África

Sudão: paramilitares afirmam controlar palácio presidencial de Cartum, exército nega mas admite pressão

O general Mohamed Hamdan Dagalo, junto de apoiantes em Aprag, a 60 quilómetros de Cartum, em junho de 2019
O general Mohamed Hamdan Dagalo, junto de apoiantes em Aprag, a 60 quilómetros de Cartum, em junho de 2019
UMIT BEKTAS

Registaram-se tiros e explosões junto ao palácio presidencial de Cartum. Movimento militar rebelde já tinha reivindicado tomada do aeroporto da capital. Pelo menos três civis morreram e dezenas ficaram feridos desde o início dos confrontos

O grupo paramilitar sudanês Forças de Apoio Rápido (RSF) anunciou hoje que assumiu o controlo do Palácio Presidencial em Cartum, depois de confrontos com o exército. Algo que é negado pelo Exército sudanês.

"As Forças de Apoio Rápido espalham notícias falsas de fora do Sudão e reivindicam o controlo do Comando Geral e do Palácio da República", disseram as Forças Armadas sudanesas em comunicado.

O presidente do Conselho Soberano e líder militar, Abdelfatah al Burhan, reside no palácio, mas desconhece-se o seu paradeiro, segundo a agência espanhola EFE. A informação foi divulgada num comunicado também citado pela agência norte-americana AP, que alertou para a impossibilidade de uma confirmação independente do que afirma o grupo paramilitar.

As milícias RSF disseram também que tomaram o aeroporto internacional de Cartum e uma base aérea na cidade de Marawi, cerca de 350 quilómetros a noroeste da capital.

As forças armadas apontaram, por seu lado, que "enquanto alguns dos seus soldados e oficiais [das RSF], que já não estão qualificados militarmente na ausência total do seu comando supremo e superiores fogem e deixam as armas nas ruas, outros entram nos bairros residenciais para se refugiarem entre os cidadãos".

Noutro comunicado, admitiram que as RSF estavam a pressionar as suas forças para controlar os principais prédios do país.

O Exército também informou que o comandante das RSF no Nilo Branco entregou "todas as suas forças, acampamentos e equipamentos ao comando do Exército no estado e anuncia que se juntará à luta" com o Exército, que seria oficialmente a primeira unidade paramilitar a desertar das fileiras dessas unidades.

Confusão em Cartum

“Muita confusão aqui em relação ao que está a acontecer. As pessoas estão apavoradas”, relatava ainda antes desta reivindicação Hiba Morgan, repórter da Al Jazeera em Cartum, que descreve tiros na capital do Sudão, “perto do palácio presidencial”.

Tiros e explosões nas proximidades do quartel-general do exército sudanês e do Ministério da Defesa foram noticiados pela Al Jazeera. A divisão entre as duas forças eclodiu na quinta-feira, quando o Exército denunciou movimentos do RSF “sem coordenação e de forma ilegal”, enquanto o grupo paramilitar acusa o exército sudanês de o atacar com armas pesadas numa das suas bases, após semanas de tensão entre as duas unidades, numa escalada grave no país.

A televisão Al Jazeera, com sede no Qatar, tem estado a mostrar imagens em direto de algumas zonas da capital, Cartum, em que se ouvem tiros e explosões, sendo visível muito fumo, incluindo perto do palácio presidencial. Também há relatos de combates noutras cidades do país africano.

Pelo menos três civis morreram e dezenas ficaram feridos nos confrontos armados, informou entretanto o Sindicato dos Médicos Sudaneses.

O sindicato apurou que pelo menos dois cidadãos foram mortos no aeroporto de Cartum, o maior do Sudão, e outro foi baleado em Al Obeid, no sul do país africano, segundo o primeiro relatório preliminar sobre os confrontos, citado pela agência de notícias espanhola EFE.

A informação avançada dá conta ainda de que um oficial das Forças Armadas foi ferido na cidade de Omdurman, vizinha de Cartum, e três civis foram baleados no pescoço e na perna no sul da capital e a leste do Nilo.

Trata-se das primeiras vítimas desde o início dos confrontos entre as RSF e o Exército esta manhã, havendo, segundo o Sindicato dos Médicos, havendo "dezenas de feridos que estão a ser registados até agora, incluindo feridos instáveis".

O RSF é liderado pelo vice-presidente do Conselho Soberano e número dois do exército, Mohamed Hamdan Dagalo.

Há dois dias, o exército sudanês advertiu que o país está a atravessar uma "conjuntura perigosa" que poderá levar a um conflito armado.

Aviões já não aterram

Aviões comerciais que deveriam aterrar no Aeroporto Internacional de Cartum começaram a regressar aos aeroportos de origem, disse a AP.

A Al Jazeera, que tem estado em direto de Cartum, mostrou imagens da TV nacional sudanesa em que se via a atuação de um cantor, sugerindo que a emissão normal não terá sido interrompida.

O Sudão, com mas de 49 milhões de habitantes, situa-se no nordeste do continente africano, junto ao Mar Vermelho, que separa o país da Arábia Saudita.

Tem fronteiras terrestres com Egito, Eritreia, Líbia, Chade, República Centro-Africana e Sudão do Sul.

Enviado da ONU pede "cessação imediata" dos confrontos

O enviado especial da Missão das Nações Unidas, Volker Perthes, "condenou veementemente o início dos combates no Sudão" e pediu "a cessação imediata" das hostilidades entre o Exército e o grupo paramilitar Forças de Apoio Rápido (RSF).

"O representante Perthes falou com ambas as partes para solicitar que cessem imediatamente os combates e garantam a segurança do povo sudanês e evitem que o país sofra mais violência", disse o enviado da Organização das Nações Unidas (ONU) num breve comunicado.

Perthes também expressou a sua "forte condenação" dos confrontos que eclodiram na manhã de hoje entre as Forças Armadas Sudanesas e as RSF, que estão a ocorrer "em muitos pontos da capital, Cartum, e noutras áreas".

Em visita ao Vietname, o secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, disse por seu lado, que embora a situação no Sudão seja "frágil", ainda há "uma oportunidade real para lutar por uma transição para um governo civil".

Notícia atualizada às 17h26

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