Irão executa antigo vice-ministro da Defesa condenado por espionagem
Alireza Akbari, cidadão britânico-iraniano, e antigo vice-ministro da Defesa do Irão, foi enforcado em Teerão acusado de espionagem para o MI 5, os serviços secretos do Reino Unido
Alireza Akbari, cidadão britânico-iraniano, e antigo vice-ministro da Defesa do Irão, foi enforcado em Teerão acusado de espionagem para o MI 5, os serviços secretos do Reino Unido
A Justiça iraniana anunciou este sábado ter executado, apesar dos protestos da comunidade internacional, o antigo vice-ministro da Defesa Alireza Akbari, condenado há três dias por espiar para os serviços secretos do Reino Unido. Numa decisão que o primeiro-ministro britânico Rishi Sunak já descreveu como “um ato insensível e cobarde, realizado por um regime bárbaro que não respeita os direitos humanos do seu próprio povo”.
Segundo a agência do poder judicial iraniano, designada como Mizan, Alireza Akbari, que ocupou o cargo de vice-ministro da Defesa durante o mandato do ex-Presidente reformista Mohamed Katami (1997/2005), foi executado por enforcamento.
Akbari tinha sido, na quarta-feira, condenado por um tribunal por "espiar para o MI6", os serviços secretos britânicos no exterior, alegadamente em troca de 2,16 milhões de euros.
O condenado de 61 anos, que foi detido há três anos, recorreu da sentença para o Supremo Tribunal Federal, que rejeitou o recurso.
O Ministério do Interior iraniano descreveu Akbari, que tinha dupla nacionalidade, britânica e iraniana, "como um dos casos mais importantes de infiltração" da segurança do país persa.
As autoridades iranianas divulgaram um vídeo, visivelmente editado, onde Akbari discutia as alegações, semelhantes a outros vídeos que dissidentes têm descrito como confissões forçadas.
Na sexta-feira, tanto o Reino Unido como os Estados Unidos criticaram a condenação de Akbari à morte. “Essa decisão não não ficará sem resposta", disse o ministro dos Negócios Estrangeiros britânico, James Cleverly, em comunicado, acrescentando que o Reino Unido vai convovar o embaixador iraniano em Londres para dar conta do protesto.
Já p vice-porta-voz do Departamento de Estado norte-americano, Vedant Patel, disse que Akbari "foi drogado, torturado enquanto estava sob custódia, interrogado por milhares de horas e forçado a fazer confissões falsas". “Isso não ficará sem contestação”, disse o secretário de Relações Exteriores britânico, James Cleverly, em um comunicado, acrescentando que a Grã-Bretanha convocaria o principal diplomata de Teerã em Londres “para deixar claro nosso desgosto pelas ações do Irã”. O Ministério das Relações Exteriores disse anteriormente que fez lobby em Teerã pela libertação de Akbari, mas não obteve acesso consular. O Irã não reconhece a dupla cidadania.
O anúncio da execução de Akbari ocorre numa altura em que o Irão está a ser abalado por uma vaga de protestos, na sequência da morte de uma jovem iraniana curda que estava sob custódia policial.
Mahsa Amini, de 22 anos, foi agredida e detida na rua em Teerão a 13 de setembro pela chamada polícia da moralidade (responsável pelo cumprimento do rígido código de vestuário feminino), porque embora envergasse o obrigatório 'hijab' (véu islâmico) este deixava à vista parte do seu cabelo. Horas depois de detida, foi transportada em coma para um hospital, onde morreria três dias depois.
Entretanto, os protestos dos últimos meses assumiram maiores dimensões e evoluíram, reivindicando agora o fim do regime teocrático designado como "República Islâmica", fundado em 1979.
Teerão tem acusado os Estados Unidos, Israel, Reino Unido, França e Alemanha de estarem por trás dos protestos, nos quais quase 500 pessoas morreram na sequência da repressão policial.
Pelo menos quatro pessoas foram executadas por alegado envolvimento nas manifestações e 17 foram condenadas à morte.
Segundo a Amnistia Internacional (AI), o Irão é um dos países que mais executa pessoas.
Em maio do ano passado, a organização denunciou que o Irão registou, em 2021, o número de execuções conhecido mais alto desde 2017, indicando que o país tinha executado pelo menos 314 pessoas, uma subida em relação às pelo menos 246 mortes registadas em 2020.
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