Caso dos documentos secretos: Trump declara-se inocente de todas as acusações
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O ex-Presidente dos EUA apresentou-se num tribunal de Miami para se render formalmente às autoridades, no caso em que é acusado de 37 crimes relacionados com a retenção ilegal de documentos classificados. O Departamento de Justiça não achou necessário que Donald Trump – que deve fazer uma declaração esta madrugada – ficasse detido
Como era esperado, o ex-Presidente norte-americano Donald Trump declarou-se esta terça-feira inocente dos 37 crimes de que é acusado e que estão relacionados com a retenção ilegal de documentos classificados, confirma o “New York Times” e outros órgãos de comunicação que assistem à audiência.
"Sem dúvida, declaramo-nos não culpados", declarou o advogado do magnata, Todd Blanche, durante a audiência, relatou a agência France-Presse.
Trump chegou esta tarde ao tribunal federal em Miami para se render formalmente às autoridades antes da audiência histórica. Segundo a Reuters, os procuradores do Departamento de Justiça não solicitaram que Trump ficasse detido, uma vez que não foi considerado risco de fuga. Desse modo, o ex-Presidente norte-americano sai em liberdade, sem quaisquer limitações.
O processo legal vai desenrolar-se no auge da campanha presidencial de 2024 e poderá trazer profundas consequências não apenas para o seu futuro político, mas também para a sua própria liberdade pessoal.
O ex-Presidente chegou cerca de uma hora antes da audiência, agendada para as 15h (hora local, 20h em Lisboa) num tribunal federal em Miami, na Florida, estado onde Trump reside e onde tem uma forte base de apoiantes.
O que está em causa
Trump, o primeiro ex-presidente dos Estados Unidos da América a ser indiciado criminalmente pela justiça federal, compareceu perante o juiz federal Jonathan Goodman, que o notificou das 37 acusações apresentadas por um Grande Júri, por ter desviado documentos confidenciais para Mar-a-Lago, a sua mansão no sul da Florida.
O ex-presidente atribui a acusação liderada pelo procurador especial Jack Smith a uma "grande caça às bruxas" lançada pelo atual chefe de Estado norte-americano, o democrata Joe Biden.
O republicano de 76 anos é acusado de colocar em risco a segurança dos Estados Unidos ao guardar documentos confidenciais, incluindo planos militares ou informações sobre armas nucleares, em locais como uma casa de banho ou salão de festas na sua mansão.
Trump também é acusado de se ter recusado a devolver esses documentos, o que lhe valeu a acusação de "retenção ilegal de informações relativas à segurança nacional", mas também de "obstrução à justiça" e "falso testemunho".
Os advogados de Trump, que pouco falaram ao longo da audiência e mantiveram os braços cruzados o tempo todo, pediram que fosse julgado por um júri.
A leitura integral das 37 acusações não foi realizada a pedido da defesa de Trump, que indicou já as conhecer.
Waltine Nauta, um assessor de Trump que também é acusado no mesmo caso, não foi indiciado hoje porque não tinha um advogado que o pudesse representar neste tribunal e uma nova audiência foi marcada para 27 de junho perante o juiz Edwin Torres
Ex-Presidente à saída da Trump Tower para se ir apresentar ao tribunal em Nova Iorque
A Procuradoria destacou não ser necessário que Trump entregue o seu passaporte por não considerar que existe risco de fuga, o que significa que o magnata está livre para viajar até mesmo para o exterior, mas pediu ao juiz que tome providências para que o ex-presidente não influencie as possíveis testemunhas.
Jonathan Goodman, que não é o juiz principal do caso, pediu à Procuradoria que elabore uma lista para que a magistrada Aileen Cannon -- juíza responsável pelo caso e nomeada por Trump enquanto ainda era Presidente - tome uma decisão sobre o assunto.
Após se ter declarado inocente, o ex-presidente deixou o tribunal federal em Miami e deve viajar para o estado de Nova Jérsia, onde participará numa angariação de fundos e deverá falar sobre o caso.
Já a Casa Branca defendeu-se das acusações de interferência feitas por Trump, reiterando que o chefe de Estado, Joe Biden, não está envolvido de forma alguma nos processos judiciais do ex-presidente.
"O Departamento de Justiça é independente", disse a porta-voz da Casa Branca, Karine Jean-Pierre, em conferência de imprensa.
Trump considera “ridícula e infundada” a acusação “feita pelo Departamento de Justiça de Joe Biden” que “será recordada como o pior abuso de poder na história” dos Estados Unidos. “Lançaram uma caça às bruxas atrás da outra para tentar parar o nosso movimento, para frustrar a vontade do povo americano. No fim não estão a vir atrás de mim. Eles estão a vir atrás de vocês”, declarou este sábado, perante centenas de apoiantes.
Em várias publicações ao longo do dia na rede social Truth Social, o ex-Presidente foi repetindo a narrativa: “Um dos dias mais tristes na história do nosso país. Somos uma nação em declínio”, escreveu.
Depois de sair do tribunal, Trump esteve alguns minutos num conhecido restaurante cubano, chamado Versailles, onde cumprimentou alguns apoiantes. È esperado que faça uma declaração ainda esta noite, na sua casa em Bedminster, em Nova Jérsia.