O prestigiado jurista alerta para a deriva perigosa no seu país, referindo o que considera ser a politização de alguns magistrados no exercício das suas funções. Dedicado à defesa dos direitos humanos desde que o Supremo Tribunal espanhol o inabilitou por onze anos, em 2012, por investigar os crimes do franquismo e por prevaricação na instrução do maior caso de corrupção política em Espanha — algo que o Comité de Direitos Humanos da ONU considerou “arbitrário, carente de independência e imparcialidade judicial” —, Garzón está preocupado com o racismo crescente no seu país, visível no recente surto furioso em Torre-Pacheco. O homem que deteve o ditador chileno Augusto Pinochet, em Inglaterra, em 1998, defende também a investigação dos delitos do franquismo, que considera serem crimes contra a Humanidade, sem prescrição nem amnistia possível.
Após os incidentes de Torre-Pacheco, surgiu um debate sobre ódio ao imigrante. Há racismo em Espanha?
Afirmei, e sei que isso pode valer-me um ou outro inimigo, que Espanha sempre teve uma componente racista. Por vezes larvar, por outras manifestamente expressa. Durante o período franquista, quando grande parte do exílio espanhol estava em campos de concentração em França o na Alemanha, os nazis propuseram devolver os presos a Franco. Este respondeu que não eram espanhóis, que eram apátridas, e que não tinha interesse em que regressassem. Desumanizou o perdedor. Em Espanha há racismo seletivo. Quem chega com dólares é bem-vindo, mas quem o faz por circunstâncias políticas, económicas ou climáticas, para sobreviver, não é bem recebido se não puder ser utilizado para interesses particulares, normalmente económicos. Ouvimos agora as manifestações do Vox. Utiliza as mesmas razões que Donald Trump para expulsar imigrantes em condições sub-humanas. A extrema-direita espanhola expressa-se de forma cruel com esta gente, e isto com o silêncio ou mesmo a ajuda do Partido Popular, que começou a mostrar dúvidas sobre a sua integração.
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