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Eleições no Brasil

Bolsonaro não falou de Lula, validou os protestos (mas pacíficos) e garantiu que seguirá como "líder de milhões de brasileiros"

Bolsonaro não falou de Lula, validou os protestos (mas pacíficos) e garantiu que seguirá como "líder de milhões de brasileiros"
EVARISTO SA

Presidente derrotado chamou vários ministros ao Palácio da Alvorada e falou ao país. Nunca reconheceu diretamente a derrota, elogiou a “força” do seu movimento no Congresso, disse perceber os protestos “pela forma como decorreu o processo eleitoral” - mas pediu que não seguissem “os métodos da esquerda”. Bolsonaro falou pouco, sem responder a perguntas, mas garantiu que seguirá como “líder de milhões”. Mas a transição do poder para Lula vai seguir

Depois de muito suspense - e de ter permitido ao movimento dos camionistas bloquear várias estradas do país, impossibilitando algumas fábricas de funcionar ou aviões de levantar voo - Jair Bolsonaro convocou os jornalistas ao Palácio da Alvorada para, quase dois depois, se pronunciar sobre os resultados das eleições de domingo, que perdeu para Lula da Silva por menos de 2% dos votos.

Rodeado de ministros do seu Governo, sem nunca falar dos resultados ou reconhecer explicitamente a sua derrota, Bolsonaro começou por agradecer só e apenas aos brasileiros que votaram nele. E, depois, seguiu direto para comentar os movimentos de protesto dos camionistas: “São fruto de indignação, ressentimento e injustiça de como se deu o processo eleitoral”, disse, deixando nas entrelinhas que não considerou normal a votação de domingo. Mas o Presidente também não vai contestar o resultado. E sobre os protestos, acabou a sugerir aos seus responsáveis que os moderem: “As manifestações pacíficas sempre serão bem-vindas, mas os nossos métodos não podem ser os da esquerda, que sempre prejudicaram a população”. Na prática, fez como Trump no célebre e triste 6 de janeiro de 2000, quando os invasores entraram no Capitólio: esperou que entrassem (aqui, que bloqueassem o país) e depois validou as suas razões, mas não o método. Tanto quanto se sabe, Bolsonaro foi largamente aconselhado pelos seus mais próximos a fazê-lo, assim como a permitir uma transição pacífica.

Sobre os resultados, sem falar das presidenciais, Bolsonaro optou por falar da “robusta votação no congresso”. Para concluir que ela mostrou “a força dos nossos valores, Deus, Pátria, Família, Liberdade”. E para garantir que o seu projeto seguirá com essa força. “O nosso sonho está mais vivo do que nunca”, disse.

Até janeiro, ficou esta palavra: “Sempre fui rotulado como anti-democrático, mas sempre joguei dentro das quatro linhas”, disse Bolsonaro ao país, garantindo que enquanto for Presidente continuará “a cumprir todos os mandamentos da constituição”. Uma vaga promessa de paz na transição - ou, pelo menos, uma garantia de que não haverá uma ameaçada guerra política aberta nos meses que se seguem.

Mas a declaração de Bolsonaro era curta, de poucos minutos. E fecharia com mais uma declaração virada apenas para os seus apoiantes: “É uma honra ser o líder de milhões de brasileiros que, como eu, defendem a liberdade económica, a liberdade de religião, a honestidade e as cores da bandeira.” Eis a mensagem: continuar o projeto, tentando manter unida pouco menos de metade da população brasileira, contra os valores contrários que atribui a Lula, o próximo Presidente.

E depois Bolsonaro virou costas e foi embora.

Quem se seguiu a ele, no mesmo microfone, foi um ministro do Governo Bolsonaro, que anunciou que a líder do PT já transmitiu que na segunda-feira será formalizado o nome do responsável da equipa de Lula da Silva para fazer a transição - “esperamos isso para cumprir o que determina a lei”, disse o porta-voz escolhido pelo Presidente. Esse responsável será Geraldo Alkmin, o próximo vice-presidente do Brasil. A equipa de Lula escolheu-o, não só para dar peso à passagem de testemunho e de pastas, mas também para garantir menor atrito no processo - é que Alkmin não é do Partido dos Trabalhadores, antes do PSDB, de centro-direita. E talvez isso torne mais fácil o impossível diálogo com a equipa de Bolsonaro.

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