África

Junta militar do Níger acusa Presidente deposto de “alta traição”

O apoio à junta militar é mais visível na capital Niamey do que a defesa do regresso à ordem constitucional. Porém, ela também existe
O apoio à junta militar é mais visível na capital Niamey do que a defesa do regresso à ordem constitucional. Porém, ela também existe
Getty Images
Permanece a tensão entre os militares que tomaram o poder no passado dia 26 de julho e as tentativas de mediação internacionais da crise no Níger. Uma delegação de chefes religiosos nigerianos conseguiu quebrar algum gelo enquanto a organização regional CEDEAO tem uma força standby de intervenção preparada
Junta militar do Níger acusa Presidente deposto de “alta traição”

Cristina Peres

Jornalista de Internacional

Depois de condenar as sanções impostas pela organização regional Comunidade Económica de Estados da África Ocidental, CEDEAO, o líder da junta militar que tomou o poder no golpe de 26 de julho, general Abdrahamane Tchiani, fez saber esta segunda-feira que as consideram “ilegais, inumanas e humilhantes”, estando a privar o povo de medicamentos, alimentos e eletricidade.

A Nigéria cortou prontamente o fornecimento de eletricidade ao Níger como forma de pressão para que os militares repusessem a ordem constitucional. Os esforços internacionais não resultaram ainda em conversações e o tempo que passou desde o golpe já permitiu que fossem distribuídas as pastas de governação entre os autores do golpe.

A última medida da junta foi anunciada no domingo: o Presidente deposto, Mohamed Bazoum, vai ser processado por “alta traição” acusado de “minar a segurança interna e externa do Níger”. Notícias difundidas por órgãos de comunicação do Níger, e internacionais, dão conta das más condições em que Bazoum está detido em prisão domiciliária, sem contacto com ninguém. O jornal digital nigerino “A Niamey” reporta que o ex-Presidente foi visitado no sábado passado pelo seu médico o qual, segundo um dos conselheiros do ex-PR, “lhe levou igualmente alimentos” bem como à sua mulher e filhos, detidos com ele.

Também no sábado passado, uma delegação de chefes religiosos islâmicos da Nigéria reuniu-se com membros do regime militar na capital Niamey, reportando mais tarde que os autores do golpe se mostraram abertos a manter conversações de mediação com líderes de países africanos. Recorde-se que, na terça-feira passada, a junta se tinha recusado a receber as delegações da CEDEAO, da União Africana e das Nações Unidas que se propuseram a fazer o mesmo.

O jornal “A Niamey” cita uma fonte próxima da delegação que indicou à agência AFP que esta “missão de mediação” tinha sido organizada com o acordo do Presidente da Nigéria, Bola Tinubu, que é também o presidente em exercício da CEDEAO. O objetivo da delegação de religiosos nigerianos de inspiração salafista foi “acalmar as tensões criadas pela perspetiva de uma intervenção militar da CEDEAO”.

A cúpula da organização regional aprovou entretanto o envio de “uma força de standby para restaurar a ordem constitucional” para o Níger assim que possível, ainda que continue a afirmar-se comprometida com encontrar uma solução diplomática para a crise no país.

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