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Uma saída lucrativa do Governo: Boris Johnson recebeu mais de um milhão de euros em discursos, dos quais 250 mil por vir a Portugal

Uma saída lucrativa do Governo: Boris Johnson recebeu mais de um milhão de euros em discursos, dos quais 250 mil por vir a Portugal
Leon Neal/Getty Images

Desde que deixou de chefiar o Governo do Reino Unido, Boris Johnson recebeu mais de um milhão de euros para ser orador em iniciativas em várias partes do mundo, apesar de as regras ditarem que devia esperar três meses antes de aceitar funções remuneradas. O nosso país entra no mapa das contas, depois de o ex-governante ter recebido cerca de 250 mil euros para falar num evento internacional da CNN Portugal

No dia 6 de setembro tornava-se oficial: Boris Johnson abandonava o n.º10 de Downing Street, despedindo-se com um discurso em que elogiou o seu mandato e apelou à união em torno da nova primeira-ministra – Liz Truss, que deixou o lugar passados menos de dois meses.

Johnson continua, porém, envolto em polémica. Ao contrário do que recomendam as normas de conduta britânicas, fez trabalho remunerado nos três meses depois de largar o poder. Só em outubro e novembro, recebeu mais de um milhão de libras (quase 1,2 milhões de euros) por compromissos como orador.

Uma das iniciativas que valeram ao ex-primeiro-ministro rendimentos realizou-se em Portugal. O registo de interesses financeiros dos deputados britânicos mostram que Johnson recebeu mais de 215 mil libras (cerca de 250 mil euros) da Televisão Independente S.A. para falar na CNN Global Summit, realizada em Lisboa em novembro. O valor inclui transporte, alimentação e alojamento do político e de dois membros da sua equipa.

Johnson também aceitou 261 mil libras (302 mil euros) do jornal indiano “Hindustan Times” para um discurso e receção VIP, além de 278 mil libras (321 mil euros) da empresa de investimentos e consultoria nova-iorquina Certerview Partners e 276 mil libras (319 mil euros) do Conselho de Agentes e Corretores de Seguros (CIAB, na sigla inglesa) de Washington, enquanto orador.

Na fila de cima (esq.-dir.): duque de Devonshire pintado por Thomas Hudson; conde de Bute pintado por Joshua Reynolds; conde de Shelburne pintado por Jean-Laurent Mosnier; George Canning pintado por Thomas Lawrence; fila de baixo: visconde de Goderich pintado por Thomas Lawrence; Andrew Bonar Law pintado por James Guthrie; Alec Douglas-Home pintado por Henry Mee; foto de Liz Truss
D.R.

Infrações sem consequência

Quando deixou de ser primeiro-ministro, Johnson recebeu permissão para trabalhar como orador através da agência Harry Walker. Porém, o gabinete para a comissão consultiva sobre reuniões de negócios (ACOBA, na sigla inglesa) — que dá aconselhamento sobre novos trabalhos assumidos por antigos ministros e altos funcionários públicos depois de saírem dos cargos — escreveu que deveria esperar três meses até exercer funções. As regras abrangiam também a não divulgação de informação privilegiada e o impedimento de fazer lóbi junto do Governo britânico durante dois anos.

Segundo o jornal “The Guardian”, Johnson já violara as regras da ACOBA, ao não declarar que escrevia uma coluna no diário “The Daily Telegraph” quando deixou de ser ministro dos Negócios Estrangeiros. Em caso de incumprimento, não são aplicadas sanções formais, o que tem motivado pedidos de reforma do organismo ao longo dos anos.

“O sistema regulatório para escrutinar o pós-emprego público de antigos ministros e funcionários públicos é ineficiente e não inspira confiança nem respeito ao público. O nosso inquérito revelou várias falhas no processo de vigilância do ACOBA, dando-se atenção insuficiente a princípios que deviam reger reuniões de negócios”, descreveu em 2017 um relatório do Comité de Seleção da Administração pública.

No início deste mês, houve deputados a pedir que os políticos enfrentem ações judiciais se não seguirem as regras ao saírem de cargos públicos, escreveu “The Independent”. O Comité de Assuntos Constitucionais e Administração Pública teceu recomendações para reforçar os critérios, no seguimento de escândalos como o ‘Partygate’.

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