Espanha

As 13 vítimas do incêndio em discoteca de Murcia seriam imigrantes

As 13 vítimas do incêndio em discoteca de Murcia seriam imigrantes
Juan Carlos Caval

O incêndio, que ocorreu durante a madrugada de domingo, vitimou 13 pessoas da Nicarágua, Equador e Colômbia. A discoteca teria uma ordem de encerramento, emitida há um ano, mas nunca foi cumprida

Todas as 13 vítimas do incêndio, ocorrido na madrugada de domingo, na discoteca Fonda Milagros, em Murcia, seriam imigrantes, avança o jornal “El Mundo”. As nacionalidades dividem-se entre nicaraguenses (5), colombianos (4) e equatorianos (4). Seis das vítimas foram identificadas esta terça-feira, através de impressões digitais. Falta confirmar através do ADN que as restantes sete pessoas encontradas correspondem às que foram dadas como desaparecidas pelos familiares.

Juan Ángel Navidad, oficial dos Bombeiros de Murcia, explicou ao “El País” que demoraram cerca de oito minutos a chegar ao local, mas o fogo já tinha atingido as duas discotecas.

Os 13 corpos foram todos encontrados na mesma zona da discoteca. Quatro das vítimas foram descobertas na casa de banho, onde se presume que tenham tentado refugiar-se, sete encontravam-se no corredor de uma zona reservada e as restantes duas entre os escombros perto da casa-de-banho.

“Mamã, eu amo-a. Nós vamos morrer. Mamã, eu amo-a”

Leidy Correa e Kevin Alejandro, ambos colombianos, tinham ido à discoteca com os amigos Jorge Batioja e Rosa María Rosero, casal equatoriano com três filhos menores. Tanto quanto se sabe, Leidy terá sido a única a comunicar durante o incêndio ao enviar um áudio de despedida à mãe por volta das seis da manhã. “Mamã, eu amo-a. Nós vamos morrer. Mamã, eu amo-a”, dizia. Em relação a Jorge e Rosa, Jessica Batioja, irmã de Jorge, colocou no Facebook um pedido para ajudar a localizá-los, após ter reparado que o carro do casal estava estacionado perto da discoteca.

Erik Torres Hernández, nicaraguense, celebrava o seu 30º aniversário com a namorada Orfilia Blandón, também da Nicarágua. Para a festa, teriam reservado um espaço no primeiro andar. Erik era pai de uma menina de sete anos.

Também na festa de aniversário de Erik encontrava-se a sua mãe, Martha Hernández, e o meio-irmão, Sergio Silva Hernández, com 62 e 39 anos respetivamente. Ainda faltava identificar Erik, Orfilia e Martha, tendo apenas Sergio sido identificado, de acordo com Carlos Hernández, avô do aniversariante, em declarações ao site nicaraguense 100noticias.com. “Aqui no cemitério de Chinandega [Nicarágua] tenho um lugar onde está toda a minha família, e aqui quero tê-los todos”, afirmou o avô que não via os netos há seis anos, desde que se tinham mudado para Espanha.

Tania Salazar e o seu namorado John, a primeira da Nicarágua e o segundo do Equador, estavam igualmente a festejar com Erik. Também Yosi Esteban, colombiano, e Rafael Miranda, equatoriano, eram amigos do aniversariante e encontrava-se na discoteca quando ocorreu o incêndio.

Olga Lucrecia, conhecida como “Lula”, perdeu-se do marido, Ferney Lozano, um conhecido apresentador de rádio em Murcia. Em entrevista ao “El Español”, o locutor explicou que tentou encontrar a esposa durante o incêndio, mas foi impossível.

Uma ordem de encerramento que nunca foi executada

A discoteca Fonda Milagros terá aberto as portas, em maio de 2019, antes de ter pedido uma licença à Câmara Municipal. Só a 27 de junho desse ano é que foi iniciado o processo de legalização da atividade, tendo sido requerida a divisão em dois espaços distintos. Passaria a existir a discoteca Teatre, que estava aberta desde 2008, com um ambiente mais juvenil, e a discoteca Fonda Milagros focada em música latina.

A Câmara Municipal de Murcia explicou que as duas discotecas envolvidas no incêndio possuíam uma ordem de fecho de atividade desde janeiro de 2022. Uma ordem que foi emitida na mesma altura em que foi recusado o pedido para dividir o espaço em duas discotecas. Em outubro de 2022, foi pedido aos serviços de inspeção que verificassem a cessação de atividade, mas os espaços continuaram a funcionar até ao incêndio.

O jornal “El Mundo” avança que o funcionário responsável por dar seguimento à ordem de encerramento acabou por não a cumprir porque as discotecas estavam em processo de legalização. Fontes da câmara municipal afirmaram que esta situação não deveria ter acontecido, porque “são dois processos independentes e o início do segundo não paralisa a execução do encerramento”.

O vereador de urbanismo, Antonio Navarro, e o presidente da Câmara, José Ballesta, asseguram que a responsabilidade de fecho seria da empresa. Contudo, os advogados da discoteca Teatre afirmam que a Câmara tinha conhecimento que continuavam em funcionamento e insistem que possuiam licença.

Já o advogado da discoteca Fonda Milagros, Francisco Adán, assegurou que nunca receberam qualquer ordem de cessação de atividade e que o contrato de aluguer com a Teatre implicava uma licença de funcionamento. María Dolores Abellán, advogada da Teatre, afirma que os documentos da discoteca estavam de acordo com a legislação e que terá sido no espaço vizinho que começou o incêndio.

Francisco Adán explica ainda ao “El País” que, há cerca de um ano, o espaço tinha sido alvo de uma inspeção municipal que ordenou que fossem trocadas as portas de entrada para umas corta fogo e que fossem retiradas as decorações altamente inflamáveis. Alterações que, segundo o representante, foram cumpridas.

Segundo o jornal “El País”, o Tribunal de Instrução já abriu um processo crime devido às 13 mortes.

Para já, a polícia continua no local a apurar as causas do incêndio e a sua origem.

Texto de Eunice Parreira editado por Mafalda Ganhão

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