Alemanha: extrema-direita vence na Turíngia e perde por pouco na Saxónia
Joeg Urban (à esquerda), líder candidato da AfD na Saxónia, e apoiantes do partido festejam os resultados iniciais na Saxónia
AXEL SCHMIDT/EPA
A AfD venceu as eleições estaduais na Turíngia com uma vantagem de mais de nove pontos percentuais, de acordo com os resultados oficiais preliminares, e na Saxónia ficou apenas 1,3 pontos atrás dos democratas-cristãos. Resultado na Turíngia representa primeiro triunfo da extrema-direita desde a II Grande Guerra
O partido de extrema-direita AfD ganhou as eleições deste domingo, na Alemanha, no estado da Turíngia, estando contados todos os votos. Já na Saxónia ganharam os democratas-cristãos da CDU (31,9%), mas com uma margem estreia sobre a AfD (30,6%), segundo projeções do final da noite.
É a primeira vez desde o fim da II Guerra Mundial que um partido de extrema-direita vence uma eleição no país e a AfD também surge na frente das sondagens para as eleições de 22 de setembro em Brandemburgo.
Na Turíngia, a AfD ganhou com mais de nove pontos percentuais sobre os democratas-cristãos da CDU (as sondagens apontavam para uma vitória com exatamente essa diferença), tendo ganho mais 10 deputados do que nas eleições de 2019.
O secretário-geral da CDU já rejeitou coligações com a AfD para formar maioria parlamentar, quer na Turíngia quer na Saxónia: "Os eleitores sabem que não vamos entrar numa coligação com o AfD", disse Carsten Linnemann, reconhecendo que encontrar uma maioria parlamentar nos dois estados do leste do país "não será fácil".
Na Turíngia, por exemplo, mesmo uma aliança da CDU com o BSW (Aliança Sahra Wagenknecht, um partido de cariz pessoal com o nome da fundadora e que economicamente está à esquerda mas socialmente à direita) e os socialistas do SPD seria insuficiente para obter maioria no parlamento local.
Na Saxónia, uma aliança entre CDU, BSW e SPD tem a maioria, que poderia também ser conseguida com os Verdes – mas o governador em exercício Michael Kretschmer, da CDU, declarou na campanha que não queria continuar com os ambientalistas numa futura coligação.
Maria Brock - nascida em Leipzig, a maior cidade da Saxónia, e especialista em assuntos soviéticos - disse previamente ao Expresso que estas eleições seriam marcadas por “um voto de protesto” e admitiu que existe um “racismo subjacente que muitas vezes as pessoas não estão dispostas a reconhecer”. De recordar que, membros da AfD participaram num encontro recente de nacionalistas em que foi debatido um plano para a expulsão em massa do país de pessoas de origem estrangeira. Seja como for, o “voto de protesto” teve sucesso na Turíngia e não esteve longe disso na Saxónia.
Björn Höcke, líder da Alternativa para a Alemanha (AfD, extrema-direita) na Turíngia, num comício onde se vê uma bandeira alemã com a Cruz de Ferro, condecoração militar usada no Reino da Prússia e no Império Alemão e, mais tarde, recuperada pela Alemanha Nazi
Entre a reunificação da Alemanha, em 1990, e 2014, a Turíngia foi governada pela União Democrata-Cristã (CDU, centro-direita). Há 10 anos o estado virou à esquerda e passou para as mãos de Bodo Ramelow, que lidera um governo de coligação entre A Esquerda (Die Linke, o seu partido), o Partido Social-Democrata (SPD, centro-esquerda) e os Verdes. Tal não impediu que a Turíngia se tornasse um bastião da AfD.
Já a Saxónia é governada pela CDU desde a reunificação — e, em concreto, por Michael Kretschmer desde o final de 2017, em coligação com os Verdes e o SPD.
E o partido do chanceler?
Na Turíngia e na Saxónia, o SPD, do chanceler Olaf Scholz, obteve resultados modestos: 6,1% no primeiro caso, 7,3% no segundo. A percentagem mínima para garantir representação nos parlamentos estaduais era de 5%, o que garante que o partido se mantém representado. Ainda assim, não é um bom resultado para levar para as próximas eleições nacionais.
Os resultados foram mesmo desastrosos para a coligação “semáforo” [SPD, Os Verdes e FDP], que suporta o Governo de Scholz: os liberais do FDP desaparecem dos parlamentos de ambas as regiões enquanto os Verdes se aguentaram à justa (5,1% na Saxónia).
“O que mais deve preocupar os partidos no poder em Berlim é terem, na Saxónia e na Turíngia, uma percentagem de votos combinada de 10% a 15% nas sondagens [percentagens próximas das confirmadas à ‘boca’ das urnas]”, pelo que “deixaram de ser forças políticas importantes nesses estados”, referiu ao Expresso Thorsten Benner, diretor do grupo de reflexão Global Public Policy Institute (GPPi), sediado na capital alemã.