"Não é assim que os homens brancos lutam": Tucker Carlson e a mensagem que terá sido a gota de água para a Fox News
Chelsea Guglielmino/Getty
O despedimento do famoso ‘pivot’ conservador Tucker Carlson terá sido motivado pela revelação de uma mensagem privada onde este comenta um vídeo violento gravado no dia em que largas centenas de apoiantes de Donald Trump atacaram o Capitólio, em 2021. Confrontado com imagens de três homens a atacarem um militante de extrema-esquerda, Carlson admite que, por um momento, queria que os apoiantes de Trump “matassem” o jovem
Uma mensagem escrita por Tucker Carlson poucas horas após o ataque ao Capitólio, a 6 de janeiro de 2021, que veio ao de cima na véspera do julgamento de difamação da Dominion Voting Systems contra a Fox News, pode estar por detrás da saída do famoso ‘pivot’ do canal norte-americano, revelou o jornal “The New York Times”.
A mensagem, cuja destinatária foi uma produtora na Fox News, relatava o estado de espírito de Carlson perante a violência levada a cabo naquele dia por largas centenas de apoiantes de Donald Trump. ex-Presidente dos EUA. Na passagem mais comentada, o ‘pivot’ debruça-se sobre um vídeo que mostra três homens a atacar um membro da Antifa, um movimento de extrema-esquerda: “Eram três contra um, pelo menos. Atacar um homem assim é obviamente desonroso. Não é assim que os homens brancos lutam”.
Já era conhecida a sua tendência para explorar as divisões raciais muito prevalentes nos EUA, sendo que no seu programa incrivelmente popular, o “Tucker Carlson Tonight”, promovia habitualmente teorias da conspiração que davam conta de um suposto plano para substituir a população norte-americana branca e cristã por emigrantes de outras etnias e religiões. Mas esta mensagem em particular terá causado um enorme desconforto entre as chefias da Fox News, notou o “New York Times”, representando a gota que fez o copo transbordar, e que levou a que a empresa o despedisse uma semana depois.
O diário norte-americano refere que a administração da Fox News leu a mensagem pela primeira vez na véspera do julgamento relativo ao processo de difamação da Dominion Voting Systems - uma empresa que produz máquinas de votação eletrónica e que acusou a estação liderada por Rupert Murdoch de ter transmitido falsas alegações de que os seus dispositivos ajudaram Joe Biden a “roubar” as eleições a Donald Trump.
A administração acabou por concordar em pagar uma indemnização de 787,5 milhões de dólares (713,4 milhões de euros), uma decisão motivada em parte pelo receio de que as palavras de Carlson poderiam ser utilizadas pelos advogados da Dominion. Os administradores estavam extremamente preocupados com os danos reputacionais que tal debate traria, ao ponto de contratar um escritório de advogados externo à empresa para investigar o apresentador.
O despedimento de Carlson não foi tomado de ânimo leve, já que este era a face de um dos programas de comentário noticioso mais vistos nos EUA, contando em média com uma audiência diária de três milhões de pessoas. Contudo, a sua conduta profissional, aliada às suas posições políticas extremadas, não deixou outra opção à Fox News.
Um bom exemplo é mesmo a mensagem em questão, que, para além do comentário acima descrito, revela o conflito interno do ‘pivot’ perante a violência que presenciou naquele dia: “De repente, dei por mim a torcer pela multidão contra o homem, esperando que lhe batessem com mais força, que o matassem. Eu queria mesmo que eles magoassem o miúdo. Depois, algures no fundo do meu cérebro, soou um alarme: isto não é bom para mim. Estou a tornar-me em algo que não quero ser”, escreveu. “Devo lembrar-me que, algures, alguém provavelmente gosta deste miúdo e ficaria destroçado se ele morresse.”
Noutras declarações, reveladas através de uma série de vídeos publicados na passada terça-feira, a veia misógina de Carlson vem também ao de cima. Num deles, refere-se à namorada de um colaborador como “deliciosa”. Noutro, diz que “nunca consegue avaliar a sua própria aparência”, e que espera sempre pela aprovação das suas “fãs pós-menopáusicas”.
Texto de José Gonçalves Neves, editado por Cristina Pombo
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