Eleições no Brasil

Brasil: entre felicitações e avisos, as primeiras reações à vitória de Lula da Silva

Lula da Silva, eleito Presidente do Brasil à segunda volta
Lula da Silva, eleito Presidente do Brasil à segunda volta
AMANDA PEROBELLI/REUTERS

Desde políticos a jornais internacionais e até atores de Hollywood, todos se apressaram quer a felicitar Lula da Silva, o novo Presidente do Brasil, quer a advertir para o país polarizado e instável que o líder do Partido dos Trabalhadores acaba de herdar

Depois de anunciada a vitória eleitoral de Luiz Inácio Lula da Silva, que foi oficialmente declarado Presidente do Brasil perto das 23h deste domingo (hora de Lisboa), as reações do público e da imprensa internacional foram imediatas. Desde políticos a jornais internacionais e até atores de Hollywood, todos se apressaram quer a felicitar Lula da Silva, quer a advertir para o país dividido que o novo Presidente acaba de herdar.

Começando pelos políticos, as felicitações chegaram de todos os continentes e pela voz de Chefes de Estado afetos às mais variadas ideologias políticas.

Em Portugal, o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa felicitou Lula da Silva em nota oficial "pela eleição como Presidente da República Federativa do Brasil, com a certeza de que o mandato, que vai iniciar em janeiro próximo, corresponderá a um período promissor nas relações fraternais entre os povos brasileiro e português e por isso também entre os dois Estados”.

O primeiro-ministro, António Costa, optou pelo Twitter para celebrar a vitória do candidato do Partido dos Trabalhadores, onde felicitou “calorosamente” Lula pela sua eleição. “Encaro com grande entusiasmo o nosso trabalho conjunto nos próximos anos, em prol de Portugal e do Brasil, mas também em torno das grandes causas globais”, disse o líder do Executivo português.

Mais à direita, também no Twitter reagiram Luís Montenegro, presidente do PSD, e André Ventura, líder do Chega. Montenegro saudou “todo o povo Brasileiro e o Presidente eleito”, expressando ainda o seu "profundo desejo de que a partir de hoje o país inicie uma nova etapa de desenvolvimento, conciliação e paz social". Já André Ventura mostrou-se descontente com o resultado: “Que tristeza! Um país irmão rendido a um candidato corrupto e ex-presidiário. Hoje é um dia muito triste para a lusofonia, mas queria apelar a todos para que se evite violência ou a perturbação da ordem constitucional”.

A nível internacional, destaca-se a forte reação positiva dos vários líderes da América Latina, onde vários políticos de esquerda que se identificam com as ideias de Lula subiram ao poder nas mais recentes eleições. No Chile, o Presidente Gabriel Boric reagiu no Twitter e acompanhou a fotografia da mão de Lula sobre uma bandeira do Brasil, que o Presidente brasileiro colocou na sua conta pouco tempo depois dos resultados finais terem sido anunciados, com a frase “Lula. Que alegria!”.

O Presidente da Argentina, Alberto Fernández, afirmou sobre Lula: tem "aqui um parceiro com quem trabalhar e sonhar grande para a boa vida dos nossos povos", concluindo a sua publicação nas redes sociais desta forma: “A América Latina sonha”. Já Luiz Alberto Arce, Presidente da Bolívia, afirmou que a vitória do líder 'petista' vai “fortalecer a democracia e a integração latino-americana”. As felicitações chegaram também de Cuba, Nicarágua, Colômbia e México, todos países governados por políticos de esquerda.

Na Europa, a vitória eleitoral proporcionou uma rara sintonia entre Vladimir Putin, Presidente da Rússia, e as lideranças das principais capitais do continente. Putin escreveu uma mensagem pessoal onde ofereceu as suas “sinceras felicitações” a Lula, acrescentando que espera assegurar “um maior desenvolvimento da cooperação construtiva russo-brasileira em todas as áreas”. Um sentimento ecoado pelo Presidente francês Emmanuel Macron, que fala num “novo capítulo na história do Brasil” e afirma: ”juntos, vamos unir as nossas forças para enfrentar os muitos desafios comuns e renovar o vínculo de amizade entre os nossos dois países".

