Ásia

Agência Internacional de Energia Atómica diz que descarga de água da central nuclear de Fukushima “terá impacto insignificante no ambiente”

Central nuclear de Fukushima, no Japão
Central nuclear de Fukushima, no Japão
REUTERS

A Agência Internacional de Energia Atómica não levantou oposição ao plano do Japão para lançar água da central nuclear de Fukushima para o oceano e diz que impacto no ambiente será “insignificante”, apesar dos receios da comunidade piscatória japonesa e de países vizinhos. Na segunda-feira, a China tinha dito não ser “ético nem legal alastrar o risco de poluição nuclear para o resto do mundo”

Agência Internacional de Energia Atómica diz que descarga de água da central nuclear de Fukushima “terá impacto insignificante no ambiente”

Salomé Fernandes

Jornalista da secção internacional

Passada mais de uma década de o Japão ter enfrentado um sismo de magnitude 9,0 e um dos desastres nucleares mais graves de que há memória, o país quer descarregar no Pacífico mais de um milhão de toneladas de água da central nuclear de Fukushima. E a Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) deu esta terça-feira luz verde a essa vontade. O chefe da AIEA, Mariano Grossi, começou hoje uma visita ao Japão e apresentou um relatório com as conclusões sobre o plano do país.

De acordo com o “Japan Times”, o relatório concluiu que a descarga da água é “consistente com os critérios de segurança internacionais”. “Se o Governo japonês decidir avançar com o plano, terá um impacto insignificante no ambiente, ou seja na água, peixe e sedimentos”, disse Grossi numa conferência de imprensa.

De acordo com a Reuters, Grossi vai estar em visita ao Japão durante quatro dias, tendo-se encontrado esta terça-feira com o primeiro-ministro Fumio Kishida para apresentar os resultados da análise de segurança da agência, que foi realizada ao longo de dois anos.

No relatório de acompanhamento da situação divulgado em abril, a AIEA indicou que o grupo de trabalho “ficou satisfeito” e que não seriam necessárias mais missões técnicas ao país antes de se chegar a uma conclusão final. Apesar de só ser apresentada esta terça-feira, o Governo japonês já tinha anunciado em janeiro que pretendia iniciar o despejo de água no oceano na primavera ou verão deste ano.

A água usada para arrefecer os reatores na central passa por um sistema de filtração que retira a maioria da radioatividade antes de ser armazenada. Permanece o trítio, uma forma radioativa de hidrogénio, que a AIEA indica existir em baixa concentração na água de Fukushima Daiichi. No entanto, a operadora da central enfrenta um problema de espaço, já que os tanques que detém têm capacidade para apenas 1,37 milhões de metros cúbicos de água tratada. Como explica a Reuters, esta água será diluída antes de ser despejada, o que vai decorrer ao longo de várias décadas.

Vozes de protesto

A ideia de despejar a água nos oceanos está a receber oposição da indústria piscatória japonesa. De acordo com o “Japan Times”, o líder das cooperativas nacionais de pesca do Japão apresentou no final de junho uma declaração de objeção ao plano de descarga de água ao ministro da Economia e do Comércio. “Haver descarga ou não da água para o mar é uma decisão do governo, e nesse caso queremos que o governo assuma total responsabilidade”, disse Masanobu Sakamoto. Os pescadores estão preocupados com a segurança da medida e os danos que pode causar à sua reputação.

As vozes de preocupação também se sentem ao longe. A Lusa escreveu que o porta-voz parlamentar do principal partido sul-coreano assegurou esta terça-feira que as importações de produtos de pesca da região japonesa de Fukushima “vão estar proibidas até que não existam preocupações sobre o assunto”.

Além disso, um porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, Wang Wenbin, frisou que se o Japão se recusar a mudar os planos “será condenado e vai pagar pelos seus atos erróneos”.

“Não é ético nem legal alastrar o risco de poluição nuclear para o resto do mundo. A China insta o Japão a enfrentar a preocupação legítima da comunidade internacional e das pessoas do Japão, a parar de prosseguir à força com o seu plano de descarga no oceano, eliminar a água contaminada de uma forma que tenha por base a ciência, segura e transparente, e colocar-se sob monitorização da comunidade internacional”, disse Wang Wenbin.

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