O ex-Presidente norte-americano Barack Obama e a ex-candidata presidencial democrata Kamala Harris criticaram quinta-feira as empresas de media por cederem a pressões de Donald Trump, na sequência do afastamento do humorista Jimmy Kimmel.
O programa de Jimmy Kimmel foi suspenso por tempo indeterminado pela cadeia televisiva norte-americana ABC, na quarta-feira, por comentários feitos sobre Charlie Kirk, ativista conservador assassinado em 10 de setembro, e após estes serem criticados publicamente pelo líder da Comissão Federal de Comunicações (FCC, na sigla em inglês), Brendan Carr.
A ex-vice-presidente democrata Kamala Harris retratou a situação como "um flagrante abuso de poder".
"Este governo está a atacar os críticos e a usar o medo como arma para silenciar quem se manifesta", acusou na rede social X.
"As empresas de comunicação social --- de redes de televisão a jornais --- estão a capitular perante estas ameaças", criticou.
No seu monólogo na segunda-feira, Kimmel disse que, após a morte de Kirk, o país atingiu "novos níveis mínimos".
"O gangue MAGA ['Make America Great Again', movimento que apoia Trump] tentou desesperadamente caracterizar o tipo [Tyler Robinson] que assassinou Charlie Kirk como qualquer coisa que não um deles, fazendo tudo o que podia para obter ganhos políticos", disse o humorista.
Segundo o presidente da divisão de radiodifusão da Nexstar (empresa que representa os canais locais afiliados da ABC), Andrew Alford, "os comentários do Sr. Kimmel sobre a morte do Sr. Kirk são ofensivos e insensíveis, num momento crítico do discurso político nacional".
A pressão da Nexstar veio na sequência de críticas do presidente da FCC, classificando os comentários de Kimmel como "verdadeiramente doentios".
Carr frisou ainda que a sua agência tem poderes para responsabilizar a Walt Disney Co., a empresa-mãe da ABC, por disseminar desinformação.
Para Kamala Harris, "não se pode ousar ficar calado ou complacente perante este ataque frontal à liberdade de expressão".
"Nós, o Povo, merecemos algo melhor", afirmou a ex-procuradora da Califórnia.
Tal como Stephen Colbert, célebre humorista da CBS, Kimmel tem satirizado no seu programa na ABC Donald Trump e muitas das suas políticas.
A CBS anunciou no verão passado que iria cancelar o programa de Colbert no final desta temporada, alegando motivos financeiros, embora alguns críticos questionem se a sua posição em relação a Trump teve algum impacto.
Também o ex-presidente Barack Obama reagiu ao afastamento de Kimmel, com críticas aos republicanos
"Depois de anos a queixar-se da cultura do cancelamento, o atual governo elevou a situação a um novo e perigoso patamar, ameaçando rotineiramente com medidas regulatórias as empresas de comunicação social, a menos que amordacem ou despeçam repórteres e comentadores de que não gosta", publicou Obama nas redes sociais.
"Este é precisamente o tipo de coerção governamental que a Primeira Emenda (da Constituição) foi criada para travar --- e as empresas de comunicação social precisam de começar a tomar uma posição, em vez de capitularem perante ela."
Em Washington, os democratas no Congresso denunciaram hoje as ameaças da administração Trump contra os seus críticos e apresentaram uma lei que reforçaria as proteções da liberdade de expressão perante funcionários do governo.
Num Congresso controlado pelos republicanos, refere a AP, é improvável que o projeto-lei seja aprovado, mas os democratas aproveitaram a conferência de imprensa de apresentação do mesmo para criticar duramente a administração Trump por pressionar a ABC a suspender o programa de Kimmel.
"O que Brendan Carr está a fazer é desprezível", disse o líder democrata no Senado, Chuck Schumer, responsabilizando também o Presidente por uma campanha orquestrada para silenciar vozes críticas.
Schumer pediu mesmo a demissão do presidente da FCC, Brendan Carr, por intimidar a ABC e levar à suspensão do apresentador do programa noturno.