Ano após ano, Portugal ocupa lugares cimeiros no Índice Global da Paz. Este ano, em 163 países, ocupa a sétima posição. Porém, nunca um cidadão português foi galardoado com o Prémio Nobel da Paz.
Houve, porém, um nomeado. Em 1909, ainda antes da implantação da República, Sebastião de Magalhães Lima, fundador do jornal “O Século”, foi proposto para o prémio pelo deputado republicano José Feio Terenas. À época, Magalhães Lima integrava o Gabinete Internacional Permanente para a Paz, organização que haveria de ganhar o Nobel em 1910.
Esta sexta-feira, pelas 10 horas (de Portugal Continental), o Comité Nobel Norueguês acrescentará mais um nome à lista de notáveis que, como Alfred Nobel deixou em testamento, “fez o maior ou o melhor trabalho pela fraternidade entre as nações, pela abolição ou redução dos exércitos permanentes e pela realização e promoção de congressos de paz”. O anúncio pode ser acompanhado neste link.
Desde 1901, esta categoria foi a que distinguiu mais países e nacionalidades. Personalidades da Europa Ocidental arrecadaram um grande número de prémios, mas africanos e asiáticos, em especial, foram reconhecidos como em nenhuma das outras cinco.
10 CURIOSIDADES
1. AUSENTES NA PRISÃO
Quatro laureados estavam presos quando foi anunciado que tinham ganho o Nobel da Paz. Sucedeu em 1935, com o alemão Carl von Ossietzky, um crítico do regime nazi. Os outros três casos aconteceram nas últimas três décadas e envolveram a líder pró-democracia birmanesa Aung San Suu Kyi (1991), o ativista dos direitos humanos chinês Liu Xiaobo (2010) e o bielorrusso Ales Bialiatski (2022).
2. MULHER DÁ O ÚNICO NOBEL AO IRÃO
A República Islâmica do Irão tem um único prémio na sua história e a uma mulher se deve. Em 2003, a advogada Shirin Ebadi recebeu o Nobel da Paz “pelos seus esforços pela democracia e pelos direitos humanos”, justificou o Comité. Vinte anos passados, essa luta continua atual, com muitas mulheres à cabeça de grandes manifestações contra a obrigatoriedade de cobrirem a cabeça com um lenço (hijab).
3. RECUSA POR FALTA DE PAZ
À semelhança do escritor francês Jean-Paul Sartre relativamente ao Nobel da Literatura, um laureado com o Nobel da Paz recusou-se a recebê-lo. Foi em 1973, quando o Comité Nobel entendeu recompensar os negociadores da trégua no Vietname e dividiu o Nobel entre o secretário de Estado dos Estados Unidos, Henry Kissinger, e o político vietnamita Le Duc Tho. Este recusou-o, argumentando: “A paz ainda não foi estabelecida”.
4. UM NOMEADO CHAMADO… ADOLF HITLER
Em 1939, o mesmo ano em que a invasão alemã da Polónia sinalizou o início da II Guerra Mundial, Adolf Hitler surgiu na lista de candidatos ao Nobel da Paz. O seu nome foi sugerido por Erik Gottfrid Christian Brandt, um deputado sueco antifascista. Segundo o arquivo da Fundação Nobel, a nomeação foi retirada pelo proponente “que nunca teve a intenção de que a sua submissão fosse levada a sério”.
5. LAUREADOS SEM ESTADO
Dois vencedores do Prémio Nobel da Paz tinham nacionalidades que não correspondiam a um país. Em 1994, o palestiniano Yasser Arafat foi um dos três laureados. Então, como agora, o Estado da Palestina continua a ser uma miragem. O mesmo se passa com o povo tibetano, que aspira à emancipação da China e que viu o seu líder espiritual, o 14.º Dalai Lama (Tenzin Gyatso), vencer o Nobel da Paz em 1989.
6. ÚNICO NOBEL ATRIBUÍDO PELA NORUEGA
Contrariamente a todas as outras categorias, que são escolhidas por instituições suecas, o vencedor do Nobel da Paz é anunciado pelo Comité Nobel Norueguês. A 10 de dezembro de cada ano, dia de aniversário da morte de Alfred Nobel, as cerimónias de atribuição dos Prémios Nobel realizam-se em Estocolmo e Oslo. Os monarcas dos dois países marcam presença.
7. PRÉMIO A OBAMA CAUSOU POLÉMICA
Um dos Presidentes dos Estados Unidos mais consensuais, pelo menos fora de portas, tornou-se um dos laureados mais controversos. Em 2009, Barack Obama levava apenas nove meses na Casa Branca quando recebeu o Nobel da Paz, “pelos seus esforços extraordinários para fortalecer a diplomacia internacional e a cooperação entre povos”. Estando o 44.º Presidente em início de mandato, este prémio foi considerado prematuro.
8. CRUZ VERMELHA GANHOU TRÊS VEZES
O Nobel da Paz já foi entregue a 110 indivíduos e, em 30 vezes, a organizações (não foi atribuído em 19 anos). O Comité Internacional da Cruz Vermelha foi distinguido em 1917, 1944 e 1963. O Alto Comissariado da ONU para os Refugiados recebeu-o duas vezes (1954 e 1981). Organizações e personalidades do universo das Nações Unidas já receberam 15 prémios. A União Europeia venceu em 2012.
9. SETENTA ANOS DE DIFERENÇA
A paquistanesa Malala Yousafzai era menor quando recebeu o Nobel, em 2014, “pela sua luta contra a repressão de crianças e jovens e pelo direito de todas as crianças à educação”. Tinha 17 anos e tornou-se a pessoa mais jovem laureada com um Nobel. Já a personalidade mais velha a receber este Nobel tinha mais 70 anos do que ela. Joseph Rotblat foi premiado em 1995, aos 87 anos, pelo seu combate às armas nucleares.
10. DOIS LUSÓFONOS EM OSLO
Sem portugueses na lista de laureados, o Prémio Nobel da Paz já foi atribuído a duas personalidades lusófonas. Em 1996, os timorenses Carlos Ximenes Belo (bispo de Dili) e José Ramos-Horta foram consagrados “pelo seu trabalho em prol de uma solução justa e pacífica para o conflito em Timor-Leste”. Este prémio foi concedido cinco anos após o massacre de Santa Cruz (1991) e seis anos antes da independência do país, a 20 de maio de 2002.