A nova Shinawatra a liderar o governo da Tailândia: do McDonald's à recente carreira política
EPA/Rungroj Yongrit
A linhagem dos Shinawatra voltou ao poder. Paetongtarn - cujos pai e tia já estiveram no poder mas foram afastados em golpes militares - entrou na política há cerca de dois anos e chegou a primeira-ministra com “as mãos a tremer”. O seu partido associou-se no ano passado a forças da oposição
Paetongtarn Shinawatra estava num voo de regresso da China quando o Tribunal Constitucional da Tailândia removeu Srettha Thavisin do cargo de primeiro-ministro. Descreve que ficou triste quando, ao ligar o telemóvel, leu as notícias e se apercebeu da decisão – depois, decidiu que estava “na altura de fazer alguma coisa pelo país e também pelo partido”. Dois dias depois, foi nomeada para assumir a liderança do governo. Destacada este ano pelo “Bangkok Post” como uma líder de mudança inspiradora, ocupa agora um cargo que lhe dá acesso a efetivar essa mudança. A poucos dias de fazer 38 anos, tornou-se a mais jovem primeira-ministra da história da Tailândia.
Com a saída de Srettha, coube ao parlamento escolher o próximo líder de governo. Ung-Ing, como é conhecida, também pertence ao Pheu Thai e já tinha sido uma das três candidaturas do partido à liderança de governo nas eleições de 2023. Na altura, fez campanha a favor do alargamento da cobertura dos cuidados de saúde e duplicar o salário mínimo diário, noticiou a “AlJazeera”.
Paetongtarn não é a primeira nem a segunda pessoa da família a assumir o cargo. É filha de Thaksin Shinawatra, uma figura controversa que foi afastada da liderança do governo em 2006 depois de um golpe militar e esteve em exílio auto-imposto durante 15 anos (tendo regressado ao país em 2023). Durante este período, houve tempo para que a tia de Paetongtarn, Yingluck Shinawatra, também ocupasse o cargo e fosse deposta num outro golpe militar.
O histórico familiar não leva Paetongtarn a rejeitar trabalhar com partidos associados a golpes de Estado. “Quando saio de Bangkok conheço muitas pessoas que estão a sofrer. (...) É-lhes difícil ter dinheiro para sobreviver a cada dia. Não posso ser egoísta ao ponto de pôr a minha história, a minha experiência ou o meu pai em primeiro lugar. Isso é aquilo com que eu e a minha família temos de lidar. O país não precisa de lidar com isso, é separado”, disse em 2023 numa entrevista ao Today.
A experiência política de Paetongtarn Shinawatra é recente – apesar de ter chegado às notícias quando começou um part-time no McDonald’s aos 17 anos. O seu pai, que era então primeiro-ministro apareceu para comprar hambúrgueres e falar sobre os valores de trabalho que lhe queria transmitir. “Só quero que tenha a experiência e aprenda sobre a vida, porque é a filha mais nova e quando nasceu os pais já tinham estatuto”, disse Thaksin Shinawatra, citado pelo jornal estatal chinês “China Daily”.
Thaksin Shinawatra regressou à Tailândia em 2023
Lillian Suwanrumpha/AFP/Getty Images
Formada na faculdade de ciências políticas da Universidade de Chulalongkorn, em Bangkok, seguiu depois para o Reino Unido onde completou um mestrado em gestão hoteleira internacional. Manteve-se no ramo empresarial ao longo dos anos, até que em 2022 assumiu a direção do comité da inclusão e inovação do partido Pheu Thai.
“No primeiro dia em que entrei na política, não pedi qualquer posição ou cargo no partido. Simplesmente esperava poder fazer algo que gerasse mudança. Acredito que fiquei na política tanto tempo por causa disso”, disse anteriormente, citada pelo “Bangkok Post”. Ao falar depois de ter sido eleita primeira-ministra, reconheceu que tinha “as mãos a tremer”. De acordo com a BBC, disse também não ser “nem a melhor, nem a mais talentosa na sala” mas destacou a experiência da equipa.
O programa político oficial foi remetido para setembro, mas a página do governo já foi atualizada e elenca a continuidade das políticas económicas, políticas de combate à droga, sistema de saúde universal e ‘soft power’.
As eleições gerais de 2023 foram ganhas pelo Move Forward Party, mas o líder do partido, Pita Limjaroenrat, foi impedido de constituir governo devido à oposição de senadores nomeados pelos militares. Limjaroenrat ficou fora de cena, tendo entretanto sido banido da política durante dez anos pelo tribunal constitucional da Tailândia e o seu partido dissolvido. Acabou por ser Srettha Thavisin do partido Pheu Thai – que ficou em segundo lugar nas eleições e era parceiro de coligação do Move Forward – a assumir o poder. Note-se que quando foi negado o poder ao partido Move Forward, o Pheu Thai associou-se a partidos com ligações a governos militares, explica a Associated Press.
A agência noticiou também que o regresso de Thaksin ao país se deu no mesmo dia em que o Pheu Thai – visto como tendo ligações ao ex-primeiro-ministro – formou governo em parceria com os antigos rivais.