O “novo Portugal”, o convite a Carlos III e a subida das taxas de juro: Marcelo faz balanço da viagem a Londres
Marcelo Rebelo de Sousa falou à imprensa na embaixada de Portugal em Londres
Pedro Cordeiro
Presidente da República defende esforços para proteger portugueses das projetadas alterações à lei da imigração do Reino Unido. Desejoso de receber o rei em Portugal, comentou a decisão do Banco Central Europeu de aumentar de novo as taxas de juro
Marcelo Rebelo de Sousa defendeu que o Reino Unido deve perceber “o que é o Portugal hoje”. Falando com jornalistas na embaixada portuguesa em Londres, depois da cerimónia dos 650 anos da amizade luso-britânica, o Presidente da República revelou ter convidado Carlos III para visitar Portugal, numa “proposta quase irrecusável”, e recomendou que os bancos remunerem melhor os depósitos.
Uma diáspora portuguesa mais jovem e qualificada precisa do reagrupamento familiar, que a planeada nova lei da imigração britânica impede, defendeu o chefe de Estado. A seu ver, faz falta conhecimento mútuo mais aprofundado.
Recebido pelo rei Carlos III no Palácio de Buckingham antes de uma cerimónia religiosa na Capela da Rainha — outrora usada por Catarina de Bragança, filha de D. João IV que casou com Carlos II de Inglaterra — o Presidente convidou o chefe de Estado britânico para visitar Portugal. “A reação foi, em princípio, positiva”, afirmou Marcelo.
Condecoração “excecionalíssima”
Explica que não deverá ser uma visita de Estado. “Ele faz uma ou duas por ano, e são muito longas”, explicou. Daí que seja preferível “uma visita mais curta, concentrada no que lhe interessa: o novo Portugal na energia, no digital, na natureza sustentável”. Carlos quererá também “estar com a comunidade britânica em Portugal, com quem já não está desde que era príncipe de Gales”.
Marcelo quis explicar ainda porque atribuiu a Carlos III o Grande-Colar da Ordem da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito. “Foi a mais alta condecoração portuguesa atribuída a Isabel II”, recordou. A mãe do atual rei recebeu-a em 1993, do Presidente Mário Soares.
Carlos III e Marcelo Rebelo de Sousa observaram o original do Tratado de Amizade assinado a 16 de junho de 1373, na companhia de Maria João Rodrigues de Araújo, presidente da comissão organizadora dos festejos dos 650 anos da mais velha aliança
“Só em casos excecionalíssimos é dada a chefes de Estado de pátrias às quais devemos a nossa defesa”, explicou. Os militares recebem-na por atos heroicos ou para coroar uma carreira militar, os civis só raramente. O Presidente recordou a ajuda dos ingleses à luta de Portugal pela independência nos séculos XIV, XVIII, XIX, “momentos cruciais”.
Bancos devem remunerar melhor os depósitos
O chefe de Estado reconheceu que a decisão do Banco Central Europeu (BCE) de voltar a subir a sua taxa de juro de referência em 0,25 pontos, para 3,5%, é má notícia para as famílias. “Uma subida de 0,25, que é pequena, mas é uma subida que já se esperava, não deixa de ser negativo, porque tem reflexo nas nossas taxas de juro internas em termos, nomeadamente, de crédito”.
Marcelo realçou, porém, “um primeiro sinal” de que a tendência possa inverter-se: a Reserva Federal Americana resolveu não mexer na sua taxa diretora. “Se não em julho, em setembro o BCE e outros bancos centrais podem acompanhar, não aumentam mais.”
Assinalando como positiva a “ligeira descida da inflação entre os países europeus”, Marcelo sublinhou que “Portugal, curiosamente, não segue a linha da generalidade da Europa”. A descida da inflação é “um bocadinho mais rápida do que no centro e norte da Europa, e o crescimento é superior”.
Neste contexto, o Presidente voltou a defender que a banca “remunere melhor os depósitos” e “perceba o impacto” que a inflação e a subida das taxas tem sobre o cidadão comum. Recordado de que o Banco de Inglaterra seguiu a linha do BCE e não a da Fed americana, o Presidente fala de “uma má notícia e uma boa notícia”.