Exclusivo

EUA

11 de Setembro: que fazer quando a dor se torna crónica?

Bombeiros homenageiam, no memorial em Nova Iorque, um camarada morto durante os atentados de 2001
Bombeiros homenageiam, no memorial em Nova Iorque, um camarada morto durante os atentados de 2001
Jin Lee/Museu e Memorial Nacional do 11 de Setembro

Quando passa mais um ano sobre a data fatídica, republicamos a reportagem realizada em 2021, por ocasião dos 20 anos do atentado terrorista que marcou os Estados Unidos e o mundo. Nova Iorque e os americanos viveram, entretanto, outros traumas que tentam incorporar na sua história

11 de Setembro: que fazer quando a dor se torna crónica?

Pedro Cordeiro

enviado a Nova Iorque

Maria Paulino ajeita umas flores roxas, murmura uma oração e benze-se. Repetiu tal gesto muitas vezes nos últimos 20 anos, conta ao Expresso. “Vir cá ajuda-me um pouco. Vemos que não estamos sós.” Por “cá” entenda-se o memorial do 11 de Setembro em Nova Iorque. Maria fixa os caules das flores na bordadura da fonte que marca o local onde se erguia a Torre Sul do World Trade Center, uma por cada letra do nome da filha. Rachel Tamares tinha 30 anos e trabalhava na seguradora Aon, cujos escritórios ficavam nos andares 98 a 105 do edifício, bem acima de onde o voo 175 da United Airlines o atingiu. “Nenhuma hipótese de sobreviver”, frisa a mãe enlutada, que faz a viagem até este local silencioso da ponta sul de Manhattan vinda do Bronx, bairro pobre onde em tempos Rachel a acolhera temporariamente, e à irmã Jen (tinham sido despejadas), na casa de duas divisões que partilhava com o marido e os dois filhos. Estes ficaram órfãos de mãe com 11 e 6 anos.

A condoída Maria é das raras pessoas que aceitam falar e, ainda assim, pouco. Sabe que há ali outros como ela, não apenas turistas, curiosos e gente que tira selfies de gosto duvidoso. Não é difícil identificá-los. Eis o rapaz que tira fotos a um do perímetro da fonte, enquanto soluça. O militar que pousa a mão, demorado e sóbrio, sobre o nome de um camarada caído em serviço. A noiva que vem de ramo na mão, com parentes, entre sorrisos e lágrimas. O homem que ajeita a bandeira dos Estados Unidos entre letras que recordam outra vítima. Cada um dos 2977 mortos do 11 de Setembro — entre as Torres Gémeas, o Pentágono e o voo cujos passageiros o fizeram despenhar na Pensilvânia, julga-se que destinado ao Capitólio ou à Casa Branca — é, mais do que isso, uma história de vida e um enorme vazio.

Já é Subscritor?
Comprou o Expresso?Insira o código presente na Revista E para continuar a ler

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: pcordeiro@expresso.impresa.pt

Comentários
Já é Subscritor?
Comprou o Expresso?Insira o código presente na Revista E para se juntar ao debate