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Forbidden Stories: o homicídio do jornalista Rafael Moreno e uma revelação sobre milhões desviados na Colômbia

Seis meses depois de o jornalista colombiano Rafael Moreno ter sido assassinado, 30 jornalistas, coordenados pelo consórcio Forbidden Stories, prosseguiram as investigações que ele tinha em curso sobre alegações de corrupção em larga escala na província de Córdoba, revelando um sistema de compadrio nos contratos de obras públicas

Por Paloma Dupont de Dinechin

"Se tiveres de me matar, mata-me. Mas digo-te frontalmente: não me vais silenciar". Foi com estas palavras, proferidas num vídeo de 37 minutos transmitido em direto no Facebook a 21 de Julho de 2022, que o jornalista colombiano Rafael Moreno desafiou os seus detractores e previu a sua própria morte.

No vídeo, Rafael veste um chapéu e um polo branco com o nome dos seus meios de comunicação online: Voces de Córdoba. Durante mais de meia hora, o jornalista de investigação, que para além de gerir duas páginas do Facebook tinha também recentemente aberto um bar e churrasqueira para fazer face às despesas, denuncia vigorosamente a corrupção na região de Córdoba. Esta região, a norte de Medellín, é uma das mais pobres e violentas partes do país — e um corredor estratégico para o tráfico de droga. É também uma das mais corruptas.

Lendo do seu ecrã, Rafael cita contratos artificialmente inflacionados, projetos de obras públicas inacabados e empresas que lucram com a corrupção desenfreada e o desvio de fundos. “Eles roubam do município”, diz ele num ponto do vídeo. “Alguém devia pôr o dedo na corrupção nesta região.”

Desde os acordos de paz de 2016 entre o governo colombiano e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (ou FARC pelas suas iniciais espanholas), Rafael tinha feito da corrupção e do narcotráfico a sua especialidade. Uma obsessão, mesmo. Voces de Córdoba, lançado em 2018, não poupou ninguém — desde políticos locais a empresas mineiras e grupos paramilitares. Por vezes a roçar o excesso, o tom de Rafael e o número crescente de seguidores na sua página — cerca de 56 mil — não passaram despercebido.

Três semanas antes de publicar o vídeo, Rafael encontrou uma nota anónima na sua motocicleta, acompanhada de uma bala, que segura em frente da câmara. “Agora sabes que conhecemos todos os teus movimentos, para onde vais, quando acordas, quando vais dormir”, lê ele. "Sabemos onde vais beber em Montelíbano [a cidade onde ele viveu], sabemos tudo sobre ti e não te vamos perdoar pelo que estás a fazer. Portanto, agora já sabes, meu amigo, que o resto do carregador desta 9 mm [arma] está pronto para ti.”

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