrema-esquerda independentista), Cidadãos (centro-direita liberal), Partido Popular (centro-direita) e um independente ex-Vox.
As movimentações políticas catalãs podem ter eco nacional, já que o Executivo de Sánchez, assente numa coligação do PSOE com a frente de esquerda radical Somar, depende do apoio parlamentar de nacionalistas catalães, bascos, galegos e regionalistas vários. Está em debate também o orçamento de Estado espanhol.
“Assumo a responsabilidade por este bloqueio”, afirmou Aragonès. “As linhas vermelhas e os vetos cruzados não foram contra o Governo, mas contra os cidados da Catalunha, contra os seus interesses e os serviços públicos.”
Acusando de “irresponsabilidade” os partidos que chumbaram o orçamento, o presidente catalão decide antecipar as eleições. Espra que assim “a Catalunha possa ter um Governo com muito mais força”.
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