Há mais de um ano que Joseph Figueira Martin, trabalhador humanitário luso-belga de 42 anos, está detido arbitrariamente, em condições desumanas, numa prisão militar na República Centro Africana. Foi raptado a 26 de maio do ano passado em Zemio, no sudeste do país, por mercenários russos do grupo Wagner, enquanto trabalhava numa missão como consultor para a organização não-governamental americana FHI 360.
Joseph é acusado de espionagem, terrorismo, incitação ao ódio, comunicação com grupos armados para planear um golpe de Estado e comprometer a segurança nacional. O seu irmão, Georges, garante que não fala com ele “há cerca de seis meses”.
“Já faz algum tempo desde que tivemos uma chamada organizada através da Cruz Vermelha. Nós [família] vamos conseguindo comunicar com ele através de mensagens e cartas entregues pelos cônsules honorários e pelo advogado. Vamos tendo informações mais ou menos a cada semana”, conta ao Expresso. O estado de saúde de Joseph está “muito fragilizado”: “Perdeu peso, foram mais de 15 quilos, e precisa de atenção médica urgente”. Vive em “condições desumanas, com falta de higiene básica, não come bem…”, descreve Georges.
A saúde mental de Joseph Martin — especialista em análise e resolução de conflitos armados — também “está muito fragilizada” devido ao sequestro, detenção arbitrária, tortura, trabalhos forçados e violação dos direitos humanos que tem sofrido na prisão militar. “Precisamos que volte para casa”, para Tavira, apela o irmão. Apesar das acusações de crimes de que é alvo, Joseph ainda não foi julgado nem parece haver qualquer intenção de realizar esse julgamento, uma vez que continua sem ser marcado. Trata-se de um direito previsto na legislação da República Centro-Africana.
O país é palco de combates de milícias étnicas e rebeldes antigovernamentais há mais de uma década. A missão do grupo Wagner é conter os grupos rebeldes armados e manter no poder o Presidente Faustin-Archange Touadera. “Há presença russa na República Centro-Africana que tem utilizado as mesmas acusações e o mesmo método de sequestrar pessoas estrangeiras para depois as apresentar como agentes que estariam a tentar destabilizar o Governo, como espiões”, afirma Georges Martin. “Essa narrativa faz com que seja possível os mercenários manterem-se no país e cometerem atrocidades.”
Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: mtribuna@expresso.impresa.pt