Marcelo celebra Aliança Luso-Britânica em Londres e condecora Carlos III
Carlos III e Marcelo Rebelo de Sousa observaram o original do Tratado de Amizade assinado a 16 de junho de 1373, na companhia de Maria João Rodrigues de Araújo, presidente da comissão organizadora dos festejos dos 650 anos da mais velha aliança
TOLGA AKMEN/LUSA
Marcelo Rebelo de Sousa e Carlos III assistiram a uma cerimónia religiosa com grande simbolismo português e britânico. Presidente da República atribuiu ao rei a condecoração que Portugal conferiu há 30 anos à sua mãe, Isabel II. Domingo os festejos são em Lisboa, com atuação das forças aéreas portuguesa e britânica
O 650.º aniversário da Aliança Luso-Britânica foi celebrado esta quinta-feira, com solenidade, em Londres. O Presidente da República e o rei Carlos III assistiram a uma cerimónia religiosa com pompa militar e grande simbolismo. Domingo, dia 18, haverá um espetáculo aéreo em Lisboa a assinalar a efeméride (mais informação abaixo).
Recebido pelo monarca britânico no Palácio de Buckingham, Marcelo Rebelo de Sousa condecorou o anfitrião com o Grande-Colar da Ordem da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito. A mesma condecoração fora atribuída, 30 anos antes, a Isabel II, mãe a antecessora do chefe de Estado do Reino Unido.
Na residência oficial de Carlos III, ambos passaram em revista uma Guarda de Honra militar. A parte portuguesa esteve composta por um pelotão com 18 militares dos três ramos, um oficial do exército como porta-estandarte nacional e uma oficial da marinha como comandante da força. A força britânica, de dimensão idêntica, incluiu um pelotão da companhia Nijmegen dos Guardas Granadeiros. Os hinos nacionais foram executados pela Banda Militar dos Guardas Galeses.
O serviço religioso anglicano de Ação de Graças decorreu na Capela da Rainha, no Palácio de Saint James, noutro tempo frequentada pela rainha Catarina de Bragança (1638-1705), casada com o rei inglês Carlos II, que ali assistia a celebrações católicas quando o país já era protestante. O seu brasão, unido ao de Carlos I, em talha, permanece de forma destacada por cima do altar e na galeria, representando os laços próximos entre a família real britânica e Portugal.
O rei Carlos III marcará presença numa cerimónia militar e religiosa
No exterior da igreja estavam formados dois destacamentos militares e uma banda, incluindo um grupo montado do regimento da Household Cavalry e um grupo apeado da Guarda Galesa. Marcelo e Carlos chegaram juntos de automóvel do Palácio. Ao atravessarem a porta da capela, ladeados por alas com militares dos dois países intercalados, foram anunciados por quatro trompetistas oficiais, fazendo levantar a assistência de cerca de 100 pessoas.
Leituras e música em português e inglês
Estavam presentes os ministros dos Negócios Estrangeiros de Portugal e do Reino Unido, respetivamente João Gomes Cravinho e James Cleverly, e o chefe do Estado-maior General das Forças Armadas portuguesas, general Nunes da Fonseca. Outros convidados foram o embaixador do Reino Unido em Portugal, Christopher Sainty, a embaixadora de Portugal na UNESCO, Rosa Batoréu, bem como os duques de Bragança e de Wellington.
A cerimónia incluiu leituras em inglês e português e música de autores dos dois países, com peças de William Byrd, Thomas Tomkins, Vicente Lusitano, Diogo Dias Melgás e Manuel Rodrigues Coelho. As composições vocais foram interpretadas pelos coros do Queen’s College da Universidade de Oxford e da Capela Real.
Culminou assim o programa de atividades Portugal-UK 650, iniciativa não oficial sem fins lucrativos para festejar 650 anos da Aliança Luso-Britânica, com o patrocínio dos dois chefes de Estado. Num breve discurso, a presidente da organização, Maria João Rodrigues de Araújo, afirmou que o objetivo foi “celebrar e promover a história comum” e “escrever novos capítulos de cooperação”.
O rei britânico e o Presidente português na Capela da Rainha, em Londres
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Marcelo, que na véspera jantara com membros da comunidade portuguesa no Reino Unido, dirigiu-se em seguida a uma receção na Apsley House, antiga residência do duque de Wellington. Ali, foi recebido pelo descendente do homem que ajudou Portugal a travar as invasões francesas no século XIX. Carlos III fez-se representar pelo príncipe Ricardo, duque de Gloucester, primo direito de Isabel II.
Rei e Presidente apreciaram original do Tratado de Amizade
“Acredito sinceramente que cumprimos todos os objetivos a que nos propusemos. Estabelecemos projetos e colaborações de longo prazo que irão cimentar os laços de amizade entre os cidadãos de ambas as nossas Nações, assegurando que a Aliança Anglo-Portuguesa, a mais antiga Aliança ainda em existência, continue a prosperar”, vincou Maria João Rodrigues de Araújo durante a cerimónia na Capela Real.
À saída, o rei e o Presidente observaram o original do Tratado de Londres de 1373, habitualmente guardado no Arquivo Nacional britânico. Carlos e Marcelo cumprimentaram algumas das pessoas envolvidas nas celebrações. Antes de partirem, trocaram umas palavras com Alexandre, de 13 anos, um lusodescendente membro do Coro da Capela Royal. “Perguntei se tinha gostado da peça [de Vicente Lusitano] e ele disse que sim”, contou à Lusa. Os seus pais e toda família, na Madeira, estavam entusiasmados por o jovem poder falar com o rei e o Presidente.
O diretor do Coro da Capela Real, Joseph McHardy, salientou a ajuda que Alexandre deu para aperfeiçoar a pronúncia do hino nacional português, interpretado no final da cerimónia, com o hino britânico.
Os chefes de Estado português e britÂnico com o reverendo Paul Wright, capelão do rei, que presidiu às cerimónias religiosas
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Pouco depois, já sem os chefes de Estado presentes, diplomatas e outros convidados conversaram descontraidamente à porta da capela, enquanto curiosos aproveitavam para observar o seu interior. Este edifício só está aberto ao público para missas semanais entre Domingo de Páscoa e o último domingo de julho, inclusive, sempre às 11h15.
O Tratado de Paz, Amizade e Aliança assinado em 16 de junho de 1373 por Eduardo III de Inglaterra e o rei Fernando I de Portugal formaliza a aproximação dos dois países propiciada pelo Tratado de Tagilde, celebrado entre o Fernando I e os emissários do duque de Lencastre, João de Gante, filho de Eduardo III.
Além de uma declaração de “amizade verdadeira, fiel, constante, mútua e perpétua”, o texto determina que nenhuma das partes deve fazer amizade ou favorecer e ajudar inimigos ou rivais e deve ajudar os aliados se algum dos territórios de qualquer um dos reis for invadido. A aliança foi renovada no Tratado de Windsor, de 1386, e por outros ao longo dos séculos.
Este domingo, a celebração continua em Lisboa, com um espetáculo conjunto dos ilustres Red Arrows, do Reino Unido, e da Força Aérea Portuguesa. Os Red Arrows e F16 portugueses vão atravessar em formação o rio Tejo, a Avenida da Liberdade e o Parque Eduardo VII, para ilustrar a relação bilateral entre Portugal e Reino Unido neste 650º aniversário da Aliança Luso-Britânica.