Europa

Mudança à vista na Polónia, com coligação de Donald Tusk a chefiar próximo Governo

Donald Tusk tira o casaco para se dirigir aos apoiantes da Coligação Cívica, que poderá encabeçar o próximo Governo polaco
Donald Tusk tira o casaco para se dirigir aos apoiantes da Coligação Cívica, que poderá encabeçar o próximo Governo polaco
JANEK SKARZYNSKI/AFP/Getty Images

Coligação Cívica do europeísta Donald Tusk poderá, a confirmarem-se os prognósticos, formar Governo com a Terceira Via e a Esquerda. Seria o fim do mandato dos ultraconservadores do Partido Lei e Justiça após oito anos

Mariana Abreu, na Polónia; e Pedro Cordeiro

As projeções à boca da urna na Polónia indicam que apesar de a frente chefiada pelo Partido Lei e Justiça (PiS, no poder desde 2015) ter sido o mais votado, a oposição de centro-esquerda poderá governar o país. Com a mais alta taxa de participação desde que o comunismo deu lugar à democracia (73%), as legislativas deste domingo terão representado a rejeição do Governo ultraconservador.

O Expresso presenciou o ambiente era de festa na sede da Coligação Cívica (KO), maior força da oposição, em Gdansk. Uma contagem de crescente deu lugar a euforia e celebração às 21h locais (20h em Portugal Continental), quando saíram os primeiros – mas ainda não definitivos – resultados.

Com 36,8% dos votos na projeção do instituto IPSOS, a Direita Unida — composta pelo PiS, do primeiro-ministro Mateusz Morawiecki e comandado por Jaroslaw Kazcyński; Polónia Soberana; Republicanos; Kukiz 15 (populista); Renovar a República da Polónia; e Assuntos Polacos — terá 200 dos 460 deputados que compõem o Sejm, câmara baixa do Parlamento. Ainda que se aliasse à Confederação (direita radical, 6,2% e 12 assentos), ficaria aquém dos 231 que dão maioria absoluta.

Essa está ao alcance, pelo contrário, da KO, frente de centro europeísta chefiada pela Plataforma Cívica do antigo primeiro-ministro Donald Tusk, a que se somam Partido Moderno; Iniciativa Polaca; Verdes; liberais do Movimento Bom; e União Agrária. Com 31,6% dos sufrágios e 163 lugares, a KO poderá viabilizar um Executivo se chegar a acordo com a também centrista Terceira Via (13%, 55 deputados, agregando Partido Popular, Polónia 2050, União de Democratas Europeus, Acordo pela Democracia e Centro pela Polónia) e a Nova Esquerda (8,6%, 30 deputados, soma de Nova Esquerda, Esquerda Unida, Partido Socialista, União Trabalhista, Social-Democracia Polaca; e Liberdade e Igualdade).

Duas formações de âmbito nacional não atingiram o limiar de 5% exigido para ter representação parlamentar: Ativistas do Governo Local Sem Partido e Existe Uma Polónia (populista antivacinas). Haverá ainda um deputado da do partido Minoria Alemã, que por lei está isento desse limiar.

“Sou a pessoa mais feliz da Terra”

Em uníssono, os apoiantes da KO gritaram “Democracia!” e, depois, “Donald Tusk”, enquanto este discursava no grande ecrã. O homem que governou entre 2007 e 2014, e que presidiu ao Conselho Europeu nos cinco anos seguintes, promete inverter o rumo de confronto com Bruxelas e ameaça ao Estado de Direito que marcou os anos do PiS no poder.

“Sou a pessoa mais feliz da Terra”, afirmou Tusk em reação às projeções. Este dia ficará para a História como um dia brilhante, o dia do renascimento da República da Polónia.

Kazcyński, líder do PiS e também ele ex-primeiro-ministro, proclamou vitória, mas reconheceu ser incerto que “esse êxito possa converter-se em mais um mandato no Governo”. Parecendo conformar-se com o desaire, prometeu “não permitir traições à Polónia” quer esteja “no poder ou na oposição”. Durante a campanha, Kazcyński insinuou que um triunfo da oposição poria em causa a própria soberania da Polónia.

Jaroslaw Kaczynski (à direita na imagem), chefe do Partido Lei e Justiça (PiS) e o seu aliado e primeiro-ministro Mateusz Morawiecki numa noite de vitória amarga
WOJTEK RADWANSKI/AFP/Getty Images

Cabe ao Presidente Andrzej Duda (PiS) indigitar o chefe do próximo Executivo, após a contagem oficial dos votos. Sem que a lei o exija, a convenção dita que seja o chefe do partido mais votado a ter a primeira oportunidade de tentar formar Governo. Tem, então, 14 dias para assegurar uma maioria parlamentar, ou seja, 231 votos a favor.

Caso não consiga, é aos deputados que cabe a escolha do aspirante seguinte. São precisos 10% dos eleitos (46, portanto) para designar um candidato, o qual necessitará de mais votos a favor do que contra, independentemente do seu número, para ser empossado, na condição de estarem presentes pelo menos 50% dos deputados.

Tusk já dá de barato que Morawiecki não chegará a bom porto, assegurando: “Criaremos um novo Governo bom e democrático com os nossos parceiros”. Considera estarem no fim oito anos de “mal”.

Referendo não serviu de muito

O PiS agendou para o dia das legislativas um referendo com quatro perguntas, que muitos leram como tentativa de promover as suas causas e puxar à participação dos polacos mais próximos do Governo cessante.

Uma questão tinha que ver com o aumento da idade da reforma para os 67 anos, ao passo que as outras três versavam temas de soberania: venda de ativos estatais a entidades estrangeiras; remoção da cerca fronteiriça entre a Polónia e a Bielorrússia; e adoção das quotas de acolhimento de migrantes da União Europeia.

Morawiecki afirmou no canal Polsat News que o seu partido granjeou uma “vitória histórica”, e acusou a oposição de comportamento antidemocrático” por ter criticado o referendo.

Já Sławomir Mentzen, vice-líder da Confederação, assumiu a derrota. Não adianta esconder que falhámos. Deveríamos ter virado a mesa, mas não conseguimos”. O partido chegou a valer mais de 15% nas sondagens, prevendo-se que elegesse até 50 deputados.

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