Na mesma linha, tanto Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, como Olaf Scholz, chanceler alemão, congratularam o novo Presidente e sublinharam a necessidade de aprofundar a cooperação em áreas como o comércio internacional e a proteção do meio ambiente. Também o recém-indigitado Rishi Sunak, primeiro-ministro do Reino Unido, realçou estar "ansioso para trabalhar em conjunto nas questões que interessam ao Brasil e ao Reino Unido, desde o crescimento da economia global à proteção dos valores democráticos e dos recursos naturais do planeta".

O tópico das alterações climáticas motivou ainda a reação do ator norte-americano Leonardo DiCaprio, conhecido pelo seu ativismo ambiental, que escreveu no Twitter que “o resultado das eleições brasileiras apresenta uma oportunidade de mudar o curso da história, não só para o Brasil e para a Amazónia, mas também para o mundo”.

Destaca-se ainda a reação chegada dos Estados Unidos, um dos principais parceiros comerciais do Brasil, pela voz do Presidente Joe Biden: "Envio as minhas felicitações a Luiz Inácio Lula da Silva pela sua eleição para ser o próximo Presidente do Brasil, após eleições livres, justas e credíveis", afirmou o chefe de Estado norte-americano, numa declaração divulgada no rescaldo da noite eleitoral.

O facto de Biden mencionar eleições justas e credíveis é relevante, já que muitos analistas têm efetuado paralelos entre o ambiente político sentido tanto no Brasil como nos EUA. A comparação entre Jair Bolsonaro e o ex-Presidente norte-americano Donald Trump é levantada com bastante frequência, sendo ambos líderes polarizadores de movimentos de extrema-direita em ascensão. O certo é que partilham muitas táticas em termos de retórica e programação política, nomeadamente uma crescente disponibilidade para contestar resultados eleitorais.

“Luta voto a voto” e vitória da “fénix vermelha”

Foi nessa realidade que grande parte da imprensa internacional se focou, destacando a profunda polarização do Brasil. Na Argentina, o jornal “Clarin” sublinha como as eleições foram "uma luta voto a voto", notando que Lula chega ao poder por uma "escassa margem" e "terá de ter cintura política para negociar com o parlamento" e "para recuperar uma economia em crise".

O diário britânico “The Guardian” fala numa “reviravolta espantosa”, lembrando, no entanto, que Bolsonaro ainda não concedeu a vitória ao seu oponente e “passou anos a atacar as instituições democráticas” do país. Para o jornal, há um “medo generalizado” na comunidade internacional face à possibilidade do ex-Presidente brasileiro poder recusar-se a aceitar a derrota. Mesmo na China, o jornal “South China Morning Post”, sediado em Hong Kong, escreve que "todos os olhos estão agora postos em Bolsonaro para ver se aceita o resultado".

Em França, o diário “Le Monde” sublinha a "curta" diferença com que Lula ganhou e o Libération escreve que uma "fénix vermelha bateu a extrema-direita brasileira". O jornal “El País”, de Espanha, traça um perfil do Presidente eleito, com o título "uma ressurreição", considerando-o "a figura mais relevante da esquerda latino-americana" que consegue pela terceira vez chegar à presidência "da maior economia regional".

Já o jornal norte-americano “The New York Times”, recorda que Bolsonaro, agora fora do Palácio do Planalto, poderá ser visado pela justiça brasileira. Citando dois altos funcionários na sua administração, o jornal revela que o ex-Presidente está preocupado com a possibilidade de que várias investigações, que vão desde o seu papel no combate à covid-19 a acusações de corrupção, possam agora avançar sem qualquer impedimento.

Texto de José Gonçalves Neves, editado por Cristina Pombo

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