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Mary Lou McDonald, presidente do Sinn Féin: “O projeto de reunificação da Irlanda não visa mostrar que um lado tem razão e outro não”

Mary Lou McDonald, presidente do Sinn Féin: “O projeto de reunificação da Irlanda não visa mostrar que um lado tem razão e outro não”
TIAGO MIRANDA

O Expresso conversou com a líder dos republicanos irlandeses sobre o futuro da ilha na Europa, o duro legado do terrorismo e a relação nem sempre fácil com o gigante vizinho, o Reino Unido, a quem o seu partido quer arrancar a Irlanda do Norte, que por sua vez foi arrancada à UE a contragosto, por decisão do eleitorado britânico em 2016

Mary Lou McDonald quer ser a primeira mulher a chefiar um Governo irlandês, de preferência abrangendo a totalidade da ilha. Acredita que é possível e o estado da opinião pública ajuda. O seu partido — o Sinn Féin (“Nós próprios”, em gaélico irlandês) — foi o mais votado nas últimas eleições quer na Irlanda (2020) quer na Irlanda do Norte (2022) e continua à frente nas sondagens, por muitos. Encontrar parceiros de coligação é que se tem revelado mais difícil para esta formação de esquerda que defende uma Irlanda unida.

Em causa está o passado do Sinn Féin. McDonald é a primeira líder sem a mácula dos laços com o Exército Republicano Irlandês (IRA), organização paramilitar instrumental na conquista da independência, depois responsável por atos de terrorismo ao longo do século XX.

Um quarto de século depois de o Acordo de Sexta-Feira Santa (1998) ter posto fim à violência, o partido preocupa-se com a Europa. Foi num esforço por sensibilizar o continente para a hipótese real de uma Irlanda unida que a política viajou até Portugal, à semelhança do que tem feito noutros países. A política de 54 anos, que já foi eurodeputada (2004-09), tem o sonho de trazer de volta à União Europeia a Irlanda do Norte, que foi “arrastada” para fora contra a sua vontade (56% votaram pela permanência).

Tem feito um périplo pela Europa para promover a ideia de uma futura unificação das Irlandas. Que recetividade encontrou em Portugal e nos outros países?
Mais do que um périplo, é uma série de encontros, na Europa e não só, para partilharmos notícias do que acontece na Irlanda em termos de vontade de mudança, com a perspetiva de termos, pela primeira vez, uma primeira-ministra do Sinn Féin na Irlanda do Norte. É um grande momento histórico. E, claro, o mandato crescente do Sinn Féin no sul, as nossas esperanças e aspirações a sermos Governo em Dublin, talvez mesmo a chefiarmos esse Governo. É claro que a conversa sobre mudança é multifacetada. Falamos de mudança social, de oportunidades económicas, e também de mudanças constitucionais, com vista à reunificação. É nossa opinião que temos de nos preparar para isso. Vamos em 25 anos de um processo de paz robusto, ainda que imperfeito. O Acordo de Sexta-feira Santa prevê um referendo, e ao olhar para a forma como a Irlanda mudou, é claro que estamos a caminho desse referendo.

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