Vencedor inesperado da primeira volta das presidenciais argentinas, Sergio Massa enfrenta Javier Milei com promessa de governo de unidade
O ministro da Economia e candidato do centro-esquerda, Sergio Massa, celebra o bom resultado na primeira volta das presidenciais argentinas, em Buenos Aires
Mariano Sánchez/Anadolu/Getty Images
O ministro da Economia da Argentina desafiou prognósticos ao ser o mais votado na primeira volta das presidenciais, este domingo. Vai disputar a segunda volta com o economista ultraliberal Javier Milei. Apoiantes da candidata derrotada de centro-direita, Patricia Bullrich, deverão ser decisivos
O ministro da Economia da Argentina, Sergio Massa, foi — por surpresa — o mais votado na primeira volta das eleições presidenciais de domingo no país sul-americano. Irá disputar a segunda volta com o economista ultraliberal e populista Javier Milei. Com 98,5% das mesas de voto contabilizadas até à manhã desta segunda-feira, Massa obteve 36,7% dos sufrágios, seguido por Milei, com 30%, e pela candidata da coligação de centro-direita Juntos pela Mudança, Patricia Bullrich, a maior derrotada do dia, que somou 23,8%.
Os resultados provisórios foram celebrados em clima de festa, com a presença de muitos militantes, sindicalistas e membros de organizações sociais, na sede do movimento União pela Pátria, que apoia Massa, de 51 anos. As sondagens tinham previsto que o candidato “antissistema” Milei voltasse a ser o mais votado na primeira volta, repetindo a vitória conquistada nas primárias de 13 de agosto.
Apesar de Massa ser ministro da Economia num país que sofre de níveis de inflação recorde — 138,3% nos últimos 12 meses —, o candidato de centro-esquerda garantiu a presença do bloco governamental na segunda volta. O candidato prometeu formar um governo de unidade nacional se vencer a segunda volta, marcada para 19 de novembro.
Bullrich não dá orientação de voto
“Vou convocar um Governo de unidade nacional no dia 10 de dezembro, como Presidente, apelando aos melhores, independentemente da sua força política”, disse Massa, perante centenas de militantes. Ministro da Economia desde julho de 2022, agradeceu a quem o preferiu no domingo, mas também apelou a quem não votou ou optou por outros candidatos. Bullrich recusou-se a felicitar abertamente Massa, mas não manifestou apoio explícito a Milei.
O candidato antissistema Javier Milei não desanima, apesar do resultado dececionante
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Massa prometeu construir “regras claras face à incerteza”, “mais ordem, mais segurança, não improvisação”, com desenvolvimento produtivo, federalismo e maior participação das províncias, com empresários e trabalhadores sentados à mesma mesa.
“Precisamos de um país que aumente as exportações com valor acrescentado para fortalecer as suas reservas, para consolidar a sua moeda”, enfatizou o candidato. Garante que vai trabalhar para melhorar o rendimento dos trabalhadores por conta de outrem, dos que ainda estão na “economia popular” e dos reformados.
Milei “cheio de orgulho”
Apesar da expectativa frustrada, Milei, apontado como favorito pelas sondagens, celebrou uma “eleição histórica”. “Ter feito a melhor eleição da história para o liberalismo na Argentina enche-nos de orgulho”, afirmou o candidato “antissistema”, lembrando que conseguiu montar o movimento Avança a Liberdade em “apenas dois anos”. No domingo conseguiu eleger 40 deputados e oito senadores nas duas câmaras do parlamento da Argentina.
Milei apelou ao apoio dos apoiantes de Bullrich na segunda volta. “Todos os que queremos a mudança temos de trabalhar juntos”. O economista acrescentou: “Durante todos estes meses, a campanha fez com que muitos dos que queríamos mudanças nos sentíssemos confrontados. Vim para acabar com este processo de agressão e ataques. Estou disposto a fazer uma ficha limpa, baralhar e voltar a dar”.
“Para lá das nossas diferenças, o que temos que entender é que temos uma organização criminosa diante de nós”, acusou Milei, para seduzir os eleitores de Bullrich. O ultraliberal acusou os seguidores da vice-presidente e ex-Presidente Cristina Fernández de fazerem parte de um “Governo de criminosos que querem hipotecar” o futuro “para permanecer no poder” e “aprofundar o declínio” da Argentina.
Patricia Bullrich, candidata do centro-direita (aqui a votar na capital argentina) foi a grande derrotada da noite
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Segunda participação mais baixa em eleições gerais
Cerca de 77,7% dos argentinos foram às urnas, domingo, nas eleições gerais, o que representa um aumento de quase nove pontos percentuais em relação às primárias. Ainda assim, é a segunda participação mais baixa em votações gerais, anunciaram fontes oficiais.
O valor mais baixo foi registado em 2007, quando 76,2% dos eleitores foram às urnas na primeira volta, a única necessária nessa ocasião para confirmar a vitória da peronista Cristina Fernández, que substituiu o seu marido, Néstor Kirchner (2003-07).
A taxa de participação mais alta foi registada em 1983, nas primeiras eleições democráticas após a ditadura (1976-1983), quando 85,61% foram às urnas para dar a vitória a Raúl Alfonsín.
Cerca de 35,4 milhões de argentinos foram chamados no domingo a eleger o Presidente e o vice-presidente, bem como a renovar 130 dos 257 lugares na Câmara dos Deputados e 24 dos 72 no Senado, e a nomear 43 representantes argentinos no Parlamento do Mercosul (Parlasul, o órgão legislativo do bloco constituído pela Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai). Elegeram também dirigentes nas províncias de Buenos Aires, Catamarca, Entre Ríos e a Cidade Autónoma de Buenos Aires.