África

Cerca de 100 mortos em ataque rebelde no Sudão onde deslocados são quase 10 milhões

Guerra no Sudão
Guerra no Sudão
Dan Kitwood/Getty Images

Segundo dados da União Médica, até à data a guerra no Sudão causou mais de 30.000 mortos

Cerca de 100 pessoas morreram num ataque duplo com artilharia pesada das Forças de Apoio Rápido (RSF), que lutam contra o exército sudanês, a uma aldeia no centro do Sudão, denunciou esta quinta-feira uma organização local de defesa.


Segundo a organização local denominada de Comité da Resistência, que gere a entreajuda entre os habitantes, ainda se "aguarda a confirmação do número de mortos e feridos" em Wad al-Noura, uma aldeia do estado de al-Jazira, onde os paramilitares "atacaram a aldeia duas vezes" na quarta-feira.

Paralelamente, os paramilitares das RSF também afirmaram hoje, em comunicado, ter atacado três campos do exército nessa mesma região de Wad al-Noura e ter entrado em confronto com os seus rivais.

Nas redes sociais, os ativistas do comité publicaram imagens do que descreveram como uma "vala comum" numa praça pública, com filas de mortalhas brancas dispostas num pátio.

A guerra no Sudão, que eclodiu em abril de 2023, já causou mais de 30.000 mortos, segundo dados da União Médica Sudanesa.

Uma atualização da Organização Internacional para as Migrações (OIM), conhecida, esta quinta-feira indica que já são quase dez milhões as pessoas deslocadas devido à guerra, naquela que é já considerada a pior crise de deslocação interna do mundo.

A agência das Nações Unidas dá conta de que há 9,9 milhões de pessoas deslocadas em 18 estados do país, incluindo 7,1 milhões desde o início do conflito e 2,8 milhões deslocados anteriormente. Mais de metade destas pessoas são mulheres e mais de um quarto são crianças com menos de cinco anos.

"Imaginem uma cidade na City de Londres a ser deslocada. É o que parece, mas acontece com a ameaça constante de fogo cruzado, fome, doenças e violência brutal baseada na etnia e no género", afirmou, hoje, em comunicado a Diretora-Geral da OIM, Amy Pope, que referiu que as necessidades humanitárias no país 'são enormes, graves e imediatas'.

Pope lamentou, ainda, que "apenas 19% dos fundos solicitados tenham sido entregues" e sublinhou que "são necessários esforços internacionais unificados para evitar a fome" no país, de onde mais de dois milhões de pessoas fugiram para o Chade, Egito e Sudão do Sul.

O conflito no país, com cerca de 50 milhões de habitantes, centrou-se nas últimas semanas na cidade de Al Fasher, capital do Darfur do Norte, onde cerca de 800 mil civis continuam encurralados no meio de intensos combates entre o exército e o RSF, que impôs um cerco à cidade.

O diretor da OIM para o Médio Oriente e o Norte de África, Ozman Belbeisi, sublinhou que "as estradas cruciais que saem de Al Fasher estão bloqueadas, impedindo os civis de chegarem a zonas mais seguras e limitando a quantidade de alimentos e outra ajuda humanitária que entra na cidade".

O ataque de ontem na região de Wad al-Noura, denunciado pelo Comité de Resistência Civil da cidade, é já apelidado pelo portal de notícias sudanês Sudan Tribune como "um massacre".

A guerra eclodiu em 15 de abril de 2023 devido a fortes divergências sobre o processo de integração do grupo paramilitar - agora declarado organização terrorista - nas forças armadas, situação que levou ao descarrilamento definitivo da transição iniciada em 2019 após o derrube do regime de Omar Hassan al-Bashir.

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